15 de abr. de 2012

O Crime da mala em 1928.



Em 7 de outubro de 1928, 16 horas da tarde. O transatlantico Massilia, de bandeira francesa, pertencente a companhia Chargeurs Réunis está atracado no porto de Santos, São Paulo. Quase toda a bagagem já está no porão do navio. O tempo é turvo e chuvoso, chuviscava e fazia frio.


Flowy Delphonse, funcionário encarregado de receber as bagagens no porão do navio tomou um susto, quando uma grande mala de madeira escura (que na verdade era um grande baú) desprendeu-se da rede do guindaste e caiu com violência no chão. Devido aos seu peso, uma fresta foi aberta. Delphonse tentou endireitar a mala, mas, ao aproximar-se, sentiu um odor nauseabundo, reparou também um filete vermelho escuro e denso: parecia sangue. Assustado e confuso, decidiu chamar  um oficial de bordo, este por sua vez alertou ao comandante do navio, Paul Chamersson. O comandante do navio observou a situação e decidiu comunicar o ocorrido às autoridades policiais. A mala foi novamente levada ao cais.

Viajantes e marinheiros mercantes cercam a mala suspeita.
Loucos anos 20.


Na década de 20, São Paulo já era a cidade do progresso, atingindo seus períodos áureos de industrialização e de crescimento econômico, nessa época já haviam mais de 580 mil paulistanos. A produção cafeeira sofre uma crise, o que causa certas incertezas, mas nada que abale o modo de vida da elite paulistana . Em 22, o Teatro Municipal de São Paulo foi palco da Semana de Arte Moderna, que reuniu diversos intelectuais e artistas de vanguarda.


Avenida Paulista em 1928.
Como as outras grandes cidades do mundo, a moda em São Paulo era a européia, principalmente a de Paris: As mulheres usavam os cabelos curtos, sobrancelhas raspadas e pintadas à lápis. O corpo frágil, pele branca e estilo melindrosa era o padrão de beleza. 


A moda nos anos 20
O vídeo abaixo, feito pela VS produções, reúne inúmeras imagens da cidade de São Paulo durante a década de 20:


O porto de Santos é, provavelmente, tão antigo quando o Brasil. Os cem primeiros metros do porto haviam sido construídos em 1901. O trafego no porto foi oficialmente "inaugurado" em fevereiro de 1892, quando os 260 primeiros metros foram entregues à navegação mundial. O primeiro navio estrangeiro a aportar foi o inglês Nasmith. Nesse ano, a atividade no porto de Santos alcançou 124.734 toneladas de produtos transportados. As obras no porto continuaram e, em 1909 o cais já media 4.720 metros, no auge da produção cafeeira, o que resultou nes maiores quantidades de café a serem importados. Na década de 20, o porto já contava com 200 metros metros quadrados de armazéns e pátios. A economia brasileira estava em euforia, o que elevou o preço do café e aumentou o trafego importador.


Trabalhadores embarcando sacos de café, em um navio, no porto de Santos.
O Porto de Santos é o principal porto brasileiro.


Descoberta no Massília.


O delegado regional santista,  Armando Ferreira da Rosa, atendeu ao chamado de Chamerson e seguiu com uma equipe de agentes para o Porto de Santos. Victor Barbosa, major da Polícia Marítima também seguiu ao local. Os policiais decidiram que a mala deveria ser aberta. Um carpinteiro de bordo foi chamado. Ele cortou a corda de juta e o barbante que envolviam a mala, arrombou a fechadura de ferro e abriu a mala. O odor nauseabundo se espalhou. Haviam algumas peças de roupa, ao tira-las, descobriu-se algo terrivel, na época descrito como a "visão do Appocalypse": Dentro da mala, havia um cadáver em decomposição.
Dentro da mala, o cadáver de uma mulher. A mala tinha 50 cm de altura por 50 de largura. O cadáver repousava sobre dois travesseiros com fronhas verdes e amarelas.


O cadáver era de uma mulher. Estava semi-nua, coberta com um vestido de seda, um casaco de lã e um chapel. A cabeça da morta estava inclinada para o canto da mala, o olho direito estava desorbitado e as pernas seccionadas um pouco acima dos joelhos. Outro detalhe que chamou a atenção dos policiais: O cadáver havia sido coberto com pó de arroz e a mulher em questão estava grávida aparentemente de 6 meses, abortando post-mortem, dentro da mala.


No exterior da mala, havia uma etiqueta com o nome Ferrero Francesco. Imediatamente, o comandante Charmesson  requisitou a lista de todos os passageiro, incrivelmente, nenhum Ferrero Francesco embarcou naquele navio. Paul Charmesson e os policiais decidiram fazer perguntas, na tentativa de saber como a mala foi despachada, mas nenhuma pista ou testemunha foi encontrada.


Horas depois, o navio seguiu viagem para o Rio de Janeiro. A mala foi levada em uma padiola, para o cemitério da filosofia, no bairro do Saboo, Santos.


No necrotério


Era inicio de noite, roberto Catunda e Hugo Santos Silva, médicos legistas começaram a examinar o corpo da vítima. A mulher era uma jovem, com idade entre 20 e 25 anos, pele clara, cabelos castanhos claros cortados a la carçonne, não estava com nenhum documento. Pela aparência, parecia tratar-se de uma estrangeira (talvez francesa ou italiana).


