15 de out. de 2012

Marcel Petiot: O Carniceiro de Paris


Para começar os relatos sobre o médico francês Marcel Petiot, vamos primeiro voltar a São Paulo do início do século passado ou final do século retrasado, quando ocorreu algo por muitos conhecido como o “tráfico de escravas brancas”. Nas conhecidas “Zonas do Meretrício”, prostitutas buscam clientes. Algo chama a atenção em muitas delas: A pele branca, sotaque arrastado e cabelos em tons claros. Tais mulheres chamavam a atenção entre a população mestiça. Muitos desconheciam, mas muitas dessas mulheres vieram de diversos países da Europa, fugindo da onda de anti-semitismo. Conhecidas como “polacas” (devido suas peles brancas e o sotaque, muitos presumiam eram polonesas) elas se estabeleceram em diversas cidades da América, principalmente em São Paulo e Rio de Janeiro. Russas, polonesas, tchecas. Muito pobres, quase sempre semi-analfabetas e sem documentos, vivendo em condições desumanas. Algumas conseguiram lucrar com a prostituição, tornando-se cafetinas, mas eram sempre reprimidas pelas “delegacias dos bons costumes”. Tais mulheres não tinham nenhum apoio, por isso, decidiram se ajudar e construíram inúmeras associações de ajuda mútua. 


Postal antigo mostra um cafetão combinando o preço de uma prostituta com vários clientes. As "polacas" vieram para o país fugindo da miséria e do anti-semitismo. Sem opções para viver no novo mundo, muitas delas se viram obrigadas a se prostituirem. (Foto de Novo Milênio)

Essa breve história serve para ilustrar a situação da Europa naquela época. Muitas pessoas buscavam abandonar suas casas e deixar suas histórias para trás tentando fugir da onda de anti-semitismo (preconceito com judeus) cada vez mais crescente, além da pobreza. Todo piorou depois a ascensão do nazismo e sua política de raça superior. Foi dessa onda de fuga que Marcel Petiot fez uso, para por seus planos homicidas em prática.
Fumaça.

Manhã de segunda feira, 6 de março de 1944, da chaminé da elegante e clássica construção, número 21 da Rue le Suer, Paris, França, se desprende uma densa, rançosa e "gordurosa" fumaça. A casa tinha história - Já havia sido até moradia de uma princesa francesa séculos atrás", agora aquela fumaceira se arrastava por horas e então por dias. Toda a rua estava sufocada pela fumaça, algo muito estranho. O que estaria cozinhando ali? Sábado,dia 11 de março, um dos moradores locais decidiu tomar providência e foi perguntar ao residente da casa o que se passava ali. Estranhamente, ele não encontrou ninguém em casa,mas sim um recado colado na porta: "Estou fora por um mês. “Por favor, encaminhar correspondências para o número 18, Rue de Lombardos, Auxerre”.

Será que a casa do cidadão estava ardendo em chamas? Preocupado, o homem comunicou o fato às autoridades. Dois policiais chegaram de bicicleta (imaginem a cena, hahaha). Vizinhos informaram que a casa pertencia a um médico de nome Dr. Marcel Petiot, que também tinha uma casa a dois quilômetros dali, no número 66 da Rue Caumartin. O comportamento de Petiot e os fatos ocorridos ali foram descritos como curiosos e intrigantes. Alguns relataram vários visitantes batendo à porta de Petiot, visitantes, estes, que nunca haviam sido vistos nas redondezas, incluindo um carroceiro com cavalo e tudo. Tais visitas começaram a cerca de dois meses antes do incidente da fumaça. Outro incidente marcante foi quando dois caminhões de mudança pararam de frente ao número 21 e foram retiradas do interior do imóvel nada menos que 47 malas, depois cerca de 40 sacos, cujo material não se podia deduzir.


O número 22 da Rue Le Sueur
Um dos oficiais, com receio de que a residência fosse destruída, conseguiu entrar em contato com o Dr. Petiot e o avisou sobre o fumaceiro. Ele perguntou se poderia derrubar a porta e entrar na casa, ao que o médico respondeu: "Não faça nada até eu chegar! estarei aí em cerca de 15 minutos..." Mais de meia hora se passou e nem sinal de Marcel Petiot. Como o fumaceiro só se intensificava, os policiais decidiram que era hora de agir e chamaram os bombeiros.

Os patrulheiros dos bombeiros entraram na residência, através de uma janela do segundo andar. A casa estava aparentemente em ordem, mas toda a tranquilidade acabou quando eles decidiram descer e investigar o porão. Quando eles entraram, uma ânsia de vômito tomou conta da equipe. O chefe de bombeiros avisou aos policiais: "Vocês têm muito trabalho pela frente". Três oficiais de policia desceram as escadas. No porão, um forno alimentado a carvão ainda estava em combustão. acima do fogão, um braço humano foi posto pra "secar", pendurado logo acima da boca do fogão. próximo, uma pilha de carvão misturado a fragmentos de ossos humanos e vários outros pedaços de cadáveres desmembrados. Era quase impossível contar quantos corpos haviam ali. 



