27 de jun. de 2012

Harvey Glatman - O Assassino de Beldades.

Ele seria o que hoje chamamos de Nerd. Com sua inteligência acima da média, Harvey conseguia convencer suas vítimas que não passava de um fotógrafo em busca de modelos perfeitas e um bom cenário paras suas fotografias Bondage. Harvey não foi como muitos serial killers: matando prostitutas baratas e de má aparência ou crianças facilmente atraídas por alguns doces, Harvey matou belas jovens, o que lhe rendeu o apelido de Glamour Girls killer (O Assassino de Beldades). Mesmo não sendo um dos mais prolíficos assassinos (matou apenas três), Glatman entrou para a história policial norte-americana, e deixou sua marca  suja de sangue, maculando os inesquecíveis anos 50. Uma mistura de Irving Klaw (leia mais sobre o fotografo Irving Klaw, clicando aqui) com Estrangulador de Boston... Conheça a história de Harvey Murray Glatman.
Uma característica que parece estar presente na vida da maioria dos serial killers, é a infância completamente fora do comum, às vezes por causa do contato com a violência doméstica e o abuso sexual, outras vezes devido as características comportamentais próprias do assassino. Com Harvey Murray Glatman não foi diferente.

Glatman: O estranho

Harvey Murray Glatman nasceu em 10 de dezembro de 1927, filho de Ophelia e Albert Glatman, um casal de judeus. Seu pai trabalhava como chapeleiro em uma loja de roupas, localizada no coração do Bronx, condado de New York, onde a família morava. Desde cedo, Ophelia percebeu que havia algo fora do comum com o garoto. Albert demorou um pouco mais a perceber que o comportamento do filho não era muito normal. A oscilação de humor do pequeno Harvey deixavam Ophelia preocupada. Albert acreditava que eles não deviam agir com violência com o menino, mas sim, buscar uma forma de discipliná-lo através da aplicação de castigos leves.

Harvey por vezes ria sozinho, chorava sem motivo e se demonstrava alheio a tudo o que corria à sua volta, perdido em seus devaneios. Em 1931, aos 4 anos de idade, Harvey teve a sua primeira experiência sexual masoquista. Ele amarrou uma corda no pênis e prendeu a outra ponta em uma gaveta e puxou o corpo para trás. Você deve está se perguntando: Como uma criança de três, quatro anos vai pensar nisso? Talvez a resposta seja o fato de Harvey Glatman ter o QI elevado (testes posteriores apontariam para 130, ou seja, inteligência muito acima da média). Isso também influenciaria na sua carreira criminosa (apesar dele não se apresentar como um criminoso muito organizado). Em 1932, aos 5 anos de idade, Glatman foi submetido à uma cirurgia para retirada das amígdalas e adenoides. Ophelia achava que o filho era uma criança comum.

Os pais de Harvey tomaram conhecimento dos rituais do filho, mas decidiram ignorar, acreditando tratar-se de um capricho infantil. Albert decidiu amedrontar o filho, afirmando que masturbação causava acne, mas isso pareceu não adiantar. Nem Albert nem Ofélia sabiam, mas os auto-castigos de Harvey tomaria proporções irreversíveis.

Do lado de fora da casa, os vizinhos não tomavam conhecimento do que Harvey fazia. Para eles, o menino se mostrava apenas uma criança tímida e quieta. Em 1933, Harvey Glatman iniciou seus estudos. Sua passagem pela escola seria marcada por suas notas impecáveis, mas também pelas chacotas dos colegas.

Harvey começou a enfrentar problemas no ambiente escolar devido sua má aparência. Sua falta de queixo, suas orelhas de abano e dentes grandes o deixavam com uma aparência similar à de um rato, o que lhe rendeu apelidos como Chipmunk (esquilo) ou Weasel (doninha). Mas Harvey conseguiu fazer amigos. Eles sempre se reuniam na hora do almoço.

Outro problema para o menino era em relação às mulheres. Harvey tinha verdadeiro receio delas. Quando via uma menina bonita. Só se aproximava de uma menina para tomar sua bolsa e sair correndo, gargalhando, só para se divertir, depois a devolvia. Glatman nunca praticava esportes ou brincava com seus amigos depois do horário escolar. Seu jogo era o auto-castigo, praticado em sua casa, escondido. Agora, Glatman passou a praticar asfixia auto-erótica (asphyxiaphilia ou hypoxyphilipa): Harvey fazia um laço em uma ponta da corda, jogando-a por cima da viga do teto. Depois colocava o laço em volta do pescoço e com uma mão puxava a ponta oposta da corda, com a outra se masturbava.

Em 1938, quando tinha onze anos, seus pais descobriram seus novos jogos auto-punitivos. A família havia saído do Bronx, e se mudado para Denver, Colorado. Albert e Ophelia estava satisfeitos com a adaptação de Albert na nova escola, Sherman Elementary, próximo de onde a família morava. Em uma noite, enquanto Ophelia voltou das compras, ela percebeu uma ferida no pescoço do filho, além de inchaço. A ferida foi provocada pelo atrito da corda no pescoço de Harvey. Ele confessou suas práticas eróticas, além de ter fotos de mulheres nuas debaixo do colchão e de sua masturbação compulsiva. Ophelia resolveu procurar um médico, este lhe aconselhou a não se preocuparam muito, pois isso eram coisas comuns do desenvolvimento do menino. Apartir desse ponto, Harvey Glatman passou a tomar mais cuidado para não ser pego por seus pais. Ele continuou a freqüentar a escola normalmente.

Glatman: O invasor.

Em 1939, Harvey Glatman ingressou no ginásio. Nessa fase de adolescência, seu receio e sua falta de jeito com as mulheres não havia mudado em nada. As espinhas que cresceram em sua face atrapalhavam mais ainda. Mesmo tentando evitar, as mulheres eram quase magnéticas para ele. Na presença delas, Harvey apenas conseguia balbuciar algumas palavras, além de ficar todo vermelho e envergonhado. Ele não conseguia manter um tom de voz forte; se sentia muito inadequado.

O comportamento de Glatman também mudou. Ele passava horas trancado no banheiro e no quarto. Por época, Harvey também desenvolveu seu novo hooby, o que foi seu ingresso para o mundo do crime: Arrombamentos e roubos a residências. Num de seus primeiro roubos, Glatman conseguiu uma arma calibre 26 mm, achada na sala de jantar. Glatman arrombava as casas aleatoriamente, mas algumas de suas investidas foram planejadas.

Depois da descoberta da arma, Glatman passou a seguir mulheres bonitas, que via andando pela rua. Ele as seguia até suas casas, onde entrava pela janela. Lá dentro, ele obrigava a vítima à seguir até seu quarto, onde a amarrava com um pedaço de corda que sempre carregava no bolso da jaqueta. Amordaçava a boca com um pedaço de pano. O pano evitava gritos; a arma evitava a reação das vítimas, mas toda sua fantasia estava em amarrar a mulher. A corda era seu objeto de fetiche.

Agora ele estava tranqüilo, pondo suas fantasias em prática, sem o risco de ser interrompido pela entrada de seus pais. Harvey também se sentia mais confiante. Estava, agora, se vingando das mulheres, que o ridicularizavam na escola e em outros locais, chamando-o dos nomes mais risíveis possíveis.

Depois de amarra a vítima na cama ou na cadeira, Glatman desabotoava sua blusa, afrouxava sua saia e começava a alisar as “carnes” da mulher, parando algumas vezes para alisar seu próprio corpo. Ele obrigava a mulher a deitar ao seu lado e fingir que gostava dele. Glatman não agia com violência nem mandava a mulher se despir totalmente para satisfazer sua libido, ele estava completamente satisfeito só de “quebra o gelo”. Nessas horas, Harvey não se sentia inadequado. Depois de cada abuso, ele se sentia como o homem que queria ser, e não um perdedor.Glatman praticou essas atividades criminosas praticamente durante todo o ensino médio. Sempre dizendo aos seus pais que seus atrasos ocorriam devido a atividades extracurriculares.

Em 18 de maio de 1945, Glatman tentava arrombar a janela do apartamento de Elma Hamum, na Vrain Street, quando foi flagrado por um policial. Foram encontrados um pedaço de corda e a pistola calibre 25 mm em seus bolsos, ele foi levado para um interrogatório. Naquela noite, ele confessou seus assaltos e arrombamentos, mas não citou aqueles que envolveram sexo.


Mugshot de Harvey Glatman, ainda jovem.

Enquanto aguardava julgamento por roubo em liberdade, menos de um mês após ser levado preso acusado de roubo, Glatman raptou Norene Laurel e a levou para a cidade de Sunshine Canyon. Lá ele pos em prática todas as suas fantasias eróticas, voltando para Denver antes do amanhecer.