A morte ocorreu em decorrência de esganadura ou sufocação. O pescoço da moça estava quebrado, as pernas seccionadas logo acima do joelho, ainda calçavam as maisas pretas, presas por ligas elásticas, logo abaixo do joelho. A lesão no pescoço e a secção nas pernas foram causadas post-mortem, para que o cadáver coubesse na mala.


Um fato estranho era a grande quantidades de materiais no interior da mala, principalmente roupas, desde panos de pratos à inúmeros paras de meias. Havia também um frasco de perfume vazio, uma caixa de pó de arroz CotyIl Piccolo Cattolico". Duas folhas estavam entre sobre os seios do cadáver.


haviam também uma seringa de borracha (usada, na época, para a higiene íntima feminina), duas flores vermelhas, almofadas e um par de sapatos, um bolsa vazia, uma camisola, cujo um pedaço foi cortado à tesoura (provavelmente por conter iniciais da vítima) e um chapel fabricado em Paris.


A mala era, na verdade, um baú de madeira, cor castanha e riscos pretos. Provida de tampa articulada. No momento em que estava sendo içada, estava bem atada com uma corda de juta.


A etiqueta que havia chamado a atenção do comandante Chamersson pertencia à compahia Chrageus Réunis. O nome do suposto dono, Ferrero Francesco, estava escrito à lápis, ele teria viajado na terceira classe. Uma etiqueta, no outro lado da mala, pertencia a São Paulo Railway, empresa que tinha o monopólio do transporte ferroviário. O assassino havia viajado de trem.


Investigação na estação de Valongo.
A bela estação de Valongo.


O delegado Ferreira da Rosa decidiu começar uma investigação pela estação de Valongo, em Santos. Percorreu guichês e checou horários, sempre perguntando sobre alguém com uma garnde mala de madeira. um funcionário da S.P. Railway lembrou-se de um sujeito alto, louro, magro e de sotaque italiano. ele estava bem trajado, usava um terno azum marinho e botinas amarelas. O sujeito se comportava de maneira estranha e ficou perto da mala o tempo todo.


Armando Ferreira da Rosa, delegado de Santos.
Depoimentos no rio de Janeiro.


Antes de chegar ao Rio, Chamesson soube que três passageiros romenos foram vistos de posse da mala. Eles haviam recebido dinheiro de um estranho para levar a bagagem até o guindaste. Paul Chamersson comunicou-se por telegrafo com o delegado de Santos. Ferreira da Rosa, por sua vez, se comunicou com as autoridades do RJ, para que detivessem os romenos. Etephan Lizine, Catherina Juckesbske e Armant Pantelunem foram detidos e prestaram depoimentos. Ambos contaram a mesma histórias: Foram "contratados" por um sujeito louro, alto, magro e de sotaque italiano. Um casal decidiu desistir da viagem, e logo os dois se tornaram suspeitos. depois de alguns depoimentos, foram liberados. Flowy Delphonse,  o funcionário que descobriu a mala em Santos também depôs, ele disse:


"Quando acontece isso (a queda de uma mala), par nós, homens do mar, só pode dizer duas coisas: Ou é contrabando, ou mal presságio..."

A descrição dos Romenos era idêntica à do funcionário da estação de Valongo. Outras pessoas afirmaram ver um sujeito, com as mesmas características, fugir do cais, logo que a mala foi aberta. Em Santos, hotéis e pensões foram vasculhados, os policiais descreviam o suspeito, mas não encontraram ninguém. De volta à estação de Valongo, os policiais conseguiram uma nova pista...


Giuseppe Russo.


Um carregador havia conversado com o suspeito assim que ele desceu de um trem, vindo de São Paulo. O carregador havia chamado um colega, para indicar um local onde o dono da mala poderia pernoitar: A pensão Roma, centro de Santos. Alguns agentes foram até o endereço e descobriram que o suspeito havia se hospedado ali com o nome de Giuseppe Russo. Ele passou a noite na pensão e saiu cedo. Na estação, os investigadores descobriram que o suspeito havia comprado uma passagem de ida e volta, mas ainda não tinha tirado o bilhete de volta. A policia de São Paulo foi inteirada no caso.
Funcionário da S P Railway que conversou com o suspeito.


Origem da mala.


No dia seguinte, os jornais de toda São Paulo traziam detalhes do "crime da mala". Um dos principais deles era o Folha da Manhã, pertencente ao grupo Folha. As matérias traziam a foto do cadáver no interior da mala, com um conteúdo um tanto sensacionalista (as matérias policiais da época eram todas assim). O comerciante Domingos Mosci era dono de uma fábrica  de malas na Avenida São João, 111, São Paulo, Capital. ele reconheceu a mala e a corda de juta, que teria vendido alguns dias antes. Preocupado, decidiu procurara a polícia, levando consigo Plínio Moreira, um menino que trabalhava em sua fábrica. Plínio teria entregue a mala ao suspeito.


Apartamento 5.

Rua da Conceição, São Paulo, em 1928. no apartamento 5, do número 34, a mala fúnebre foi entregue.

Carvalho Franco, delegado regional de São Paulo, ouviu atentamente o depoimento. Plínio havia entregado a mala no dia 5 de outubro, na Rua da conceição, 34, apertamento 5, centro. Carvalho franco entrou em contato com Ferreira da Rosa, e os dois decidiram trabalhar em conjunto.Um grupo de policiais foi até o endereço indicado por Plínio. Lá, eles localizaram o dono da casa de apartamentos, como eram chamados os prédios pequenos no inicio do século XX: Ramiro Franco e sua mulher, Maria Citrângulo de Oliveira, além da filha do casal.