Policial investiga o forno usado como crematório de corpos, no 22 da Rue Le Sueur. Os sinais de fumaça foram decisivos para a descoberta do plano macabro de Marcel Petiot.

Forno usado por Petiot na incineração de cadáveres.

Os policiais, enjoados e atormentados com o que viram, deixavam o porão e saíram da casa de Petiot, quando o médico chegou em sua bicicleta (outra?). Petiot comentou: Isso é sério, minha cabeça pode estar em jogo". Os policiais então questionaram Petiot sobre as terríveis descobertas feitas no porão do médico. Petiot respondeu prontamente que se tratava de cadáveres de alemães nazistas. Ele afirmou ser líder de um grupo de resistência e que matou aqueles homens em nome de sua amada França. Petiot afirmou ter vários documentos que confirmavam isso. 'É necessário destruir o inimigo antes mesmo dele nos encontrar!" disse Petiot terminando seu relato. Os policiais, assim como todos os cidadãos franceses, tinham um ódio mortal dos nazistas, pois a França havia sido ocupada por anos. Sendo assim,permitiram que Petiot continuasse livre, pois o médico era um herói, não um vilão.

Petiot foi embora. Ele ficaria fora das vistas por sete meses.

Apesar da liberação do médico, a policia continuou as investigações no número 22 da Rue Le Suer. Na garagem, os policiais encontraram uma pilha de cal, misturado á restos humanos, sendo reconhecidos um pedaço de couro cabeludo e um maxilar. Um poço havia sido escavado, e dentro, foram encontrados cadáveres em diferentes estágios de decomposição e muito cal. Debaixo da escada de mármore que ia do pátio ao porão, os policiais encontraram um saco de lona, contendo partes de um cadáver completo, faltando apenas um pé, a cabeça e os órgãos internos vitais, além de sacos cheios de ossos de pernas, braços e cabeças decepadas, sendo possível deduzir que ali haviam, pelo menos, dez cadáveres diferentes.

Corpos mutilados em diferentes estado de decomposição estavam espalhados por dois andares da casa do século 19. Posteriormente, policiais encontraram caixotes contendo 33 quilos de ossos carbonizados, 11 quilos de cabelo humano, incluindo 10 escalpos de tons diferentes e três caixotes de lixo misturado a pedaços humanos, pequenos demais para se identificar.

O comissário, Victor Georges-Massu, um veterano na policia parisiense, com 33 anos de serviço e mais de 3200 prisões no currículo,imediatamente assumiu o caso. Era necessário investigar a fundo o que havia acontecido na casa. Examinando a casa, ele observou as pias localizadas no porão, que eram grandes o suficiente para se lavar e drenar o sangue de cadáveres. Outra coisa a chamar a atenção foi uma câmara em formato octogonal, construída em material à prova de som, com algemas presas à parede e um olho mágico na porta. às 1:30 da madrugada, enquanto o comissário ainda estava com sua equipe na casa do médico, um telegrama foi enviado à Sede da polícia de Paris. Segundo este, Marcel Petiot havia sido preso por autoridades alemãs e enviado a um sanatório para doentes mentais. 



O assassino "Voyeur": Perito aponta para o olho mágico, por onde Marcel Petiot observava o suplício das vítimas. Parece que o motivo financeiro não era o único para os crimes do "Carniceiro de Paris".

Para os mais patriotas, a correspondência de que o médico teria sido preso por autoridades alemães, sugeria que Petiot era realmente o herói da resistência, como afirmava ser. A policia se encaminhou até o apartamento na Rue Caumartin, onde encontrou o imóvel fechado e nem sinal do médico ou de sua esposa. ao invés de ir ao encalço do médico, os policiais decidiram retornar às buscas na casa na Rue Le Suer. A policia tomou conhecimento de que Petiot havia sido preso pela Gestapo em maio de 19343, sendo mantido preso e torturado até 1944. Isso dava ainda mais crédito à versão do médico e eliminou qualquer urgência na caçada a Petiot.

Pesquisadores recolherem restos mortais de pelo menos 10 vítimas no porão da casa na Rue Le Suer, apesar dessa alegação pela policia, o legista chefe Albert Paul afirmou aos jornalistas que 10 era um número demasiadamente inferior ao real. Além dos ossos e de outras partes que puderem ser identificadas dos cadáveres, foram encontradas também 33 libras de ossos carbonizados, 24 quilos de fraguimentos não queimados, cerca de 11 quilos de cabelo humano e três latas de lixo com partes humanas, diminuidas de tal forma, que era quase impossivel de identificar. O exames mostraram que, das partes que puderam ser estudadas, a vítimas mais velha seria um homem com cerca de 50 anos de idade, a mais nova seria uma moça na faixa dos 25 anos de idade. As vítimas não apresentavam sinais de morte violenta e não havia nenhuma marca de faca ou ferimento à bala. Os exames demonstraram, também,que a causa da morte não foi causada por nenhum metal tóxico. Venenos orgânicos não poderiam ser detectados atravez de amostras das mãos das vítimas. A policia também realizou buscas no apartamento de Petiot localizado na Rue Carmatin, onde encontrou grande quantidade de clorofórmio, estricnina, digitálios e outros venenos em quantidades alarmantes, além de morfirna e heroina em quantidade muito superior a qual um médico poderia ter.