Quando chegou a Denver, Norene foi direto para a delegacia, registrar queixa contra o agressor. Após folhear um livro de fotografias com os policiais, Norene identificou Glatman como sendo seu agressor. Harvey Glatman foi preso, dessa vez acusado de seqüestro. Ele esperaria apreendido atrás das grades até seu julgamento, em novembro daquele ano. Resultado: condenado a um ano de reclusão no Colorado State Prision. Glatman ainda era um menor de idade, tinha 17 anos.

Glatman de volta às ruas.

Glatman cumpriu dois terços de sua pena e foi posto em liberdade condicional em 27 de julho de 1946. Uma das primeiras atitudes de Ophelia foi levar o filho para um psiquiatra, a fim de afastá-lo das suas fantasias perigosas, que acabaram fazendo com que ele fosse preso. O psiquiatra afirmou que o problema de Glatman era um medo anormal ao sexo oposto e o aconselhou a iniciar aulas de dança. Assim, ele poderia reprimir seu medo, pois teria bastante contato com mulheres. Harvey seguiu as recomendações médicas. Sua família voltou para NY, onde ele participou de diversas atividades que envolviam mulheres. Porém, Harvey não estava satisfeito.

Quando a família se mudou, a intenção da mãe era deixar para trás todo o passado negro que Harvey havia construído em Denver. Ela acreditava que o rapaz poderia recomeçar sua vida, conhecendo novas pessoas e fazer novos amigos, trabalhar e abandonar os estranhos rituais auto-punitivos. Ophelia arrumou um apartamento em Yonkers, onde o filho poderia morar. Ele arrumou emprego em uma oficina de consertos de televisores. Para ele foi fácil, pois aprendeu o oficio de eletricista na prisão, agora estava colocando esse conhecimento em prática para algo bom, como disse sua mãe. Convencida que o filho tinha dado um jeito na vida, Ophelia voltou para Denver.

Mas Harvey não tinha aprendido a lição. Quando se viu longe da mãe, ele voltou para ruas em busca de “diversão”. Ele não tinha permissão para portar arma, então decidiu comprar uma de plástico, similar à uma de verdade. Armado com ela, um canivete (de verdade) e seu inseparável pedaço de corda, Harvey voltaria para o mundo do crime.

Glatman em Sing Sing.

Eram quase maia-noite de 17 de agosto de 1946. Thomas Staro e Doris Thorn, um casal de namorados, foram abordados por um sujeito, cuja a altura era inferior a um metro e 80, pesando aproximadamente 60 quilos, com os cabelos bagunçados, óculos com armação “aro de chifre”. O homem tinha orelhas grandes e o queixo fino. Ele estava portando um revolver e obrigou o casal a entrar no mato. O sujeito era Glatman. Ele amarrou os dois pelas pernas, obrigando-os a deitar no mato. Glatman pós-se a tocar os seios de Doris. Thomas conseguiu se soltar e entrou em luta corporal com Harvey. Este, por sua vez, sacou o canivete e golpeou Thomas no ombro. O golpe não foi mortal, mas fez com que Thomas recuasse de dor. Harvey se pós a correr, parando somente quando estava seguro, dentro de um trem com destino a Albany.

O lugar em que estava era o menos importante para Harvey. O que ele queria era mulheres para amarrar e acariciar. Ele alugou um apartamento na cidade, e pós-se a percorrer a vizinhança à procura de novas vítimas. Em 22 de agosto, ele já havia encontrado.

Florence Hayden era uma enfermeira, que estava de folga naquele dia. Ela estava caminhando por uma avenida quando foi surpreendida por um sujeito que saiu do meio das sombras e lhe deu um empurrão, jogando no chão. O homem estava armado e a ameaçou se ela gritasse. O individuo abaixou-se e começou a amarrar os pulsos de Florence, porém ela percebeu que ele estava usando as duas mãos, impossibilitado de usar sua arma. Florence não perdeu tempo e começou a gritar, como ela diria mais tarde para a policia: “Eu percebi que ele estava usando as duas mãos para me amarrar e não estava mais de posse da arma. Então eu me virei, o empurrei com força e comecei a gritar”. O individuo correu, segundo Hyden “mais assustado que ela”.

Apesar das duas ultimas abordagens serem desastrosas, Glatman não desistiu. Determinado a conseguir uma mulher para amarrar (literalmente), ele decidiu dar um longo passeio pela Hollywood Avenue. Por um tempo ele quase desanimou; A maioria das moças estava acompanhadas, e desde o episódio da luta corporal com Thomas, em Yonkers, Glatman estava evitando casais, e direcionando sua atenção para moças sozinhas, pois assim seria bem mais fácil. Depois de passar por uma esquina deserta, ele viu passar duas mulheres, caminhando juntas e seu desejo foi despertado. Elas eram Evelyn Berge e Beverly Goldstein. Harvey aproximou-se das duas, mas hesitou, “duas mulheres seria demais”. Desastrado, ele ordenou que elas entregassem as carteiras. Ele murmurou alguma coisa, mas estava atrapalhado demais. Saiu em disparada por entre as sombras.

Os crimes aos quais Glatman respondeu eram considerados “pequenos”. No entanto, o departamento de policia de Albany considerou seu caso como de risco em potencial. Sua forma de tratar das mulheres começava a assustar o comissário de polícia James Kirwin. As descrições concedidas por Hayden, Berge e Goldstein correspondiam entre si, e a policia acreditava que era o mesmo agressor em todos os casos (no caso de Hynden, houve tentativa de estupro). Kirwin reuniu forças policiais e ordenou que o agressor fosse preso. Os patrulheiros agiram rapidamente. Em mais ou menos dois dias, Harvey Glatman estava sob custódia. Dois oficiais reconheceram Glatman graças as descrições concedidas pelas vítimas. Ele estava seguindo uma mulher pela Western Avenue. Quando os policiais revistaram seus bolsos, encontraram uma arma de brinquedo, um canivete e um rolo de corda. Tenso e assustado, Glatman acabou por confessar.

Glatman enfrentou acusações da agressão contra Thorn e Staro em Yonkers e foi indiciado em Albany, quatro dias após sua prisão, pelo ataque contra a enfermeira Hayden. Mesmo sem outras mulheres apresentarem queixa, o promotor da cidade sabia que era possível que Glatman tivesse feito outras vítimas, principalmente no Colorado. Harvey mais uma vez enfrentava a prisão. Seus pais ficaram chocados ao ouvirem a notícia. Eles haviam acreditado na recuperação do filho, mas parece que tudo não passou de um engano. Ophelia correu ao tribunal para clamar clemência para o filho, mas nada adiantou. Em outubro, o juiz Earl Gallup proferiu a sentença: Cinco a dez anos de reclusão. Devido sua pouca idade (tinha menos de 21 anos na época) o juiz o mandou para o Reformatório de Elmira (NY), após completar idade suficiente, ele seria enviado para a prisão de segurança máxima Sing Sing.


Vista aérea da cadeia de Sing Sing.

Recebendo o número 48337, Glatman passou quase dois anos em Elmira. Durante esse tempo, ele foi avaliado pelo Dr. Ralph Harvey Ryancale,que o diagnosticou como um “esquizofrêsnico de personalidade psicopática” e de ter “sua personalidade criminosa ligada aos seus impulsos sexualmente pervertidos”. Ryanacale recomendou que, após a sua remoção para Sing Sing, Harvey passasse novamente por uma bateria de exames psicológicos. Não existem registros de tais exames nesse período em que Harvey ficou preso em Sing Sing, somente um, feito logo após seu ingresso na cadeia. Esse relatório superficial descreve Glatman como um “psicótico esquizofrênico”, porém não insano; deve ser “reeducado psicologicamente, e se sua personalidade anti-social permanecer, ele deveria ser segregado para tratamento, mesmo que sua esquizofrenia não se desenvolvesse”.

Os relatórios sobre sua passagem na prisão mostram Harvey como um prisioneiro bem comportado, com bastante capacidade e empenho em aprender os deveres e afazeres da prisão, ele era um prisioneiro modelo. Os exames médicos apontavam para melhorias em seu quadro. Segundo o especialista em comportamento criminoso, que estudou o caso Glatman de perto, o autor Michal Newton, essa melhora era de se esperar, “criminosos sexuais sociopatas aprendem à brincar com o sistema desde cedo, as vezes na infância. Depois de passar pela prisão, Harvey aprendeu como agir no dia-a-dia e em qualquer situação, diante de médicos, advogados e policiais. Apesar das garantias da eficácia, muitos sociopatas conseguem enganar o polígrafo (detector de mentiras), manipulando o resultado dos testes, fazendo com que todos acreditam que já estão curados”. E provável que os testes psicológicos realizados para determinar o avanço de Glatman tenham sido imprecisos ou errados

Harvey não cumpriu toda a sua pena. Foi beneficiado por seu bom comportamento e, após dois anos e oito meses de uma pena de no mínimo cinco anos, ele foi posto em liberdade condicional. Foi decretado, no entanto, que Glatman deveria ficar aos cuidados da mãe adquirir um emprego em tempo integral. Além de permanecer sob observação judicial por mais um período de quatro anos e meio. Na casa de seu pais, em Denver, Harvey arrumou vários trabalhos informais. Ele alegava que sua passagem pela prisão o atrapalhava na hora de arrumar um emprego em tempo integral.