Ramiro Franco.
Os policiais citaram o nome Giuseppe Russo e descreveram o suspeito, mas nenhum dos dois conheciam ninguém com esse nome. Carvalho Franco decidiu descrever a vítimas. Maria Citrângulo lembrou-se de imediato: A mulher era Maria Mercedes Féa Pistone - A Mariuccia -  italiana, vinda da cidade de Canelli, 21 anos. Maria Citrângulo disse que o marido de Mariuccia também era italiano, seu nome era Giuseppe Pistone, 31 anos, também nascido em Canelli.


Maria e Giuseppe.


Giuseppe (na época, tratado por José pelos jornais) Pistone e Maria Mercedes Féa se conheceram no navio Giulio Cesare, em dezembro de 1926. Tanto Pistone, quanto Maria Féa iam para a Argentina. Ele ia pra Buenos Aires, depois de passar oito meses com sua mãe em sua cidade natal, Canelli.


Pistone morava na argentina há três anos. tinha 150 mil liras, que recebeu da herança do pai, Carlos Pistone, vinicultor e fazendeiro. Pistone não gostava muito de trabalhar, preferia fazer negócios com produtos italianos, em especial, vinhos.


Giuseppe Pistone m 1923.


Giuseppe estava entediado na viagem: sentia-se sozinho, sem amigos e estava ansioso para chegar ao porto argentino. Porém a viagem demoraria muito, pois o navio ainda faria paradas, uma delas em Barcelona, Espanha. Numa manhã, 15 de dezembro, ainda entediado, Pistone decidiu caminhar pelo tombadilho. enquanto observava os passageiros da terceira classe, conteve seu olhar para uma mulher que, mais tarde, ele descreveria como "uma figurinhas encantadora": A moça era Maria Mercedes Féa, 20 anos, olhos claros, pele alva, corpo frágil e muito atraente. Maria era apelidada carinhosamente por Mariuccia e também nasceu em Canelli. 


Praticante de balé clássico, pianista e com os estudos concluídos, Maria Féa estava indo visitar a mãe e os dois irmãos, José e Ester. Ester Féa era cantora lírica, José era simpatizante do partido socialista. Pistone decidiu conquistar Maria Féa. a moça parecia está também interessada nele. Eles viajavam em classes diferentes (Pistone na segunda e Maria Féa na terceira), mediante ao pagamento de mil liras, Pistone consegiu transferir Mariuccia para a mesma classe que ele, mas os dois viajaram em cabines separadas.


O navio chegou em Buenos Aires na passagem de ano de 1926 para 1927. Maria Féa encontrou a mãe e os irmãos no porto, nesse momento, o casal se separou. nas despedida, pistone pediu o endereço da família Féa, para uma casualidade. Pistone seguiu para Mar Del Plata, onde continuou a viver de herança. Ele seria preso, acusado de estelionato e falsificação.
Maria Mercedes Féa.


Pistone decidiu encontrar Maria Féa em meados de 1927. A família dela não gostou muito da aproximação dos dois, pois Pistone apresentava um comportamento, por vezes, estranho. Uma vez, sumiu por um tempo, voltando para a casa de Maria vestindo farrapos. Havia suspeitas que ele era usuário de cocaína. Outro fato estranho, era que Pistone tinha uma coleção de navalhas, dizia ele, para aprender o ofício de barbeiro.


Pistone e Maria Féa trocaram alianças em fevereiro de 1928, contra a vontade da família. eles viajaram para Canelli, em lua de mel, à bordo do Navio Conte Biancamano, onde tiraram uma foto que se tornou celebre.


Giuseppe Pistone e Maria Féa posam para a foto que se tornaria célebre a bordo do Conte Biancamano.

O casal ficou em Canelli até julho de 1928 e voltaram à Argentina, a bordo do vapor Conte Rosso. Chegaram em Buenos Aires em agosto. Maria já estava grávida de quatro meses e estranhou o clima argentino. O casal mudou-se para Santa Fé, para a Cidade do Rosário. Maria Fé também não se adaptou. Pistone decidiu então viajar com a mulher para o Brasil. viajaram pelo vapor Alianza, desembarcaram no porto de Santos em agosto e de lá foram para são Paulo. Pistone não escolheu São Paulo por acaso, ele conhecia algumas pessoas na cidade, com as quais desejava manter contato. O casal não falava português, e precisava de toda ajuda possível. O dinheiro também começava a se esgotar: da herança de Pistone, restaram apenas 20 mil liras. Hospedaram-se no Hotel d'Oeste, no Largo São bento, centro de São Paulo. Giuseppe se comunicou com um amigo, o também italiano Aldo Pinone, morador do bairro da Barra Funda. Pistone também travou relações com Eugênio Grasso, outro italiano, dono de uma pensão na Av. Ipiranga. Pistone foi apresentando a um negociante, mas os dois não chegaram a um acordo.


Dias depois, Giuseppe procurou um primo, Francesco Pistone, dono de um comercio de vinhos e salames, na rua da Conceição, 58, centro de São Paulo. Giuseppe contou que iria receber parte de sua herança, e com o dinheiro, queria associar-se a ele no comércio de vinhos. Toda a herança a qual Giuseppe tinha direito já havia sido entregue, a história do dinheiro era apenas mentira.


Pistone e Maria Féa em Buenos Aires, após voltarem de Canelli.