As dúvidas sobre o caso de Petiot se acumulavam, mas sendo ele herói ou vilão, ele já havia "metido o pé"deixando a policias às tontas. Três perguntas ficaram, duas delas com possiveis respostas:

Primeiro: Quem eram as vítimas encontradas no número 21 da Rue Le Suer? Com base na versão do médico, os policiais poderiam deduzir que fossem nazistas ou simpatizantes.

Segundo: Como elas morreram? Levando em consideração a grande quantidade de veneno, suficiente para matar muitos elefantes, encontrados no outro apartamento de Petiot, era plausível que a causa-mortis tenha sido envenenamento.

Terceira pergunta: Em que diabos havia se metido o Dr. Petiot?

A primeira vítima é identificada. 

Uma analise aprofundada, realizada pela policia, na tentativa de identificar uma das vítimas do matadourom humano da Rue le Suer surtil efeito. Jean-Marc Van Bever foi o primeiro a ser identificado. ele era um viciado em narcóticos, e havia se tornado fregues de Petiotpor um periodo, até ser preso em 1942 em uma operação policial para reprimir a venda ilícita de narcóticos para viciados em farmácias. Van Bever confessou as prescrições fraudulentas que havia solicitado a Petiot, entretanto, ele desapareceu misteriosamente antes mesmo de ser julgado, em março de 1942. a policia acreditou que ele havia sido assassinado devido a dividascoms traficantes un por qualquer outro motivo envolvendo o submundo das drogas, mas reconsiderou a versão após o encontro de partes de seu cadaver no 21 da Rue le Sueur.

Logo depois, a segunda vítima foi identificada: Marthe Khaït.

Khaït era mãsde um viciado em narcótico, Baudet Raymonde, que também havia estabelecido contatoscom Petiot a fim de conseguir medicamentos de forma ilegal. Baudet também foi presos pela policia, duas semanas antes do desaparecimento de Van Bever. Petiot procurou Marthe com uma ideia que poderia liver seu filho (e o próprio Petiot) da cadeia: ela procuraria a policia, mentindo, dizendo que umas das prescrições de Baudet (cuja folha só apresentava o nome Raymond) teria sido prescrito para ela, Marthe Khaït Raymond. Marthe concordou com o plano, entretanto, após consultar seu médico, desistiu. Ela desapareceu misteriosamente em 26 de março de 1942. Alguns dias mais tarde, o marido da mulher recebeu duas cartas,informanto que Marthe havia se juntado aos vários emigrantes que deixavam a Europa durante o esmagador dominio nazista. Entretanto, ele duvidou dessa suposta decisão damulher. Tendo conhecimento que Marthe havia estado com o Dr. Petiot tempos antes, ele foi procurá-lo. Petiot confirmou os planos damulher em deixar a França, algo no qual ele mesmo teria ajudado. Não convencidos, o marido e o filho de Marthe foram até a policia e declararam Marthe desaparecida em 7 de maio de 1942. Nem o cheiro de Marthe seria sentido outra vez, atéospoliciais encontrarem os restos mortais na Rue le Sueur.

Como visto, Marcel Petiot não era o herói da resistência que alegou ser.

Voltando ao ano de 1942, mês de julho, Petiot foi condenado por vender narcóticos sob prescrição fraudulenta, sendo multado em 10000 francos por cada infração. sua multa foi reduzida em um recurso para um total de 2400 francos. O Inspetor Roger Gignoux, responsável pela investigação dos desaparecimentos suspeitou do Dr. Petiot, entretanto, não havia indiciode que as vítimas estavam mortas, menos ainda uma forte ligação entre Petiot e os desaparecimentos. Nessaépoca, Petiot também desapareceu.

As Buscas pelo Dr. Petiot. 

De fato, em 13 de março de1944, começaram as buscas por Marcel Petiot. A policia localizou a família do médico - Sua esposa, Georgette; Seu filho e seu irmão, Maurice (Não é só no Brasil que os pais gostam de colocar nomes parecidos nos filhos) - Ele foram interrogados. Maurice Petiot, ao contrário do irmão, não tinha a astúcia e a lábia e acabou confessando ter fornecido grande quantidade de cal virgem, entregue na Rue le Sueur, agindo sob ordens de Marcel. ele foi preso em 17 de março, acusado de conspirar com seu irmão no assassinato daquelas pessoas. A esposa de Petiot, Georgette também foi detida, suspeita de ter ajudado o marido em seus crimes e também em sua fuga.