Depois que Albert Glatman faleceu, as brigas entre mãe e filho se tornaram constantes. Harvey acabou se mudando por conta própria, alugando um apartamento. Ele também arrumou um novo emprego. Mãe e filho se encontravam algumas vezes, Harvey também ia regularmente visitar seu oficial de condicional.

Em setembro de 1956, após o término do período estipulado pela justiça, Glatman recebeu plena liberdade: ele não precisaria mais comparecer regularmente aos tribunais, nem passar por análises psicológicas ou visitar seu oficial de condicional, além de estar longe dos olhares da mãe, morando sozinho. Ele estava finalmente livre, como queria. Agora, ele desejava deixar tudo para trás e ir para Los Angeles.

Glatman: O Serial killer.

Harvey Murray Glatman chegou em Los Angeles em janeiro de 1957. Estava completamente sozinho, sem ninguém para vigiá-lo. Seus impulsos pervertidos e suas fantasias novamente gritavam dentro de si. Glatman queria mais mulheres, para ele amarrar e manter cativas. Agora não havia motivos para se preocupar, pois era só ter cuidado. Quando Glatman chegou à Califórnia, ele retomou um antigo hobby seu: A fotografia. Ele gostava de fotografar desde o ensino médio, mas nunca soube explicar por que. Talvez pela possibilidade de retratar o mundo e formata-lo no tamanho que quisesse... Talvez isso desse um charme na coisa toda. Harvey Glatman passou a percorrer os pequenos estúdios de beleza de LA, procurando por meninas belas, dispostas a posar paras suas sessões fotográficas de nu artístico. Glatman desejava por suas fantasias em prática e isso elevava sua libido. Ele percorreu inúmeros estúdios de modelos durante meses. Sentia-se confuso: estava espantado, porém excitado com a facilidade que apresentava algumas mulheres em tirar a roupa. Algumas cobravam somente 20 dólares por hora. Mas para Glatman, isso já não era suficiente. Ele não queria apenas fotografar modelos nuas. Precisava tocá-las, dominá-las...

Judith Ann Dull.
Judith Ann Dull


Na manhã de 01 de agosto de 1956, a divorciada Judith Ann Dull, de 19 anos, descrita como uma bela jovem de olhos de boneca atendeu a um telefonema. Do outro lado da linha, um homem se identificou como John Glynn, fotógrafo. Ele teria descoberto seu número através de uma agencia, e estaria interessado em fotografá-la, dizia ele, para uma revista popular, a True Detectives. Judith via no chamado de Glynn uma boa oportunidade para conseguir dinheiro para pagar um advogado, pois estava no meio de uma batalha judicial referente ao seu divórcio. Ela não era modelo profissional, mas já havia posado para ensaios fotográficos. Apesar da recomendação de que tivesse cautela, Judith não enxergava nada demais no convite. O sujeito concordou em realizar o ensaio no apartamento de Judith, às duas horas da tarde do mesmo dia. As ultimas recomendações do sujeito do outro lado da linha foram: “Use uma saia justa ou uma camisola”. Logo depois, ele desligou o telefone. Johnny Glynn era na verdade, Harvey Glatman. Ele havia ligado para Judith do telefone da oficina onde trabalhava.

Apartamento de Judith Ann Dull.

Quando chegou ao apartamento de Judith, Glatman perguntou se ela não preferia que eles realizassem a sessão fotográfica em seu estúdio profissional particular, pois lá a iluminação era melhor. Judith concordou. Glatman a levou para se “estúdio”, que na verdade era seu próprio apartamento. Lá dentro, ele explicou como seria o ensaio: Seria sobre uma mocinha inocente sendo sequestrada e submissa, para tal, ele teria que amarrá-la e amordaça-la. Disse que se Judith tivesse algum problema, ele romperia o acordo e a deixaria ir. Judith alegou não haver problema nenhum. A partir dali, Glatman teria todo o controle da situação. O pagamento acertado por eles era de 50 dólares. 


Uma das fotografias de Judith Ann Dull, tirada por Glatman, um pouco antes do seu assassinato.

Apesar de não ser modelo profissional, Judith havia posado para fotos sensuais, tiradas por John Willie , um famoso desenhista e fotografo erótico da década de 50 (conheça alguns desenhos de Willie clicando aqui).

Judith Ann Dull posa para o fotografo John Willie.

Ele amarrou os pulsos de Judith para trás das costas, atou sorrateiramente suas pernas e a amordaçou com uma corda. Todo o processo foi feito com cautela. Quando Judith estava completamente amarrada, Glatman sacou uma pistola Browning, calibre 32 automática, do bolso. Naquela época, na Califórnia, não havia tanta restrição para compras de armas de fogo. Não era necessário nem mesmo a apresentação de um documento de identificação e nem uma busca por antecedentes criminais. Harvey se aproveitou disso e adquiriu uma arma, agora de verdade. Com a arma em punho, ele ordenava como Judith deveria agir. Como um diretor de cinema, ele gritava por de trás da câmera: “Você está com medo!”, “Você está assustada!”, ”Você está assustada, porém curiosa!”, ”Levante uma das pernas!”, “Pisque um olho!”... As posições foram se tornando cada vez mais eróticas, conforme o desejo de Glatman ia crescendo. A seção de fotografia prosseguiu...

Outras fotografias feitas por Glatman em seu apartamento.

No livro A Assinatura dos Assassinos, o autor Robert D. Keppel explica como as fotografias de Harvey eram sua assinatura pessoal: “(Suas fotografias) eram mais que lembranças, na mente de Glatman, elas carregavam seu poder, sua necessidade de escravizar e controlar mulheres. As fotografias mostravam mulheres em várias poses: sentadas ou deitadas, sempre com as mãos atadas atrás das costas, rostos inocentes e olhos arregalados de terror, pois elas já tinham em mente o que havia de vir”. Keppel dedicou um capítulo inteiro para abordar o caso Glatman

   
Depois que as fotos foram tiradas, Glatman obrigou Judith a se despir, caso contrário, ele a mataria. Judith, choramingando, obedeceu. Glatman a desamarrou e a estuprou várias vezes, amarrando seus pulsos novamente, após cada sessão de sexo. Depois ela a obrigou a acariciá-lo no sofá, enquanto ele assistia às suas comédias favoritas. Mais alguns episódios, ele a deixaria ir para casa, prometeu ele. Porém as intenções de Glatman eram outras. Ele pretendia “esticar” seu prazer. Os impulsos pervertidos eram incontroláveis.

Mas Harvey não pretendia deixá-la ir embora. Ele queria levar Judith até um local desértico, que ele havia descoberto enquanto cruzava uma vizinhança perto da cidade de Índio. O local era muito, mas muito longe do alcance dos policiais, e ele poderia ficar mias tranquilo, sem medo de ser mandado para trás das grades novamente. Glatman dizia para si mesmo que não desejava matar ninguém, mas o que ele poderia fazer, se seus impulsos o levavam a isso? Ele tinha uma necessidade de dominar Judith, de possuí-la... Isso não poderia ser culpa dele. Ele não conseguia controlar, sendo assim, pensou, ninguém poderia acusá-lo. Ninguém poderia condená-lo de não ter domínio sobre suas ações. De que outra maneira ele conseguiria fazer amor com uma mulher?

Quando o relógio bateu vinte e duas horas e trinta minutos, Glatman disse que iria deixar Judith ir embora, mas ele a levaria para fora da cidade, e ela deveria encontrar o caminho de casa, como uma espécie de gincana. Judith provavelmente pensou que teria tempo para escapar e decidiu não discutir. Glaman amarrou seus pulsos e a levou até seu carro,empunhando sua Browing. Ele dirigiu o veiculo pegando a estrada ao sul de San Bernardino, a leste para a Estrada da Missão, na planície de Riverside County. Ocaminho era escuro, iluminado somente pelo luar. Glatman manteve a velocidade e não parou até passar de Palm Springs. Finalmente, em Thousand Palms, cem quilômetros de Los Angeles, Glatman parou o veículo. Não haviam residências no local totalmente deserto.

Puxando Judith Dull de dentro do carro,ele fez de conta que ia desamarrá-la. Nessa hora, a mocinha suspirou aliviada,mas durou pouco; num único e rápidomovimento, Glatman laçou seu pescoço, empurrou-a de joelhos e jogou a corda por cima de um galho de uma arvore próxima... depois puxou a outra ponta da corda... Judith soltou alguns gemidos abafados, tempo depois, estava morta.