Ficou combinado que Giuseppe trabalharia no setor de armazém, assim poderia conhecer melhor o movimento da casa. Francesco ajudou na mudança do casal. Pistone e Maria deixaram o Hotel d' Oeste e se instalaram no apartamento 5, terceiro andar da "casa de apartamentos", na Rua da conceição, 34, centro de São Paulo. A residência era próxima ao trabalho de Pistone. Parte que havia sobrado da herança, foi usada para comprar a mobília. o restante, Pistone e Maria Féa decidiram guardar aos cuidados de Francesco: eles tinham medo que, se o dinheiro ficasse em suas mãos, fosse todo gasto.


"Casa de apartamentos", número 34 da Rua da Conceição.  Giuseppe Pistone e Maria Féa moravam no terceiro andar.


Todos os das, Pistone seguia uma rotina: Saia do trabalho na hora do almoço, passava em casa e apanhava a mulher, de lá, iam almoçar em um restaurante próximo. Depois, Pistone novamente acompanhava a mulher até o apartamento e voltava para o trabalho. Pistone saia cedo para o trabalho, Mariuccia ficava sozinha. Havia um porteiro e as visitas só podiam entrar com permissão do morador.


A investigação continua.


Carvalho Franco ouviu a descrição da rotina de Pistone e Maria Féa. Ramiro Franco e Maria Citrângulo contaram que, três dias antes, Pistone havia deixado o aposento às pressas. em nenhum momento sua esposa foi vista com ele. Quando Maria Citrângulo perguntou onde estava Mariuccia, Pistone respondeu que ele iria se mudar para a casa de um amigo, Eugênio Grasso, no bairro da Barra Funda e que a esposa já estaria lá. Pistone carregava quatro malas, uma delas, muito pesada. Dois carregadores o ajudavam com a bagagem. Ramiro Franco chegou a brincar: "Do jeito que esta mala está pesada, parece que levas um turco aí dentro!" fazendo uma sinistra alusão a um crime praticado 20 anos antes.


A Mala Sinistra.


Em três de setembro de 1908, no mesmo Porto de Santos, o sírio Michel Trad, 23 anos, bem trajado, embarca no transatlântico Cordillère. Ele era auxiliado por dois robustos homens, que traziam sua pesada mala até o navio. O odor nauseabundo exalado da bagagem de Trad chamou a atenção de um dos funcionários do navio. Indagado sobre o fato, Trad respondeu que trazia comida enlatada, algumas, deterioradas, se destamparam. Trad não foi impedido de embarcar, mas sua mala ficou sob vigia.


Durante a noite, Michel apanhou sua mala no compartimento de bagagens. Sendo visto e seguido por funcionários do navio. Trade tentou atirar a mala no mar, mas foi impedido pela tripulação. Um serralheiro foi chamado e a mala aberta. Dentro, havia um cadáver de um homem, Elias Farah, 38 anos, dono de uma fábrica de calçados, sócio de Trad.


O crime de Trad nunca foi bem esclarecido, pois ele se negava a dizer o motivo. A teoria mais aceita é que o crime foi passional: Trad teria se apaixonado por Carolina Farah, 23 anos, a bela esposa de Elias.


Carolina e Elias Farah (vítima).
Carvalho Franco pediu permissão para ver o apartamento onde morou o casal. Quando a equipe de policiais entrou no apartamento 5, terceiro andar, eles encontraram marcas do assassinato: vestígios de sangue no chão e nas paredes. Indicio que alguém tentou limpar e raspar tudo. A "tragédia da Rua da Conceição", como seria chamado o caso nos próximos meses, estava elucidada: Giuseppe Pistone, italiano de 35 anos, estrangulou (algumas fontes indicam que ele sufocou com um travesseiro) Maria Mercedes Féa, 21 anos, grávida de 6 meses. Só faltavam duas coisas: deter Pistone e descobrir o móvel do crime.


A prisão de Pistone.


Os senhorios do casal foram intimado a prestar um depoimento oficial e também para fazer o reconhecimento do cadáver de Maria Féa. antes porém de deixar a casa, Maria Citrângulo deu aos investigadores uma preciosa pista: um endereço de um a amigo de Pistone, para onde as cartas escritas para o casal eram enviadas, no Bairro da Barra Funda.


Carvalho Franco e os policiais foram até a Estação da Luz, a mais ou menos 500 metros da residência onde morou o casal. como o assassino havia andado de trem, seu ponto de partida, com certeza, seria a Estação da Luz.

Estação da Luz na década de 20.

O delegado ouviu motoristas e funcionários que trabalhavam nas proximidades da estação, localizando duas pessoas que tiveram contato com o assassino: o balanceiro Augusto Fernandes e Isolino Coutinho, despachante da estação da Luz. Isolino havia vendido a passagem à Pistone, e também havia pesado e despachado a mala com o cadáver de Maria Féa. Isolino e Augusto guardaram uma impressão em comum: a mala cheirava muito mal e estava coberta de moscas, "como os estrangeiros costuma encher a as malas de comida, imaginei que ali continha alimento estragado!", disse Coutinho.
José Carvalho franco, delegado regional de São Paulo.
Os funcionários da estação citaram um fato curioso: sozinho, pensativo e abatido, o homem louro passou toda a madrugada sentado sobre sua mala, no terminal quase vazio. Os funcionários lembraram ainda que Pistone havia deixado duas bagagens no guarda-malas da estação. o armário foi aberto e as bagagens arrombadas. Carvalho franco também localizou Vicente Caruso, motorista de caminhão que foi contratado por Pistone, para transportar as malas.