Georgette, a bela esposa de Petiot.
O comissário alemão Robert Jodkum investigou os motivos doas assassinatos na casa da Rue Le Sueur, assim como a prisão de Petiot pela Gestapo. Dr. Marcel Petiot havia sido preso em maio de1943, juntamente com outras três pessoas, suspeitas de ajudar judeus a deixarem a França ocupada pelos nazistas. Buscando por testemunhas, a policia encontrou um morador de Paris que estava planejando fugir com a ajuda de Petiot, mas no meio do caminho, desistiu da ideia. Petiot o havia oferecido ajuda, isso incluia documentos necessários para as viagens, mediante o pagamento de 25 000 francos. Soube-se também que o peleiro judeu Joachim Guschinov teria desaparecido, supostamente deixado o país em janeiro de 1942. Entre suas posses estavam 500000 francos em dinheiro vivo, cinco casacos de pele de zibelina, grande quantidade de outro, prata e diamantes avaliados em cerca de 700000 francos.
Nézondet, outro cúmplice do Dr. Petiot é levado sob custódia.

Fourrier, cumplice de Petiot é levado para a  cadeia.

Uma vez que tomou conhecimento do esquema da "rede de fuga", a policia não encontrou dificuldades em encontrara e prender os cúmplices de Petiot. René Gustave Nézondet, amigo do Dr. Petiot desde a infânciafoi preso em 17 de março de 1944. Roland Porchon, amigo de Nézondet também foi encontrado e preso no mesmo dia. eleadimitiu fazer parte do esquema da "rede de fuga", enviando clientes para Nézondet e para Marcel Petiotem julho de 1942. Porchon disse aos detetives que Nézondet havia se referido a Petiot como o "Rei dos criminosos", e afirmou ter visto 16 cadáveres estendidos no porão da Rue le Sueur. Outra testemunha afirmou que Nézondet havia dito que teria ajudado Petiot a esconder corpos. rené Gustave, por sua vez, negou todas as acusações, mas em 22 de março, acabou confessando participação nos crimes do médico. Embora tenha alegado que só tomou conhecimento dos cadáveres da Rue le Sueur emnovembro ou dezembro de 1943, época em que o Dr. Petiot encontrava-se preso pela Gestapo. Além dos cadáveres, Nézondet também havia visto um diário, com cerca de 80 nomes. Nomes de possíveis vítimas do médico.
O irmão do assassino: Maurice Petiot é preso enquanto embarcava em um trêm com destino a Auxerre.
Mais seis pessoas foram presas durante o cerco a Petiot, incluindo um barbeiro, que fazia a barba do médico em sua barbearia, na Rue dês Mathurins, Albert e Simone Neuhausen, que receptaram coisas roubadas, confessando, inclusive, a retirada de bagagens na Rue Le Sueur. A maioria dos suspeitos foram liberados em abril de 1944, mas Nézondet permaneceria cativo por cerca de 14 meses. Petiot estava foragido quando as tropas aliadas invadiram a França, em seis de junho de 1944... era o Dia D.
Uma Juventude anormal.

Marcel André Félix Henri Petiot (achei que meu nome era longo) nasceu na cidade de Auxerre, à cerca de 100 quilômetros de Paris, em 17 de janeiro de 1897. Os detalhes de suas infância são escassos e incertos, a maioria dos relatos foram feitos por vizinhos, que conviveram com a família de Petiot na época de sua infância e não está clara a quantidade de informações forjadas pela imprensa. Sabe-se que Petiot nunca foi uma pessoa normal, tendo gosto, desde cedo, pela tortura. Petiot foi visto várias vezes, torturando pequenos animais até a morte destes.

Seus professores o consideravam um menino inteligente, porém muito introspectivo, solitário e com certo déficit de atenção. Apesar de certas dificuldades, Petiot era um leitor execelente, aos cinco anos de idade lia como um menino de 10. Por essa época, Petiot descobriu o sexo, convidando um colega do sexo masculino para manter relações com ele. Aos 11 anos de idade, apanhou o revolver do pai, levando escondido para a escola,onde atirou para o alto, durante uma aula de história (nunca vi alguém odiar tanto a disciplina de história). Outro episódio curioso,foi o dia em que Petiot pediu para que um colega ficasse encostado na porta e então começou a atirar facas na direção do menino, imitando um número de circo.

É lógico que os pais do pequeno Marcel Petiot estavam preocupados com o comportamento do filho. Em 1907 (ou 1909), um médico examinou Petiot e disse aos seus pais que Petiot estava propenso à ataques de convulsão e sonambulismo. Ele também poderia apresentar um quadro de enurese (falta de controle da urina durante o sono).