Uma das fotografias do cadáver de Judith Ann Dull ,tirada pelo próprio assassino. Glatman amarrou um objeto peso do outro lado a corda,para que o corpo ficasse um pouco pendurado pelo pescoço.

Harvey precisava bater algumas fotos do cadáver, algo para lembrar sua “conquista” e acender sua fantasia. Ele começou a ajeitar o corpo em várias posições, “moldando” o cadáver de Dull, como se fosse um boneco de barro: “Ajeita o braço daqui, muda o outro braço de posição, abre as pernas, fecha as pernas”, até ficar do jeito que ele desejava. Ele então fotografou o corpo.
Outra fotografia do cadáver de Dull, tirada pelo próprio assassino.
Keppel acrescenta sobre as fotos das vítimas: “Elas (as fotografias dos corpos) parecerem ainda mais terríveis para a polícia, do que as fotografias das moças em vida, pois revelou a verdadeira natureza de Glatman. Elas mostraram como o assassino posicionou as vítimas e sua depravação psicológica. Era revoltante que uma pessoa poderia revelar as profundezas de sua fraqueza e sentimentos de insignificância através de fotografias. Isso era algo que nenhum policial tinha visto antes”.

Harvey Glatman voltou a sua vida normal e passou sete meses sem matar. Tudo mudou, quando ele conheceu a próxima vítima.

Shirley Ann Bridgeford.

Shirley Ann Bridgeford tinha 24 anos de idade e, como Judith, também era divorciada e mãe de dois filhos. Ela entrou para um clube de encontros, o Patty Sullivan Hearts Club, muito popular em Los Angeles, na esperança de encontrar um companheiro diferente de seu ex-marido. Shirley não esperava nenhum príncipe encantado, pois já havia desistido disso, mas só queria alguém bom pra ela. No dia 7 de março de 1958, um rapaz que atendia pelo nome de George Willians demonstrou interesse por ela, convidando-a pra sair. Ela não ligou para suas orelhas grandes e o queixo fino, que deixava o homem com um aspecto de rato, e aceitou o convite, a data para o encontro seria sábado, pela noite. Ele a prometeu levá-la para uma quadra de dança, depois os dois iriam jantar em um restaurante. George Willians não era ninguém mais ninguém menos que Harvey Glatman. 


Shirley Ann Bridgeford.
Na hora marcada, 19h45min, George Willians (Harvey Glatman) apareceu na casa de Shirley, na Tuxford Street, Sun Valley. Ele tocou a companhia e esperou. Shirley atendeu gentilmente. Ela não estava sozinha,como queria Glatman. Alguns parentes moravam com ela. Glatman a cumprimentou e a convidou para ir até seu carro. Uma vez no veículo, ele perguntou se Shirley se importaria de eles cancelarem a dança, pois ele estava com um pouco de dor de cabeça, ao invés disso, ele dariam um passeio pela cidade e parariam para comer, Shirley consentiu, respondendo que soava muito agradável. Glatman pegou uma rua na direção sul. O casal parou para comer em Oceanside. 


Depois do jantar, Glatman e Shirley voltaram para o carro, e ele novamente tomou a direção sul. Aos pés das iminentes montanhas de Vallecito, próximo ao Anza State Park, Glatman parou o carro em uma ruela empoeirada. Shirley pareceu olhar pra ele com ironia. No que ela poderia ter pensado? Shirley se viu tomada pelo pânico quando reparou que Glatman empunhava um revolver, apontando a arma para seu peito.

Glatman ordenou: “Tire a roupa”.

Shirley implorou, mas nada pareceu adiantar. Quando ela estava nua, Glatman a estuprou e a humilhou. Em seguida, ele a forçou a descer do carro. Dizia ele “está na hora da foto”. Entre lágrimas, Shirley se recusava, mas o que há de se fazer sob a mira de uma arma? Ela teve que consentir. Glatman a amarrou e tirou fotos dela nua, fotos dela vestida, seguindo o mesmo ritual feito no primeiro crime: atrás da câmera, ele comandava a cena. Na escuridão, as luzes dos flashes, um após o outro... Quem garantiria que as fotos ficariam boas? Glatman decidiu esperar um pouco, até que o sol aparecesse, assim teria certeza que algumas fotos ficariam boas. Quando o dia chegou, Glatman tirou mais fotos de Shirley, depois, com a corda, estrangulou a moça até a morte. Nas fotos, era nítido o olhar de horror e medo de Shirley.

Uma das fotos de Shirley, antes do seu assassinato.

Shirley amarrada e com um seio amostra. Fotografia feita por Harvey Glatman.

Antes de deixar o corpo abandonado no meio do deserto, Glatman fez o mesmo que tinha feito com o cadáver de Judith: organizou o corpo em várias posições e fotografou com o mesmo zelo na ora de escolher a posição do cadáver.
Outra fotografia se Shirley.
Logo depois, Glatman voltou para a cidade, onde revelaria as suas fotografias e esticaria seu prazer.


Uma das propagandas de Glatman em jornais a procura de modelos (vitimas)

Angela Rojos (Ruth Mercado).



Julho de 1958, numa noite quente, Glatman já havia matado, estuprado, dominado e fotografado duas mulheres, fazia mais de 4 meses, desde seu último crime, e nem sinal da polícia. Ele havia começado ase divertir, e decidiu que já passara tempo demais sem matar. Agora ele queria uma nova vítima, para estuprar, matar e fotografar. Glatman queria carne nova para saciar seus impulsos. Ele estava pronto, naquele dia, iria tirara a vida de mais uma.

Naquela noite quente de julho, em 1958, Harvey Glatman havia estuprado e matado duas mulheres. Ele tinha vindo para se divertir. Mas, agora, uma vez que tinha sido de sete meses desde o seu último crime, e a polícia até agora não tinha aparecido em sua porta, ele resolveu que ele estava atrasado para se divertir um pouco mais. Ele estava pronto, a ferver. Hoje à noite ele iria tirar a vida de outra mulher.

Depois de estacionar seu Doge na Pico Street, Harvey desceu do carro e foi caminhando até seu destino. Ele Já tinha arrumado uma modelo para fotografar, como aconteceu da primeira vez. Usando a imagem de fotografo freelancer, que havia funcionado tão bem, Glatman tinha outras intenções com suas “clientes”. Seu coração bateu mais forte quando ele bateu à porta de Ângela Rojos. Ela era a modelo que iria ser fotografada. Angela abriu a porta, com um sorriso, convidou Glatman para entrar. Glatman já estava na metade do caminho para seu plano dar certo.


Angela Rojos (Ruth Mercado).

Como aconteceu com Judith, o que fez com que Glatman e Angela se conhecessem foi uma agência de modelos. Glatman havia encontrado o telefone dela e se interessado pela moça. Ele telefonou, se apresentando como Frank Wilson, afinal de contas, as mulheres convidadas por ele jamais voltavam; Ele não queria correr riscos. Naquela época, tais agências não eram muito criteriosas no que diz respeito à identificação. Glatman (ou Frank, nesse caso) dizia querer tirar fotos de Angela para uma revista e pretendia tirar as fotos na casa dela. Claro, as agências e as modelos sabiam que tipo de fotografias eram: nus artísticos. Lembramos que, na década de 50, já havia grande circulação de material erótico (Bettie Page que o diga), desde que ele pagasse a modelo devidamente não haveria problema algum. Glatman tinha dinheiro pra pagar e enquanto havia mulheres dispostas a tirar suas roupas ele colocaria seus planos em prática. Não havia perguntas. Não havia necessidade de credenciais. Tudo o que importava era que todos ganhassem: As modelos, as agências e o fotógrafo.

Ângela Rojos também usava um nome falso, na verdade artístico. Ela, na verdade, se chamava Ruth Rita Mercado, tinha 24 anos de idade e era modelo, stripper e dançarina erótica. Quando viu Frank Wilson pela janela, pensou ser ele um perdedor, e sabia exatamente pra que tipo de publicação um sujeito como aquele tiraria fotos.
 
Ruth Mercado viveu em New York antes de rumar para o Oeste de Hollywood, meses antes, onde esperaria ser descoberta por algum “olheiro” de cinema, mas seu sonho de ser como Marilyn Monroe ou Sandra Dee nunca se concretizaria. Sem muitas opções oferecidas por Los Angelas, Ângela tornou-se modelo fotográfica. Assim, pelo menos, conseguiria evitar a monotonia, além de conseguir dinheiro para pagar o aluguel e para se alimentar, graças aos seus trabalhos como modelo, com os quais não ganhava muito.