No inicio da tarde, carvalho franco seguiu para a Rua barra Funda, 88, centro de são paulo, endereço indicado por maria Citrângulo. ali morava João Perroti, amigo de Pistone. A mulher de Perrot, cujo o nome também era Maria (Féa, Citrângulo e Perroti... como tem marias nessa história) atendeu os policiais. ela custou a acreditar que Pistone estava sendo procurado por assassinar a esposa. Seu marido não estava em casa, mas ela havia recebido uma carta endereçada a Pistone. imediatamente entregou a carta ao delegado, com esperança de que ela pudesse trazer alguma pista sobre o paradeiro de Pistone.


Quando perguntada sobre em quais locais Pistone poderia está, Maria Perroti pensou na Pensão Grasso, na Avenida Ipiranga, 34, centro de são Paulo. Acompanhando os agentes, Maria Perroti foi até lá.


Em frente ao endereço, os policiais viram um carro parado, decidiram esperar e observar à distância. Tempos depois, aparece Pistone: Magro, alto, abatido e com barba por fazer. frente a frente com os policiais, Pistone não ofereceu resistência. Entre a descoberta do cadáver, no Porto de Santos, até a prisão do criminoso, se passaram um pouco mais de 24 horas, num dos mais estupendos (sem exageros) trabalhos policiais já realizados na história policial.


A versão de Pistone.


No dia 4 de outubro de 1928, quinta-feira: Pistone saiu mais cedo do trabalho. Ele seguiu direto para a casa, indo buscar a esposa para o almoço. Eram 11h15, quando ele abriu a porta de seu quarto e foi surpreendido pela saída brusca de um sujeito, trajado de branco e usando uma palheta (um chapel de palha muito popular na época). Pistone disse que, nem de longe, desconfiou da esposa, porém, ao entrar no quarto, Viu Maria Féa deitada na cama, semi-nua e lânguida. Maria , aos gritos,  manifestou inocência. Pistone percebeu a situação humilhante: estava sendo traído. Pistone agarrou Maria Féa pelo pescoço e estrangulou-a:


"Maldito foi o dia 4 de outubro, saí mais cedo do serviço e cheguei mais contente em casa com grande vontade de abraçar a minha Mariuccia. Triste encontro: ao abrir a porta do quarto, asi um individuo elegantemente vestido, dando-me um esbarrão que quase me derruba, e desce correndo as escadas. Fiquei atônito, sem saber o que acontecia, vendo minha mulher na cama, quase nua, mal coberta por uma camisola de seda, gritando: "Sou inocente. não fiz nada!". Eu amava muito minha esposa e poderia até perdoa-la, se ela me pedisse. em vez disso, ela continuava a gritar. Me aproximei dela e tapei-lhe a boca com minhas mãos. Falei: "Não grite. Diga apenas a verdade".

 Que Deus me castigue se eu prendi sua boca fechada por mais tempo que leva um fósforo a se apagar. para grande espanto meu, quando larguei, vi que não se mexia mais. chamei-a pelos nomes mais doces, cobri-a de beijos, nada mais adiantou: ela era um cadáver" *


Após assassinar a mulher, Pistone, ainda desorientado, decidiu voltar ao trabalho. De noite, voltou ao quarto. Não sabia como agir como agir. Cochilou abraçado ao cadáver, mas teve pesadelos: fantasmas o espreitavam. Acordou assustado. Viu que a mulher estava gelada e decidiu sair. Passou toda a madrugada vagando, sem rumo, pelas ruas de São Paulo. foi aí que montou um plano: Iria adquirir. uma grande mala, colocar dentro o cadáver da mulher e abandoná-la, sem nenhuma identificadão, na estação ferroviária de Valongo, em Santos. Depois se mataria, afogando-se em um rio ou no mar.


Na manhã de sexta-feira, Pistone comprou a mala e um metro de corda de juta, pois com ela poderia fechar bem a mala. Passou na loja de móveis e vendeu sua mobilia para o dono, Max Tablon (segundo revistas da época, ele era russo), por 300 mil réis. Nesse dia, Pistone não apareceu no trabalho, preferiu esperar a encomenda e planejar os próximos passos de seu plano. A encomenda chegou pouco depois, entregue por Plínio Moreira, o jovem empregado da fábrica.
O Vilipendio.

No inicio da tarde, Pistone põe seu plano em prática. Veste o cadáver parcialmente e o acomoda na mala, porém, a cabeça e as pernas não entram. Pistone força o corpo para baixo, fazendo com que o pescoço se quebre. Logo depois, foi a vez das pernas: Pistone foi ao banheiro, apanhou uma navalha nova (ele tinha três em casa), mas se arrependeu, voltou e apanhou uma mais velha na gaveta. Seccionou as pernas da mulher na altura dos joelhos, a navalha quebrou-se em meia lua. Em seguida Pistone jogou o conteúdo de duas caixas de pó de arroz sobre o cadáver, para atenuar o cheiro de decomposição, esse era o tal pó branco que saia da mala. Atirou inúmeras peças de roupa, pois o corpo solto poderia denuncia-lo, trancou a mala e enrolou a corda de juta. Deu vários nós. Limpou o sangue do apartamento, arrumou suas roupas em outras duas malas menores e seus itens pessoais em uma valise. Tomou banho, e saiu para contratar um caminhão. No inicio da noite, o caminhão de Vicente Caruso encostava próximo a casa de apartamentos. Pistone saiu carregando suas malas. Antes, avisou aos senhorios que sua mobilha já havia sido vendida, e que alguém buscaria. Depois de acomodar sua bagagem no caminhão, Pistone despediu-se do casal.
Navalha usada por Giuseppe Pistone, quebrada em meia lua.