Em 1912 aconteceu algo que mexeu com Marcel e seu irmão: sua mãe faleceu. Por essa época, seu pai arrumou um emprego em Joigny, a 15 milhas de Auxerre. Marcel Petiot e o irmão, Maurice, foram morara com uma tia. Entretanto,o mau comportamento de Petiot na escola começou a atrapalhar seu desempenho e ele foi expulso, próximo ao fim do ano letivo. Enviado para morar com o pai, Petiot matriculou-se numa escola em Joigny, onde também não ficou por muito tempo, sendo expulso por comportamento indisciplinado e "sobre-excitação"
As travessuras infantis de Petiot logo evoluíram para o crime. Aos 17 anos de idade, Marcel Petiot roubou uma caixa de correio, sendo acusado de roubo de correspondência e prejuízo a propriedade pública. O tribunal recomendou avaliação psicológica, uma vez que o rapaz não parecia normal. Em 26 de março de 1914, um psiquiatra descreveu Marcel Petiot como um “jovem anormal, sofrendo de problemas emocionais e hereditários que limitavam em grande parte sua responsabilidade por seus atos”. Isso foi o suficiente e, AM agosto daquele ano, o juiz declarou que o acusado “parecia ser um doente mental”, sendo considerado irresponsável de seus atos devido à insanidade.

As punições escolares devido à indisciplina estavam se tornando rotina na vida de Petiot, e ele foi expulso de outras duas escolas, uma em Dijon e outra em Auxerre, antes de conseguir se formar em Paris, em uma escola especial para jovens repetentes, em julho de 1915. Nessa época, o mundo estava sentindo o aproximar da Primeira Guerra Mundial, e Patiot, assim como muitos jovens franceses, foi convocado para fazer parte da infantaria francesa, em janeiro de 1916, sendo enviado para a frente de batalha em novembro. A guerra significaria um epsódio marcannte na vida de Petiot, pois seis meses depois, enquanto lutava no distrito de Aisne, Petiot foi vítima de uma bomba de gás, que explodiu atingindo-o e atingindo seus companheiros, além de fragmentos de granadas. Os ferimentos foram tratados e curados, entretanto Petiot apresentou sintomas de doença mental grave, sendo enviado para várias casas de repouso e clínicas militares. Acusado de roubar cobertores do exército, Petiot foi preso em Orleans, enviado depois para uma enfermaria psiquiátrica em Fleury-les-Aubrais. Lá, Petiot foi diagnosticado como sofrendo de “desequilíbrio mental, neurastenia, depressão mental aguda, melancolia, obsessões e várias fobias”. Mais uma vez, Petiot foi considerado inocente do roubo de cobertores, mais uma vez devido sua insanidade.

O diagnostico de insanidade, no entanto, não deixou Petiot fora do campo de batalha. Em julho de 1918, ele novamente voltou para as trincheiras. Durante um colapso nervoso, deu um tiro no próprio pé. Transferido para o depósito da ferrovia de Dijon, em julho, atrás das linhas de batalha, Petiot demonstrou mais sinais de que algo estava errado com sua saúde mental: Ele teve um ataque de convulsão, desmaiou e ficou inconsciente por mais de um dia. O episódio lhe rendeu licença de três semanas, período em que ele descansou, entretanto, ele foi mandado outra vez para as linhas de batalha. Acreditava-se piamente que Petiot estava em prefeito estado para lutar para a guerra, mas essa crença sempre se mostrou um erro. Petiot voltou para batalha em setembro de 1918, mas queixou-se de fortes dores de cabeça, além de apresentar um comportamento errático. Como já era de se esperar, Petiot foi mandado novamente para o tratamento psiquiátrico, em Rennés, em março de 1919. Desta vez o seu diagnóstico foi bem mais complexo: Amnésia, sonambulismo, depressão e tendências suicidas. Considerou-se que 40% da capacidade mental de Petiot estava comprometido e dessa vez a história seria diferente: Petiot foi completamente liberado do serviço militar em julho de 1919, além de receber uma pensão por invalidez. A guerra já havia terminado, quando, no ano de 1920, Marcel passou por outro exame psiquiátrico. O resultado foi alarmante, tendo Petiot uma taxa de incapacidade aumentada de tal forma, que ele estava quase completamente louco O médico responsável pelos exames recomendou que Marcel fosse enviado para um hospital psiquiátrico.

O que muitos não sabiam é que Petiot já estava em um hospital psiquiátrico, entretanto não como um interno, mas sim como um assistente médico. Ele foi ajudado por um programa de educação rápida para veteranos de guerra, concluiu o ensino médio em 8 meses e estava cursando o primeiro de dois anos de estágio em um hospital psiquiátrico, em Evreux, recebendo seu diploma em medicina em 15 de dezembro de 1921, pela Faculté de Médeceine, em Paris.

A inimputabilidade penal de Petiot não o impediu de se tornar um médico completo.



O Médico e o Monstro.

Marcel Henri Felíx Petiot em 1921.