Uma batida na porta e Ruth a abriu, forçando o sorriso para Frank, e o convidando para entrar. De perto ele parecia ainda mais feio (orelhas de dumbo,falta de queixo e óculos de aro de chifre). Ruth perguntou pela câmera, ele respondeu que estava no carro. Após mais algumas palavras entre os dois, Glatman demonstrou quem realmente era: sacou sua pistola Browning e perguntou a 
Ruth  onde era o quarto. Sem reação,  Ruth  indicou com a mão onde era o lugar. Harvey então ordenou para que ela fosse andando até lá , ela consentiu.

No quarto, Harvey mandou que 
Ruth  tirasse a roupa. A moça estava nervosa e gotas de suor surgiam de sua testa. Seus lábios tremiam. Ela sempre temeu algo semelhante, era difícil acreditar que estava acontecendo aquilo. Sem opções, Ruth teve que obedecer ao sujeito. Pensou ela que, se agisse conforme Harvey mandava, ela poderia sair dessa situação com vida. Quando já estava completamente nua,  Ruth  deixou Glatman acariciar suas partes íntimas. Seu sangue gelou, porém, quando ela viu que Glatman retirava do bolso interno da jaqueta um pedaço de corda, e quando o seu agressor mandou que ela virasse, sentiu a corda apertando seus pulsos. Glatman pediu para que ela não se assustasse, pois queria fazer amor com ela.  Ruth  cedeu. Glatman a estuprou.

Depois do ato, Glatman se deitou do lado dela. Ruth não ousava virar o rosto, ela ainda tinha medo de seu agressor. De repente, Glatman afirmou ter uma ideia: fazer um piquenique. Ruth afirmou que não entendia. Glatman disse que não haveria problema nenhum, duas pessoas que acabaram de “fazer amor”, se encontrarem para um piquenique. Ele a puxou pelos pulsos amarrados, Ruth gemeu de dor, mas Glatman ignorou a manifestação de dor. “Vou desatar você”- disse ele – “promete não gritar e nem fugir?”, Ruth garantiu que sim. Glatman a desamarrou e mandou se vestir. Segurou a calcinha de seda de Ruth por um tempo, entregando depois.

Ruth Mercado se vestiu rapidamente, mas não sabia exatamente o que estava reservado para ela. Tinha sérias dúvidas sobre o tal “piquenique. Em sua mente, havia apenas um objetivo: agir conforme mandava Glatman, para, assim, poder sair viva dessa história. Pela mente de Glatman também passavam pensamentos conflitantes. Ele não queria matá-la, mas não tinha opções. Sentado numa cadeira no canto, empunhando sua pistola, Glatman observou Judith se vestindo. Ruth, as vezes, piscava um olho e mandava sorriso na direção de Glatman, era uma tática para tentar agradá-lo. Glatman sabia que aqueles sorrisos eram falsos, no entanto, ele sentia pena dela. Mas o que ele poderia fazer?

Quando ambos estavam prontos, Glatman levou Ruth até o seu veículo, onde estava sua câmera fotográfica. Ele pretendia fazer o que mais gostava: Fotografar mulheres amarradas como “lembranças”; a mulher da vez era Ruth. Glatman já estava impaciente, achava que estava indo longe demais com Ruth. Quando Ruth terminou de se vestir, Glatman novamente a amarrou. Depois jogou seu casaco por cima das costa de Ruth, a fim de esconder as cordas,pois corria o risco de pessoas na rua as vissem. Ruth andou na frente, Glatman, empunhando a pistola, bem junto ao corpo de Ruth, a acompanhou. Quando chegaram ao surrado Dodge preto, Judith notou a câmera fotográfica Rolleicord no banco de trás, junto com outros equipamentos fotográficos. “Estamos indo tirar fotos?” Perguntou ela. Glatman olhou para ela e acenou confirmando e ligou a ignição e depois acelerou o carro. Ele seguiu a direção sul, pegando a St. Ana Freeway. Mercado parecia está recuperando a voz e se acalmando, porém, Glatman mantinha sua arma apontada para ela. 



O tour da morte.

Glatman guiou o carro pela Orange Country, pegou a Intercoastal para San Juan Capistrano até Oceanside. Seguiu para o leste, para o deserto, próximo ao Anza State Park. O sol ainda não tinha se posto, o calor do sol misturado ao terreno arenoso deixou a condição dentro do carro insuportável, mas nem isso Escanada incomodar Glatman. Ele encontrou um local para estacionar, numa área remota,onde poderia fazer o que quiser com Ruth, sem que a policia da Califórnia se intrometesse. Ele e Ruth saíram do carro e seguiram para o meio do deserto.

Mantendo a Ruth amarrada, ele novamente a estuprou e depois começou a fotografa-la em várias poses, exigindo da modelo cada vez mais ousadia, aquilo era gratificante. Ruth se manteve em silêncio, até por que, se ela gemesse, Glatman sacaria sua pistola. Um movimento brusco, um deslize e Ruth Mercado perderia a vida.
 
O dia estava acabando e Glatman sabia que chegaria o inevitável. 



Em depoimento prestado mais tarde, Glatman afirmou que não queria matar Ruth Mercado e viveu com esse conflito interior durante todo aquele dia. Depois, vendo que se arriscaria se deixasse Ruth viva, pois ela havia sido raptada, estuprada, obrigada a posar para fotos eróticas e com certeza o denunciaria; ele teve que matá-la: “Ela era aquela de quem eu realmente gostava. Eu não queria matá-la. Eu utilizei a mesma corda, o mesmo modo...” disse Glatman á policia.
   
Ruth deve ter sentido que suas chances de ser solta acabaram quando Glatman ordenou que ela posasse como um cadáver. Ele a mandou deitar sobre um cobertor que ele havia forrado no chão, fechar os olhos e não respirar. Ele então amarrou enrolou a corda em seu abdômen, amarrando seus joelhos e seus tornozelos. Ela ouviu os cliques das fotos e sentiu que Glatman se aproximava. Quando abriu os olhos, viu Glatman sobre si, pronto para esganá-la com uma corda. Ruth tentou lutar, mas amarrada como estava era impossível. Glatman a estrangulou com a corda.

Uma das fotografias de Ruth Mercado, ainda com vida, tiradas por Glatman. Glatman havia mandado Ruth se fingir de morta.

Harvey Glatman seguiu, então, o mesmo ritual das mortes anteriores: organizar o corpo em várias posições, como se fosse um boneco, e tirar várias fotografias. Glatman tirou a roupa do cadáver, exceto a calcinha, aquela, de seda, que tanto o atraiu. Depois, arrastou o corpo até onde nascia uma algaroba, onde logo ele serviria de alimento para coiotes e urubus. Glatman apanhou seu tripé, sua câmera, as cordas, o coberto que havia sido seu “ninho de amor” com Ruth Mercado, talvez ele seria uma ótima lembrança, e saiu,seguiu para onde estava o carro.

Olhando para trás, para o corpo abandonado (que mais tarde viraria ração de coiotes), Glatman sentia certa tristeza, mas o que ele poderia fazer? Se Ruth ficasse viva, com certeza o denunciaria. Voltar para cadeia era algo totalmente fora dos planos de Glatman. Ele novamente virou-se em direção ao cadáver. Não podia acreditar que Ruth era, agora, aquela “coisa morta”, sem expressão e de boca retorcida. Mas isso não importava, Glatman estava de bem consigo mesmo. O importante, agora, era voltar para casa, onde ele revelaria mais uma das suas “relíquias” no seu quarto escuro. Nas fotografias, Ruth Mercado estaria muito viva e viveria eternamente.

Corpo de Ruth Mercado

Outra fotografia do cadáver de Ruth.

O cadáver de Ruth Mercado (Angela Rojas) foi deixado não muito longe de onde foi deixado o de Shirley Bridgeford. 


*****


Enquanto isso, os familiares, amigos e conhecidos das três jovens mulheres questionam a policia sobre o paradeiro de cada uma delas. Acreditou-se que o desaparecimento de Dull foi simplesmente uma fuga. Jovens mulheres fugiam dos namorado e maridos, mas como explicar os desaparecimentos de Bridgeford e Mercado? Duas modelos e uma menina desapareceram, todas após saírem acompanhadas por um homem... Seria coincidência? Ou haveria ligações entre os crimes?
As três mulheres desaparecidas. Havia ligações entre os crimes?

O detetive de homicídios da LAPD (Los Angeles), o sargento Pierce Brooks, foi designado para investigar dois dos desaparecimentos misteriosos, aparentemente sem relação entre eles, mas acreditou que eles poderiam ter sido obras do mesmo individuo, que também poderia ter cometido mais crimes. Por sua própria conta, ele passou a estudar casos com Modus Operandi semelhante. Ele já estava reunindo evidencias importantes, quando algo aconteceu.

Pierce Brooks (A direita), seus estudos sobre Glatman viriam a servir de base para a criação do programa VICAP, do FBI.