Na Estação da Luz, Pistone adquiriu o bilhete número 4276, ida e volta, primeira classe, pela São Paulo Raiway. Tudo estava dando certo, mas Pistone não contava com um detalhe: O trem só iria partir no dia seguinte. Onde passar a noite? Pistone guardou as malas que continham suas roupas no guarda volumes da estação e passou a noite e a madrugada toda sentado sobre o baú onde repousava o corpo da mulher, no terminal quase vazio.

Na manhã seguinte, Giuseppe entregou sua mala ao balanceiro Augusto Fernandes e aos despachante Isolino Coutinho para que fosse pesada e embarcada. O despachante perguntou o que a mala continha, Pistone respondeu: "roupas". Isolino ficou impressionado com o peso: 87 quilos. Mas aceitou as explicações de Pistone e escreveu "roupas" na guia de despacho.

Isolino Coutinho.

Pistone aguardou o embarque da mala. Viu quando o balanceiro a colocou em um caminhão. A essa altura, a mala estava rodeada de moscas. Isso chamou a atenção do despachante que comentou com outro funcionário da estação. Com medo de ter seu plano descoberto, Pistone aproximou-se dos dois. Sentiu alívio ao saber que os funcionários acreditavam que a mala continha comida podre. Apesar das moscas e do mau cheiro, a mala foi embarcada.

Estação de Valongo.

Era um pouco depois das 21h, quando Pistone desembarcou na Estação de Valongo. Lá, Pistone demostrou curiosidade sobre o movimento no Porto de Santos, queria saber qual o próximo navio a sair. Um funcionário informou que o próximo seria o Massilia, que sairia no dia seguinte. Pistone também conseguiu uma indicação de hotel, onde poderia passar a noite. Guardou a mala no armazém de bagagens da estação de Valongo. 

No dia seguinte, Pistone saiu cedo, pagou 10 mil reis pelo quarto e foi até a estação. O dia estava chuvoso, Pistone chegou à estação às 10h. Procurou ajuda para transportar a mala até o porto. Por deis mil réis conseguiu o tranporte do baú. Em depoimento, mais tarde, o carregador teria dito que a mala havia deixado uma pequena poça vermelha no chão do armazém. Ele tentou alertar o motorista sobre o fato, mas este não deu importância. Pistone pegou carona no caminhão, indo ao lado do motorista. Passou todo o percurso em silêncio, até o armazém 14, onde o Massilia estava atracado.

No desembarque das bagagens, a mala novamente causou estranheza: Agora, além do cheiro e das moscas, dela se desprendia uma regular quantidade de pó branco. Mesmo assim sob suspeitas, a mala foi desembarcada.

Pistone foi até a agencia de viagens, onde comprou uma passagem para a terceira classe e também adquiriu a etiqueta. sem pressa, pediu ao funcionário que escrevesse seu nome e seu endereço na etiqueta: "Ferrero Francesco, Bordeaux, França". O nome e o endereço eram falsos. a etiqueta seria peça fundamental para o plano de Pistone. Tempo depois, Pistone retornou ao armazém 14, com um molho de barbante, que usou para reforçar a corda de juta. O italiano não conseguia aproximar-se da mala sem levar um lenço ao nariz, isso chamou a atenção.

No inicio da tarde, os passageiros começaram a embarcar no navio. Pistone aproximou-se de três estrangeiros (romenos) e disse que precisava se despedir de um amigo, pedindo, mediante ao pagamento de 10 mil réis, que o grupo embarcasse com sua mala. Os três aceitaram. Pistone misturou-se a multidão e acompanhou o embarque das bagagens à distância, em silencio. Viu quando a mala (uma das últimas a ser içada) foi  posta na rede de içamento. nesse momento, respirou aliviado: em breve estaria livre da mala, da mulher morta e de qualquer suspeita. Quando descobririam o cadáver, a mala estaria longe. a vítima não seria identificada e procurariam um tal Ferrero Francesco, um homem que nunca existiu. mas o alívio durou pouco.

Enquanto esperava o navio dar partida, Pistone ficou no cais, e viu quando sua mala foi levada de volta até o porto. Viu a aglomeração de pessoas e a mala ser aberta. Chegou a ser fotografado entre os curiosos:

"Meia hora depois, cheio de espanto, vi a mala voltar para a plataforma do cais. assisti o ajuntamento do povo e assisti a intervenção das autoridades e até a abertura da mala. esperei a mala seguir para o necrotério e depois fui embora"

Pistone vagou sem rumo, durante toda a noite. Havia uma passagem de volta o esperando na estação, mas o medo de ser pego o impediu de ir até lá.


Volta a São Paulo.


Às onze horas da manhã seguinte, Pistone apanhou um táxi, com o motorista de praça Gil da Glória, mediante ao pagamento de 200 réis. Parou em um restaurante, para comer alguma coisa, acompanhado do motorista. O assunto no local era um só: A mulher encontrada morta, dentro de uma mala de madeira. Pagou a despesa (havia comido sanduíches e tomado cerveja) e saiu. Chegou em são Paulo no meio da tarde. àquela hora, a polícia já sabia quem era a vítima e já havia identificado o assassino. Ao chegar, um conhecido demonstrou preocupação: As características da vítima pareciam com as de sua mulher. Pistone disse que estava tranquilo, pois sua mulher estava bem. Mais tarde, Pistone confessou o crime a um amigo, Antônio Isso, que o aconselhou a procurar Eugênio Grasso, pois ele poderia lhe arranjar um advogado. Algum tempo depois, Pistone foi preso. A essa altura, Maria Citrângulo e Ramiro reconheciam o cadáver de Maria Féa

Depoimentos e cartas.