Com seu diploma na mão, Petiot mudou-se para a cidade de Villeneuve-sur-Yonne, uma cidadezinha a 25 milhas de distância de Auxerre. Sua chegada na cidade foi um tanto notada, sendo impressos até mesmo folhetos comparando-o a médicos experientes (na época, Marcel Petiot tinha 25 anos de idade). Um panfleto espalhado pela cidade dizia: “... O Dr. Petiot é jovem, e só um médico jovem pode se manter atualizado sobre os mais recentes métodos científicos nascidos de um progresso que marcha a passos gigantes. Por esse motivo, pacientes inteligentes têm confiança no Dr. Petiot. Petiot trata... porém não explora seus pacientes...”

Todo esse cenário criava uma imagem charmosa de Petiot na mente de muitas pessoas. Entretanto, Petiot recebia dinheiro do Estado devido sua insanidade, além de atender como médico particular e cobrar dinheiro dos pacientes. Marcel não ficou longe das falcatruas e passou a prescrever narcóticos viciantes de forma ilegal, e muitas vezes quase fatais. Uma vez ele foi procurado por um farmacêutico indignado. Petiot havia prescrito uma quantidade de drogas enorme, quase fatal, para um menino de 10 anos de idade. Quando o farmacêutico protestou , Petiot respondeu: “Que diferença faz pra você, afinal? Não é melhor acabar com a vida de um garoto que não está fazendo nada de bom para o mundo, mas somente importuna sua mãe?”

O comportamento cada vez mais fechado do Dr. Marcel Petiot começou a chamar a atenção da vizinhança, e acabou se tornando assunto nas conversas de esquina. Petiot gostava do isolamento e vivia uma vida modesta, sendo seu único luxo um moderno carro esportivo que Petiot dirigia sempre de forma imprudente. Ele causou inúmeros acidentes de trânsito.

Ladrão habilidoso, Marcel passou a causar suspeitas em muitos nos arredores, incluindo seu irmão, Maurice. Sempre que Petiot o visitava, Maurice insistia para que ele virasse os bolsos do avesso, e sempre o surpreendia com algum objeto escondido por debaixo das roupas. Os furtos também ocorreram em sua residência, onde Petiot acabou sendo expulso do local pele senhorio, após vários furtos de móveis e utensílios domésticos. Entretanto, Petiot sempre ignorava as ameaças de denuncias. Afinal, ele estava tranquilo, com a possibilidade de ser considerado louco novamente.

Por essa época, em março de 1922, Petiot compareceu a Comissão de Réforme sobre a demanda de novos exames psiquiátricos, afim, de se avaliar sua capacidade mental e manter seu beneficio por insanidade. Entretanto, os membros da Comissão ficaram chocados com as declarações de Petiot, que “pura e simplesmente recusou-se aceitar qualquer pensão por invalidez de ninguém, de modo a evitar ser submetido a mais desse exibicionismo desagradável”. Ainda sim, Petiot continuou recebendo cheques do governo, sendo reexaminado em julho de 1923. Dessa vez, médicos constataram feridas e cicatrizes na língua de Marcel Petiot, elas eram resultado de mordidas, que Petiot dava na língua durante crises epiléticas e que Petiot demonstrava “indiferença total” pelo seu futuro. Visto isso, sua incapacidade penal foi considerada reduzida para 50 %

Em 1926, os vizinhos de Marcel Petiot foram surpreendidos por seu envolvimento tórrido com a jovem Louise Delaveau, filha de uma de suas pacientes, a idosa Madame Fleury. Coincidência ou não, o fato é que após o inicio do romance, a casa dos Fleurys foi invadida, assaltada e incendiada. Ninguém ligou os fatos a Petiot. Em maio de 1926, no entanto, Louise desapareceu e nesse caso, Petiot foi considerado culpado. Vizinhos relataram tê-lo visto sair com um grande baú em seu carro, que se assemelhava e muito com o que foi retirado de um rio semanas depois, contendo os restos mortais desmembrados de uma jovem mulher jamais identificada. A policia não ligou uma coisa a outra e ignorou a “coincidência”. Após uma breve investigação, foi descartada a hipótese de fuga. É bem plausível que Louise tenha sido a primeira vítima de Petiot.

Tempo após o desaparecimento de Louise, Petiot decidiu concorrer para prefeito de Villeneuve-sur-Yonne. A campanha longa e difícil culminou em julho de 1926, depois que Petiot contratou um cúmplice para atrapalhar seu oponente em um debate político. Quando Petiot passou a palavra, seu comparsa cortou a energia do local, deixando tudo escuro. Para evitar que as atenções se voltassem ao debate, o comparsa de Petiot iniciou vários incêndios na cidade. Petiot “ganhou” o debate por “desistência”. Seu adversário, mais tarde, disse à Comissão de Réforme que Petiot era um gabola, que se achava o máximo por saber fingir a loucura para se livrar do serviço militar. No entanto, outra avaliação de seu estado mental confirmou o antigo diagnóstico de doença mental, excluindo a possibilidade de fraude.