Harvey Glatman, a essa altura, se achava invencível. Como acontece na maioria dos casos de serial killers, no primeiro assassinato ele era inexperiente, desconfortável e nervoso, mas depois foi ganhando confiança. E nesse ganho de confiança que muitos assassinos se dão mal. Foi assim com Glatman. 
A casa caiu.
Glatman havia obtido sucesso em controlar suas vítimas com sua arma e seu tão especial pedaço de corda três vezes. A corda era seu símbolo de poder sexual. Ele se sentia capaz de continuar sua caça por mulheres. Mas foi aí que ele se ferrou.

No verão de 1958, Glatman conheceu o famoso Diane’s Studio, uma das agências de modelos mais caras e de maior renome da época, localizada na Sunset Boulevard. Suas modelos eram frequentemente escolhidas para posarem para inúmeros anúncios de revistas e comerciais de TV. Diane, a proprietária, também era modelo e também posou para ensaios muitas vezes. O estúdio atraiu vários fotógrafos, entre eles Glatman. O preço mínimo por um ensaio nu era 30 dólares por hora.

Em 27 de outubro, fim da tarde, Harvey Glatman foi até Diane, pretendendo alugar uma modelo para um ensaio fotográfico. Na verdade, o desejo de Glatman era que a própria Diane aceitasse o ensaio. Diane já estava familiarizada com Glatman, e o conhecia pelo pseudônimo de Frank Johnson. Ela não deu muita bola para o rapaz de cabelo despenteado e seu cecê, fingindo está ocupada demais para ouvi-lo. Apenas afirmou que não poderia fazer o ensaio, mas poderia falar com uma de suas modelos particulares, chamada Lorraine Vigil, se ela aceitasse. Frank (Harvey Glatman) aceitou. Diana então ligou para a mulher que tinha assinado um contrato com a agência na semana anterior. Do outro lado da linha, Lorraine aceitou o ensaio entusiasmada. Diane acertou o encontro: Harvey teria que buscá-la oito da noite. No entanto, depois que Glatman deixou o estúdio, Diane ligou novamente para Lorraine e alertou: Cuidado com esse cara. Ele não me parece ser um fotógrafo profissional... “É sim assustador, mas você sabe o que eu quero dizer.” Vigil agradeceu o conselho e prometeu que iria se cuidar.

Foi com certa relutância que Lorraine aceitou entrar no carro de Glatman. O aviso que a amiga e gerente dera parecia fazer sentido. Ela passou a observar todos os movimentos de Glatman: Como ele se inclinou para soltar a embreagem, girou as chaves... Glatman foi em direção a St. Ana Freeway. Lorraine instruiu Glatman de que o estúdio era para o outro lado, ao qual ele respondeu que não iria para o Diane’s, mas sim para um estúdio particular. Alguma coisa em Lorraine dizia para ela que aquilo tudo estava errado. Ela perguntou se Glatman tinha certeza, ao qual ele respondeu que sim rindo. O sorriso do sujeito era desagradável.

Lorraine ficou em silêncio. Esse era o primeiro trabalho pelo Diane’s Studio. Relutar deixaria sua reputação suja, afinal, ela estava ali para posar para fotos, não podia desistir sempre que não fosse com a cara de alguém. Depois que o Dodge passou por vários cruzamentos, sempre acelerando, Lorraine perguntou por que Harvey estava tão calado. Ele não havia falado nada, desde quando ele deu uma risadinha. Ela perguntou onde era seu estúdio. Ele falou que era um pouco mais adiante, em Anaheim. Mais após o carro passar por Anaheim, Lorraine perguntou se ele não iria parar. Glatman rosnou um “esqueça!”, sem olhar para Lorraine. Ele mantinha os olhos na estrada,com uma expressão estranha. Lorraine percebeu que seu pé afundava vagarosamente no acelerador.


Lorrainde Vigil

 O alarme na mente de Lorraine Vigil soava mais alto. Ela começou a ficar mais inquieta. O aviso “Tenha cuidado” dado por Diane fazia ainda mais sentido. De repente Lorraine tomou coragem e perguntou para onde Glatman a levava. Glatman a mandou calar a boca, Vigil insistiu em querer saber para onde iriam. A reação de Glatman foi inesperada e violenta: Ele virou violentamente o carro em uma saída, quase provocando um acidente. Vigil bateu contra o painel e quando foi novamente se sentar, percebeu a placa que dizia Tustin Ranch Road. Glatman parou o carro na beira da estrada e Lorraine perguntou se ele queria matá-los. Harvey Glatman não respondeu, apenas ordenou que ela estendesse os braços. Lorraine sem entender pediu que repetisse o que ele havia dito. Glatman disse: “Pedi que estendesse os braços. Você está me dando nos nervos. Vou amarrá-la e tapar sua boca!”. Para demonstrar a seriedade de suas palavras, Glatman sacou sua arma. Lorraine Vigil encolheu-se desesperada. Puxou a maçaneta da porta e tentou fugir, mas Glatman foi rápido e puxou-a para dentro e a agarrou, envolvendo seu corpo com os braços. Tentando desesperadamente se livrar, Lorraine percebeu que Glatman segurava uma corda, que parecia ter surgido do nada, mas ela não iria desistir e lutou bravamente.

Glatman não esperava tal reação da moça. Estava se sentindo lutando com um tigre. “Fique quieta!” Resmungou Glatman e tentou mantê-la dentro do carro, pois se fugisse, ela poderia acenar para qualquer automóvel e entregá-lo para a polícia. Vigil lutou pela posse da arma. Ao puxar a pistola, um disparo acidental acertou sua coxa. O disparo pareceu assustar Glatman, que avançou pra cima de Lorraine. Ela abriu a maçaneta e ambos caíram para fora do carro, sobre cascalhos. Em seguida, Lorraine sentiu que Glatman tentava puxá-la novamente para dentro do carro.

Quando Lorraine Vigil (com sua perna doendo) já quase se entregava ao seu agressor, O Dodge foi iluminado por dois faróis brancos, inconfundivelmente, faróis do sedan da polícia. Lorraine podia respirara aliviada. Mancando, ela correu até o carro. Ainda estava com a arma de Glatman na mão e chorando muito. Ela ajoelhou diante dos policiais.

Glatman, por sua vez, não esboçou nenhuma reação, nem ao menos tentou fugir. Apenas se encolhu no seu carro, choramingando, afirmando que a culpa não era dele. O policial Tom F. Mulligan testemunhou mais tarde: “Ele tinha um olhar lunático. Nunca vou me esquecer daquele olhar selvagem que ele tinha.” 
Interrogatório.

Harvey Murray Glatman foi levado para prestar depoimentos. Os policiais tinham fortes suspeitas de que ele era o culpado pelo desaparecimento das outras meninas. Glatman se negava a falar. Um dos detetives chegou a puxá-lo pelo colarinho.


Em torno de Glatman, havia vários policiais armados e fardados, esperando a boa vontade do suspeito. Eles sabiam que Glatman poderia ser o responsável pelos três desaparecimentos e eles queriam ouvir as palavras dos suspeito, por isso estavam ali, sufocando, comprimindo Glatman. Vários policiais, de diferentes condados, reunidos na cadeia do condado de Orange. Entre eles, se destacavam os sargentos Pierce Brooks do LAPD e Elmer Jackson, que estavam lá para obter informações que pudessem esclarecer o paradeiro de Shirley Bridgeford. O capitão de policia Jim Bradford e o detetive John Lawton também estavam em buscas de informações. Eles acreditavam que Glatman era responsável pelo desaparecimento de Judith Ann Dull.


Harvey Murray Glatman, na noite em que foi preso, sendo escoltado por Pierce Brooks.
"Você se encaixa na descrição do estranho sujeito que acompanhava a senhorita Bridgeford", - lembrou Brooks - "O que diabos você fez com ela, onde ela está?"

"E diga-nos onde está Judy Dull, Harvey," - pediu Jim Bradford. - "Você a matou, você sabe que a matou."

"Conte-nos sobre a corda que encontramos em seu carro, e o canivete que estava em seu bolso, e também a arma que você utilizou para intimidar a senhorita Lorraine Vigil esta noite!" - disse Lawton batendo com o punho sobre a mesa - "Você estrangulou as outras meninas com uma corda, ou você esfaqueou elas, ou você atirou nelas?"

"Você tem passagem pela polícia no Colorado e em Nova York, também, Harvey," – disse Bradford -. "Algumas denúncias são por assedio. Você gosta de assediar mulheres, não é, Harvey?"

"Fala, não adianta chorar, porque nós sabemos que você fez isso!" - gritou Jackson -. "Nós sabemos que você é o único que se encaixa na descrição do suspeito... óculos, cabelos desgrenhados, roupas amarrotadas, e até mesmo uma câmera guardada em seu carro, uma câmera!"