Os policiais desconfiaram da versão de Pistone, queriam saber qual o verdadeiro motivo do crime. Pistone teve crises nervosas, queria ver a foto da filha morta, quando os policiais mostraram a fotografia do feto, tirada após a autópsia no corpo de Mariuccia, Pistone teve uma crise de histeria.


A senhoria do casal, Maria Citrângulo, em seu depoimento, lançou mais dúvidas sobre a versão do assassino. Ela contou que, no dia 4 de outubro, acompanhou um vidraceiro até o apartamento do casal, pois havia um basculante quebrado. Chegaram por volta das 11 horas, Maria Féa estava na sala, bordando um lençol. a locatária confirmou que permaneceu na sala, junto com Maria Féa, todo o tempo, saindo somente após o vidraceiro. Pistone teria chegado um tempo depois, o que não permitiria que alguém entrasse no apartamento:


"Sou zeladora do prédio há anos, conheço todos os barulhos da casa, pelo som, sei mesmo dizer se uma porta está sendo aberta ou fechada. entre a saída do vidraceiro, e a entrada do senhor Pistone não entrou ninguém no apartamento. tão logo ele entrou, começaram a discutir em voz alta. Não entendi o que falavam, pois não falo italiano, mas era a terceira discussão que ouvi entre o casal em dias consecutivos. de repente, escutei dois gritos abafados de Maria e um barulho de queda ao chão. Depois disso, um grande silêncio e percebi que o senhor Pistone se retirava silenciosamente do seu quarto Desde esse dia, não vi mais Maria."

O vidraceiro prestou depoimento e confirmou a versão da senhora Citrângulo. Disse também não ter nenhum chapéu, ou seja, ele não poderia ser o homem que Pistone disse ter visto deixando o prédio.
Maria Citrângulo.
Os policiais descobriram o verdadeiro motivo que levou Pistone a matar sua mulher: Pistone queria dar um golpe em Francesco Pistone, seu parente, dono do comércio de vinhos onde trabalhava, propondo-lhe uma sociedade e afirmando que receberia em breve parte da sua herança, que seria enviada pela mãe, marcelina. Como o dinheiro não chegava nunca, Francesco desconfiou da história e, no dia 30 de setembro, interpelou Pistone de forma enérgica, já que o mesmo não lhe mostrava nada que confirmasse sua história. Pistone respondeu que havia recebido um telegrama de Canelli, afirmando que o dinheiro já havia sido remetido, disse que o tal telegrama estava com a mulher. Francesco foi procurar Maria Féa, na presença de Pistone, que pega de surpresa pela história, confirmou que havia recebido um telegrama, mas não sabia onde ele se encontrava. 


Em 30 de setembro de 1928, enquanto estava sozinha, Maria Féa escreveu para a sogra. a carta foi apreendida pela polícia, e, junto com depoimentos de Franceso e de colegas de trabalho de Pistone, serviu para elucidar o motivo do crime:


"Neste últimos dias tenho sabido muita cousa incorreta que Giuseppe tem feito. Soube que fez acreditar ao senhor Francesco Pistone que a senhora ia remeter-lhe 150 mil liras. esse senhor pediu-me para mostrar o telegrama que, segundo Giuseppe, havíamos recebido de ti e no qual dizias que estivéssemos tranquilos, que viria logo o dinheiro.
 Calcula que eu fiquei sabendo de toda essa embrulhada, feita por Giuseppe (Pistone) e da qual o senhor (Francesco) Pistone acreditava estar eu ciente. também eu menti, demonstrando saber qualquer cousa, mas com grande sacrifício, pois não estou habituada a mentir. Ao contrário, amo a palavra correta e a sinceridade. Se assim fiz, foi para não deixar Giuseppe mal e para não comprometê-lo. Oh, mamãe, por que não me ajuda Deus a fazê-lo mudar?... Não sei o que posso esperar desse homem o qual não mostra ter juízo nem capricho".

No inicio de outubro, Francesco, desconfiado que Maria Féa mentiu, procurou-a a sós. Maria Féa então confessou que havia mentido sobre o telegrama e que Pistone não iria receber dinheiro nenhum de sua mãe. A polícia deduziu que Pistone descobriu que Maria havia o entregado, por isso a locatária teria ouvido repetidas discussões. na ultima, houve o crime.


Irmãos de Maria Féa.


José** Féa e Esther Féa, irmãos de Maria Féa, chegaram à São Paulo para cuidar do funeral da irmã. Eles foram auxiliados por Aldo Pinone. Na delegacia, os dois contaram sobre o comportamento de Pistone, enquanto eles Giuseppe e Maria moravam na Argentina. Pistone sempre demostrou preguiça quando a questão era trabalho. Não dava presentes para sua mulher e era frio com ela. Esther apresentou uma carta, escrita por Maria Fé, alguns dias antes do crime. Na carta, Maria Féa pedia para que os irmãos não fossem visitá-la por aqueles dias, como haviam planejado, pois o clima entre o casal estava tenso. Esta carta, junto com os depoimentos e com a outra carta, desmontou de vez a versão do adultério.
Esther e José Féa, irmãos da vítima.
Em um momento, o delegado carvalho Franco decidiu por, frente-a frente os irmãos da vítima e  Giuseppe. José precisou ser contido, pois queria surra Pistone. Esther pós a interpelar Pistone:




- Você tem o cinismo de falar que minha irmã era adúltera? Olhe nos meus olhos, sou irmã de Maria. Você ainda tem coragem de chamá-la de adultera?
- Afirmo sobre o túmulo do meu pai.
- Como pode provar isso?*




Pistone não falou mais nada.