Petiot na política.

Villeneuve-sur-Yonne agora tinha um sujeito mentalmente desequilibrado no comando. A cleptomania de Marcel Petiot e sua fama de está sempre metido em falcatruas eram conhecidas por todos: O prefeito Petiot era suspeito de roubar dinheiro da tesouraria da cidade, um bumbo pertencente a uma banda musical e até mesmo uma grande cruz de pedra, da qual Petiot não gostava por considerar uma monstruosidade. Algumas habitantes da cidade não gostavam de como Petiot agia, enquanto outros o elogiavam, chamando-o de o melhor prefeito que a cidade já teve. Petiot afirmava que as c´riticas eram intrigas de inimigos políticos.

Em junho de 1927,Petiot conheceu e casou-se com Georgette Lablais, 23 anos de idade, filha de um rico proprietario de terras em próximo a Seignelay. Com Georgette, Petiot teria um filho,seu único filho, nascido em abril do ano seguinte.

Fotografia de casamento de Marcel Felíx Petiot e sua esposa, Georgette Lablais, em 1927.

Oito meses depois, Petiot foi novamente acusado de roubos, dessa vez de latas de óleo de um deposito pertencente à ferrovia de Villeneuve-sur-Yonne. Como se soube depois, Marcel Petiot não tinha roubado as latas, comprando-as legalmente, entretanto Petiot havia negado o recebimento da encomenda, pedindo,assim,reembolso. No inicio de 1930, Petiot foi multado em 200 francos e condenado à três meses de prisão, sendo retirado do cargo de prefeito por quatro meses.após algum tempo, ele conseguiu reverter a punição em recurso.


Incêndio. 

Numa noite de março de 1930, o fogo consumiu por inteiro a casa do sindicalista Armand Debauve. Sua esposa, Henriette Debauve, foi encontrada dentro do local, espancada até a morte com uns instrumento pesado. A policia suspeitou de latrocínio, uma vez que foi dada a falta de 20000 francos, além de várias pegadas pelo lado de fora da casa. Surgiram rumores de que Henriette era amante do Dr. Petiot e, segundo alguns, ele foi visto nas proximidades da casa dos Debauves na noite do crime. soube-se que havia uma testemunha, um tal de Monsieur Fiscot, que havia mostrado certa vontade de depor, entretanto,acometido de dores resultantes do seu reumatismo, Fiscot acabou não tendo opção e foi se consultar no consutório de Petiot. Fiscot recebeu uma injeção e morreu três horas depois. O próprio Petiot assinou o atestado de óbito, afirmando que Friscot morreu em decorrência de um aneurisma.

Em abril, Armand Debauve deu seu depoimento à policia, dizendo que um vizinho alegou que podia identificar Petiot como o assassino de Henriette. Gendarmes locais procuraram ajudar a investigação policial, entretanto,os arquivos policiais desaparecerem misteriosamente. Eles seriam encontrados somente em abril de 1946, época em que Petiot já havia sido acusado dos múltiplos assassinatos em Paris, entretanto  ninguém ficou interessado em reaver o caso Debauve e ficou por isso mesmo.

Durante os 16 meses seguintes, inúmeras denuncias contra Petiot surgiram, principalmente feitas pelo prefeito logado (Petiot ainda estava suspenso do cargo), a maioria sobre roubos e irregularidades financeiras. Os promotores responsáveis pelo caso investigaram, encontrando 138 solicitações de registros de estrangeiros e 2890 francos em honorários realizados na prefeitura, nunca repassados à autoridades competentes  Petiot culpou seu secretário que aceitou a responsabilidade. Entretanto, Petiot foi suspenso do cargo de prefeito pela segunda vez em agosto de 1931, renunciando no dia seguinte. O conselho da aldeia também se demitiu, em solidariedade, deixando os arquivos em total desordem e muitas ordens de compra adulteradas.

O cargo de Petiot foi oficialmente revogado no mes seguinte, mas ele pareceu não se importar muito. cinco semanas depois, em 18de outubro, Petiot foi eleito como um dos 34 conselheiros gerais do destrito de Yonne. Entretanto, Marcel Petiot sairia novamente dos trilhos, tendo um mandato intensamente tempestuoso. A sanha de roubar novamente se aflorou em Petiot e ele foi acusado, mais uma vez, de furtar energia elétrica da audeia de Villeneuve-sur-Yonneem agosto de 1932. Indo a julgamento por esse crime no ano seguinde, Petiot foi condenado a 15 dias dereclusão e uma multa de 300 francos. Petiot recorreu e acabou tendo sua pena comutada no pagamento de 100 francos de multa. Apesar disso, Mercel Petiopt acabou perdendo seu cargo no conselho, mas isso pouco importava, pois eu plano era se dirigir à Paris, a cidade das luzes, onde começaria vida nova...Ou quase...



Crimes na Cidade das Luzes.