"Câmera!" –ressaltou Brooks -. "O sujeito que matou a senhorita Mercado era supostamente um fotógrafo, e você é um fotógrafo, Harvey? É assim que você atraiu todas essas garotas à para matá-las? Você fotografou-as com sua câmera, em seguida, com atirou nela com sua 0,32?"

Harvey Glatman balançou a cabeça, com um olhar pensativo, como se dissesse: “Não, não... não foi isso que eu fiz, mas você está chegando perto”.

Glatman estava ansioso. As luzes direcionadas diretamente para seu rosto o estavam cegando. Sua boca estava seca e ele começou a ter dores de cabeça, suas têmporas estavam latejando. As próximas palavras foram “Aonde estão as meninas?”

Após muita insistência e horas penosas de silêncio, Glatman confessou. Chorando e baixando a cabeça, ele contou em detalhes como matou as três meninas, afirmando que não sabia outro jeito de se aproximar de mulheres. Glatman ainda revelou onde guardava suas fotografias: Na sua casa, numa caixa de ferramentas. Glatman disse também que, após o primeiro crime, ele pediu perdão para o cadáver de Judith Dull, porém, depois de um tempo, seu remorso e medo foram superados pela emoção do homicídio, que crescia cada vez mais.

Os investigadores se olharam, parecia inacreditável. Agora eles sabiam onde estavam as provas incriminatórias contra Glatman. A policia conseguiu um mandado para investigar a residência de Glatman, com fim de localizar as provas contra ele e prendê-lo. Naquela noite, o suspeito havia confessado seu crime, mas isso não era o suficiente. O que os policiais encontraram naquela noite, na casa do suspeito, era estarrecedor. Fotografias, demonstrando o terror pelo qual passaram todas as três jovens antes de morrerem. O testemunho de Glatman não foi chocante o suficiente, mas as fotografias faziam esse papel, causando arrepios na espinha de quem as viu.

“Elas eram imagens detalhadas que representavam a personalidade assassina de Glatman, que mostrava um gosto por colocar o horror naquelas meninas”. Disse o Dr. Robert Keppel no seu livro, A assinatura dos Assassinos, “Ele primeiro fotografava as mulheres com um olhar inocente em seus rostos como se elas realmente estivessem desfrutando do ensaio fotográfico. A próxima série representava o sadismo sexual do criminoso, mostrando a vítima aterrorizada e com horror iminente de uma morte lenta e dolorosa gravado em seu rosto. A última parte representa o domínio de Glatman sobre o corpo das vítimas, como ele havia “modelado” o corpo de forma que ficasse do jeito que queria. Essas eram as três fases centrais da assinatura do assassino em série Harvey Glatman. Seu único objetivo desde o inicio era torturara e matar... puni-las antes de depois de suas mortes”.
Os crimes de Glatman ganharam as páginas dos jornais.

Na época de Harvey Glatman, não existiam tantos estudos aprofundados sobre o comportamento de serial killers (o termo só foi criado na década de 70). O sargento Pierce Brooks, do LAPD, foi um dos pioneiros nos estudos que mais tarde, serviria como base para estudos sobre o comportamento de assassinos em série e na criação de perfis (Os primeiros estudos importantes foram os realizados no caso de Peter Kürten, o vampiro de Dusseldorf, Alemanha, e do canibal Albert Fish, nos Estados Unidos, ambos na década de 20). Robert Keppel refere-se ao sargento como seu “mentor”, elogiando seu trabalho: “Ele foi umas das primeiras pessoas a falar sobre a captura de assassinos em série examinando o seu comportamento em cenas de crimes”. Em outras palavras, Brooks foi o primeiro a reconhecer que um assassino serial pode deixar assinaturas, além de agirem sobre o mesmo Modus Operandi. Parte de seus relatos fez parte da base do que se tornou o programa VICAP (Programa de captura aos Criminosos Violentos) do FBI.

Busca por corpos.

Naquela noite quente, Glatman havia confessado ter assassinado Dull, Bridgeford e Mercado, e também tinha fornecido informações suficientes para manterem os policiais ocupados procurando mais evidências. Mas ele não seria imediatamente preso e levado para a cadeia. Ele foi algemado e seguiu em uma patrulha para Courthouse, próximo a San Diego Country. Os detetives queriam levá-lo para os locais onde os corpos foram abandonados. O delegado tinha certeza que Glatman não estava mentindo e que realmente havia matado as três mulheres, mas era necessário ver para crer. Sem os corpos, qualquer advogado de defesa poderia alegar que Glatman confessou sobre tortura, somente porque os detetives não queriam passar a imagem de trabalho mal feito, ou que ele somente confessou para buscar fama nas manchetes dos jornais.

Glatman, com alguns policiais, procurando por corpos,durante a noite.
Restava agora encontrar os cadáveres. A tarefa seria ainda mais terrível. Os cadáveres já deveriam estar em estado de decomposição, desfeitos e atacados por coiotes e urubus. Atrapalhava, também o fato de que, no deserto, não haveria luzes. A noite estava muito escura. Harvey ficou entre os dois detetives, no carro da frente do grupo, que era formado por vários policiais (Alguns haviam sido chamados por rádio, para se juntarem às buscas pelos corpos) em viaturas. Glatman guiou os policiais por onde havia passado de Los Angeles a San Diego Freeway, depois pelo deserto, ao leste, próximo ao Anza Park em Vallecito.

Primeiro, ele mostrou onde havia estuprado e assassinado Shirley Bridgeford; Um casaco de cor castanha e restos de ossos mostraram que ele não estava mentindo. O corpo havia sido atacado por animais e partes haviam sido levadas, mas mesmo assim, o que restou seria o suficiente para os peritos identificar o corpo como sendo o de Shirley Bridgeford.


Policial analisa o crânio de Shirley Bridgeford

Um policial ficou de vigia, guardando a cena do crime, enquanto o grupo se dirigiu para o local onde outro cadáver teria sido abandonado. O grupo de dirigiu pela Vallecito Road, até um ponto em que Hravey mandou parar, era por ali que ele havia deixado o cadáver de Ruth Mercado. O corpo ainda estava quase intacto: Havia tufos de cabelos no crânio. Glatman disse que era Angela Rojas (ele não sabia seu nome verdadeiro, pois foi por esse nome que ela se apresentou para ele). Os detetives sabiam que se tratava de Ruth Mercado. 

Policial ilumina os restos mortais de Ruth Mercado, próximo à arvore que nascia. Algumas partes haviam sido devoradas por animais selvagens


Já havia chagado o dia, os policiais estavam começando a ficar satisfeitos com o progresso das investigações. Decidiram voltar com Harvey Glatman para a cidade. Glatman levou os policiais até onde o cadáver de Judith Ann Dull teria sido abandonado, no deserto próximo a Indio. Não havia sobrado muito do corpo da moça, além de ums pedaços de roupas e restos de ossos. Os policiais tomaram conhecimento de que o cadáver da mulher havia sido visto por pessoas que caminhavam pelo local. Peritos em odontologia forense seriam capaz de realizar exames nas arcadas dentárias dos restos mortais das vítimas e fazerem uma identificação positiva.   

Já havia amanhecido, mas as buscas continuaram.
Glatman orienta Pierce Brooks.

Na segunda-feira, 3 de novembro Harvey Glatman foi oficialmente acusado em San Diego County. Essa cidade seria o local do julgamento de Glatman, apesar de outros três municípios reivindicarem o julgamento em seus territórios: Orange Country pelo seqüestro e tentativa de abuso e assassinato contra Lorraine Vigil; O Condado de Riverside, onde a senhorita Dull foi assassinada; Los Angeles, alegando que foi lá que todas as vítimas foram raptadas. No fim das contas, o julgamento seria realizado realmente em San Diego County, afinal, dois cadáveres foram localizados lá. O promotor de justiça James Don Keller estava de acordo

Uma vez definido o local do julgamento, James Don Keller havia montado a equipe de acusação. Eles queriam um julgamento justo, porém era preferível ver o acusado na cadeia. A equipe foi composta, além de Keller, de membros do gabinete de policia do condado de San Diego e representantes de outros municípios e da cidade de Los Angeles, incluindo o detetive Pierce Brooks (LPDA).

Uma das coisas que os policias desejavam era que a confissão e a descrição de cada crime por parte do assassino fossem registrada em fita de áudio. Harvey já havia confessado e se entregado voluntariamente a um julgamento. Tinha contado em detalhes como e porque havia matado aquelas meninas. Mas para que houvesse completa compreensão sobre os crimes e para que nenhum detalhe ficasse de fora e para uma analise melhor da mente doentia de Glatman, a gravação seria indispensável.

Gravações.