Cena do filme "Ganga Bruta", de Humberto Mauro, onde o protagonista, um homem de meia idade, é absolvido após assassinar a esposa na noite de núpcias, motivado pelo ódio por ela ter mentido sobre sua virgindade. Ganga Bruta expôs a repressão sexual do seu tempo, tanto que foi considerado controverso na época. A justiça costumava ser menos rígidas em crimes passionais motivados por infidelidade da esposa. Foi esse um dos motivos que levara Pistone a acusar Maria Féa de adultera.


Desfecho. 


O assassinato de Maria Féa, virou filme nas mãos de Francisco Madrigano e dias depois, na por Antônio Tibiraçá. O Crime da Mala - Tragédia Silenciosa, foi filmado um mês depois ao crime ocorrido na rua da Conceição. Com Antônio Sorrentino (Pistone) e Amanda Leilop (Maria Féa). 



Cenas do filme "O Crime da Mala - Tragédia silenciosa".


O navio Massilia teve seus dias de glória, até ser tomado e usado como hotel flutuante por soldados nazistas na França. Após isso, foi afundado.


O cadáver de Maria Féa foi enterrado no cemitério da Filosofia, no bairro do Saboó, Santos. Seu túmulo é visitado por várias pessoas que  a consideram santa e acreditam que ela possa fazer milagres.


Giuseppe Pistone foi condenado em 1929 a 31 anos de prisão. Cumpriu 16 anos na Penitenciaria do Estado de São Paulo e também no Presídio Agrícola de Taubaté, no Vale do Paraíba. Sempre foi tido como um preso de bom comportamento. em 1944, por um decreto presidencial de Getúlio Vargas, conseguiu o direito de deixar a prisão. trabalhou como zelador em um prédio em Taubaté, e em 1949, casou-se com Francisca Amélia da Silva, faxineira que conheceu na prisão, anos antes. Francisca era mãe de sete filhos.


Giuseppe Pistone morreu em 28 de junho de 1958, quase trinta anos depois de assassinar sua primeira esposa. Em seu leito de morte, ele manteve sua versão dos crimes. Dizendo que o amante de Mariuccia era um amigo seu, alfaiate, mas nunca explicou por que não relatou isso na época. Após sua morte, parentes encontraram dentro de seu travesseiro, uma relíquia: A fotografia de casamento com Maria Féa.


* diálogos e depoimentos extraídos do livro Crimes a moda antiga, de Valêncio Xavier.
**José (no português) é o prenome equivalente a Giuseppe (italiano). Como tanto Pistone quanto José Féa se chamavam Giuseppe, decidi traduzir um e deixar o outro no original.


Fontes: Crimes que abalaram o Brasil, 2007, Ed. Globo.
Crime a Moda Antiga, Valêncio Xavier, 2004, Publifolha.
Revista A Careta, outubro de 1928.
Novo Milênio: http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0081.htm

12 comentários:

  1. Não conhecia seu blog, adorei a forma caprichosa que você usou para contar a história. Parabéns

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  2. Obrigado Kaebo, eu gostaria de ter mais tempo para mantê-lo atualizado. Em breve criarei mais postagens! =D

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  3. gostei...achei por acaso + adorei , pode demorar pra postar vou demorar pra ler todos os post antigos ha ha ha

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  4. Obrigado, Tanny, em breve sairá post novo... =D

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  5. Leio quase tudo que você escreve e gosto sempre. Bom pelo menos nessa época a polícia era eficiente...

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  6. ADOREI EU TRABALHO DE MADRUGADA E ESSE TEXTO ME AJUDOU BASTANTE A PASSAR A NOITE JA CONHECIA ESSA HISTORIA MAIS DEFINITIVAMENTE FIQUEI SAMENDO MUITO MAIS ESSA NOITE O QUE TENHO A DIZER E SOMENTE PARABÉNS

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  7. Obrigado, Cláudia. também tenho a mesma visão que você. Essa investigação foi incrível, pois os policiais começaram do zero. a maioria dos testemunhos eram vagos demais, mesmo assim, os policias conseguiram identificar e prender o assassino em pouco mais de 24 horas. E, Anônimo, obrigado! Estaremos sempre tentando trazer novos conteúdos!

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  8. Parabéns pelo trabalho de pesquisa. Eu nunca tinha lido tantos detalhes acerca do Crime da Mala como agora! Foi impressionante, mesmo. Desde pequeno ouvi falar desse crime pois meus pais viveram essa época e comentavam. Bom conhecer tantos pormenores! Agradeço pela transmissão de conhecimento!

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  9. Obrigado, Reinaldo! Que bom que tenha gostado. Em breve falarei sobre mais crimes que marcaram a história do Brasil. Abraços! =D

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  10. Adorei a história, nunca ouvir fala do "Crime da Mala de 1928 "

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  11. Maravilhoso...adorei ler sobre a epoca que minha vó e meu vô namoravam...fatos que eles me contavamqdo eu era pequena...sempalavra para vcs...amei!!!! Parabens...nota mil!!!!!

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  12. E è bom saber sobre a historia pregressa do centro de sp...mil vezes parabens pra vcs...amei...ler essas historias melembra meu vô...saudades daquele tempo.....obrigada!!!!!

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