Levado para uma sala pequena, no prédio de policia do Condado, o tenente Tom Isbell e o sargento Robert Majors conduziram a sessão. Eles explicaram ao prisioneiro como seria feita a gravação dos depoimentos e as razões para tais. Glatman não apresentou nenhuma objeção. Eles ligaram o gravador. Major prefaciou o diálogo. Ele falou: “Harvey, antes de fazer qualquer declaração, gostaria que soubesse que elas serão gravadas nessa fita. Eu gostaria que você soubesse que tudo será gravado... Tudo será usado contra você em seu julgamento por assassinato. Você entendeu e concorda com isso?”

“Sim, senhor.” Respondeu Glatman balançando a cabeça.

Durante as próximas quatro horas, Harvey falou detalhadamente sobre os quatros assassinato: Como planejou o assassinato de Lorraine Vigil. O relato de como ele havia raptado Vigil soou aos ouvidos dos investigadores como saído de um filme. Os relatos eram tão escabrosos, que nada que aqueles policiais ouviram falar era similar. Ele disse sem erros as datas, endereços, como encontrou as modelos e detalhes dos ensaios fotográficos horrendos. Contou como a idéias das mortes surgiu em sua mente e foram crescendo gradualmente. Ele confessou como ansiava por sexo com as mulheres e como se sentia totalmente satisfeito somente depois de matá-las. Seu desejo sexual era incontrolável.

Enquanto falava, Harvey Glatman não demonstrava sinais de arrependimento ou remorso. Ele parecia não sentir nada em seu discurso monótono, mesmo quando se lembrava de sua terríveis ações, que culminaram na morte de três mulheres. Talvez, agora, ele se sentisse aliviado por está confessando. Desde que havia sido preso, ele clamou por sua morte. Talvez seu testemunho final, antes de sua execução, fosse a forma mais rápida de conseguir o que queria...

Glatman: o réu.

Havia somente uma pessoa que estava com pena do homem que estava sendo apelidado pelos jornais de “O assassino dos corações solitários”, foi Ophelia, sua mãe. Ela tinha 69 anos de idade nessa época. A idosa senhora se aventurou até a Califórnia, para visitar seu filho na prisão. Ela conseguiu permissão para ver Glatman no dia 12 de novembro, e após o encontro, saiu enxugando os olhos, muito triste e sentindo-se culpada. Ela havia visto em que tragédia foi parar o comportamento anormal do filho. Na saída, cercada por jornalistas, Ophelia declarou que seu filho não era um homem vicioso, mas sim doente. Essa foi uma das observações mais acuradas sobre Glatman. Os jornalistas não se comoveram pelo drama pessoal de Ophelia. Eles apenas se interessavam em noticiar o caso. É como acontece até hoje.



Os crimes de Glatman ganharam os jornais.
 
O advogado Willard Whittinghill, que havia recebido a missão de defender Harvey Glatman no tribunal, achou um caminho estratégico viável para tirar seu cliente do corredor da morte: Alegar insanidade. Para apresentar Glatman como louco, ele teria que submeter seu cliente a uma série de exames psiquiátricos pelas mãos do doutor C. E. Lengvel. Glatman desejava ser condenado à morte, mas seu advogado de defesa fez repensar na decisão e aceitar passar pela bateria de exames. Provavelmente, este foi o maior erro de Whittighill. A dúvida sobre a possível insanidade mental do réu foi totalmente desfeita pelo diagnóstico de Lengvel. Eis parte do relatório do exame de Glatman,feita pelo doutor Lengvel:


“O individuo não apresenta sinais de psicoses e insanidade. Ele tem noção do que é certo e do que é errado na natureza e na qualidade de seus atos, podendo optar por executar o ato, ou não.”

Enquanto isso, Don Keller se preparava para a próxima audiência em San Diego. Ele estava reunindo testemunhas para depor contra Glatman, nos crimes contra Ruth Mercado e Shirley Bridgeford. Os depoimentos mais importantes era os de alguns parentes de Shirley, que estavam em sua casa na noite em que Glatman foi buscá-la. Eles haviam o descrito como o homem que acompanhou Shirley naquele dia; Dia em que a mãe amorosa de dois filhos saiu pra nunca mais voltar.


Jornal publica as fotografias das vítimas de Glatman.



Uma revista da época também narra o crime.

Segunda-feira, 15 de dezembro de 1958, era o último dia do julgamento de Harvey Murray Glatman. Glatman já havia confessado sua culpa, mas a lei da Califórnia exige que os julgamentos sejam separados. Haviam duas opções para Glatman: Perpétua ou pena de morte.

Na primeira imagem, policiais conduzem Harvey Glatman até o tribunal. Na segunda imagens, fotografias de Glatman sendo conduzido ao tribunal.
Algumas testemunhas de acusação já tinham ido ao tribunal no julgamento anterior, mas haviam novas testemunhas, incluindo a única sobrevivente (e responsável pela prisão de Glatman) Lorraine Vigil, que já estava quase recuperada do ferimento na perna. Policiais falaram sobre a localização dos ossos das vítimas. Restos das mulheres abandonados no deserto. Eles explicaram como Glatman estava tentando dominar Lorrainde Vigil, puxando-a para dentro do carro e prestes a torná-la a vítima número quatro. Eles também descreveram a natureza perturbadora das fotografias encontradas no interior da caixa de ferramentas de Glatman. Ainda sob o efeito dos depoimentos de acusação, as fitas com a confissão gravadas do suspeito foram rodadas. Toda a sala ficou em silêncio. Todos os que estavam presentes tentavam imaginar o inferno pelo qual aquelas meninas passaram. Os parentes das vítimas começaram a chorar. Alguns não acreditavam no que aquele homem dizia.

Lorrainde Vigil mostra aos jornais as marcas das agressões.

Após a exibição da fita, o juiz perguntou ao advogado de defesa, Whittinghill, se ele tinha algo mais a declarar. Whittinghill, de mãos e pés atados, apenas respondeu “Não, Meritíssimo!”

O encostou-se à cadeira, com um olhar de descrença, olhou para o réu e disse: “Estive aqui, ouvindo essas gravações... A maneira como essas mulheres foram assassinadas... Eu nunca vi nada parecido e espero que nunca precise ouvir isso novamente na minha vida. O tormento, o sofrimento pelo qual passou essas mulheres durante a noite e no deserto... deve ter sido horrível.” O juiz pigarreou e retomou a palavra “O réu é acusado de assassinato em primeiro grau, vou impor a pena máxima sobre ele: A morte. Eu acredito que seja a única punição adequada nessa caso, em particular...” - virando novamente para Harvey Glatman - “Senhor Glatman... Que Deus tenha misericórdia de sua alma!”. Glatman foi condenado à câmara de gás.

Desfecho.

Harvey Murray Glatman foi transferido para o corredor da morte da San Quentin Prision, recebendo o número A-50239. Sua cela individual receberia, mais tarde, presos famosos, como Charles Manson e Richard Muñoz Ramirez. Glatman estava passando uma situação insuportável em sua cela, pois não tinha nada para se divertir. Nem sua câmera, nem algo para satisfazer suas vontades sexuais, como um velho pedaço de corda ou fio. 



Fotografia de Glatman, feita enquanto ele estava na prisão.

Porém, Glatman não esperaria muito tempo. Sua execução foi marcada para 18 de setembro de 1959, na manhã desse dia, Glatman foi levado para a “Green Room” de San Quentin Prision, onde inalaria cianeto.


O procedimento começou as 10:00 da manhã, e levaria cerca de 12 minutos, bem menos tempo do que as torturas as quais Glatman submeteu suas vítimas no deserto, isso contando o tempo das torturas de forma separada. A porta da sala verde foi fechada às exatas 10:01, as 10:02, Glatman foi preso dentro da cabine. O cianeto de sódio foi acionado e em alguns minutos se dissolveu. Glatman aspirou a fumaça venenosa. Os médicos observavam a execução através de um vidro. A pulsação foi avaliada como 200, mas baixou para 60 às 10:05. As 10:06, Glatman engasgou, 10:07, começou a babar como cão raivoso e sua cabeça baixou, balançando e se contorcendo.
Eram exatamente 10:12, de 18 de setembro de 1959, “O assassino de beldades”, fotografo assassino” e “Assassino dos corações solitários”, deu seu ultimo suspiro.

A forma com a qual Glatman morreu era medonha, provavelmente, ele iria preferir o enforcamento. Assim teria sua última experiência sado-masoquista da vida.

5 comentários:

  1. xow, curto muito seu blog. Leito esse texto gigantesco. Continue postando :)

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  2. Já li todos os post's, estou à espera de mais.

    Muito bom o blog.

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  3. Amei o blog , sou fascinada por assassinos em series

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  4. Parabéns pelo detalhes de riqueza desse material. Continuem assim! !!! Um grande abraço!!

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  5. É impressionante como a sociedade gosta de glamourizar criminosos. Hipócritas!

    Não é nada pessoal, só foi uma critica, não ao seu blog. Mas sim ao conteúdo.

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