Uma vez em Paris, Petiot promoveu-se, oferecendo seus serviços de médicos, alegando ter um amplo conhecimento e oferecendo uma ampla variedade de tratamentos. Algumas de suas credenciais eram reais, mas também haviam imaginárias. Nos anúncios, Petiot se descrevia como um ex interne( Expressão usada para se designar estagiário) em um hospital psiquiátrico, entretanto, Petiot havia sim sido interne (paciente). do lado de fora de seu consultório, na Rue Caumartin, número 66, Petiot fixou uma placa cheia de promessas e tratamentos falsos. Um médico se queixou à Associação de Médicos, que obrigou Petiot a remover a placa dali.

Apesar de suas mentiras e credenciais falsas, Petiot atraiu uma clientela enorme e obteve uma reputação exemplar. Anos mais tarde,após as descobertas na Rue le Sueur, policiais procuraram por antigos clientes de Petiot, gente de todo canto de Paris. Mais de 2000 pessoas foram ouvidas, todas elas elogiaram os procedimentos e os cuidado do Dr. Petiot.

Coexistindo com a boa reputação do médico, haviam rumores de que Petiot era envolvido com a pratica de abortos (algo ilegal na época) e que fornecia remédios para viciados, de forma fraudulenta, afirmando ser para a "cura". Em 1934, Hanss Raymond, 30 anos de idade, foi até o consultório médico de Marcel Petiot,pois sofria de abscesso em sua boca. Ele passou por uma cirurgia e ainda estava inconsciente quando Petiot o levou para casa. Hanss jamais recuperaria a consciência, morrendo horas depois. Anne Coquille, mãe de Hanss exigiu que fosse realizada a autopsia no corpo do filho.Foi encontrada uma grande quantidade de morfina no corpo de Hanss. O legista procurou anular o enterro até que uma investigação fosse feita de forma completa, no entanto, a policia resolveu não levar o caso adiante e fecharam o caso sem formular acusações. Madame Coquille renovou suas queixas em 1942, mas a conclusão do tribunal foi a de que Hanss havia morrido de causas naturais.

Em 1935, Petiot enfrentou a primeira investida da policia em seu negócio ilegal de venda de narcóticos, entretanto, nenhuma evidencia conclusiva foi encontrada. No ano seguinte, Marcel Petiot foi designado médecin d'etat civil , no nono Arrondissement de Paris. Esse cargo lhe permitia assinar atestados de óbito. como já era de se esperar, Petiot usou o novo cargo para ganhar dinheiro fácil. Em dezembro de 1942, Petiot foi levado para se pronunciar acerca da morte de um rico advogado, morto durante um dos tratamentos do médico. Marcel Petiot foi acusado de ter roubado 74000 francos da casa do homem morto. Petiot foi pego em flagrante, furtando um livro, em abril de 1936. Enquanto era levado até a delegacia, Marcel agrediu o policial e fugiu a pé. dois dias depois ele apareceu chorando e implorando por misericórdia, afirmando que ele não eras responsável por esse comportamento, para provar, Petiot citou os registros de dispensa militar por razões de insanidade. Petiot acabou (novamente)sendo absolvido. Sua esposa, Georgette, recebeu a missão de interná-lo em um sanatório particular em agosto de 1936.

Quando Marcel Petiot pisou no hospital,ele rapidamente pediu que fosse levado para casa. Sua loucura havia passado,assegurou aos médicos. Tudo teria sido apenas uma crise momentânea, causada pela preocupação e ansiedade com sua nova invenção - Uma máquina de sucção, construída para aliviar a constipação. vale lembrar que nessa época, era comercializado todo tipo de máquinas "milagrosas", desde máscaras para afinar o nariz, até máquinas com lentes que prometiam curar todo tipo de doença. O psiquiatra Dr. Rogues de Fursac diagnosticou Petiot como "cronicamente desequilibrado", porém, mesmo assim recomendou que sua liberação em setembro de 1936. A questão sobre a liberação de Petiot foi novamente analisada, sendo o médico examinado por três psiquiatras. O relatório médico alegava que haviam várias dúvidas sobre a alegação de cura de Petiot, entretanto, não havia nenhuma base legal para manter Petiot encarcerado ali e o médico acabou sendo solto em fevereiro de 1937.

A reputação de Petiot havia sofrido uma mácula após sua última prisão, e ele desejava “limpar sua barra” quando mais uma dês suas falcatruas foi descoberta: A fraude fiscal. Entre 1937 e 1940, Petiot aplicou golpes no imposto de renda, declarando 10% de sua renda real. Por exemplo, no ano de 1938, Petiot declarou ganhar 13100 francos, quando na verdade ganhava cerca de 500000 francos. Pelas fraudes, Petiot foi condenado a pagar uma multa de 35000 francos, apesar de sua defesa que incluía inúmeros apelos de pobreza.

Em 1 setembro de 1939, algo terrível aconteceu na Europa: O exercito nazista invadiu a Polônia. As tropas polacas, atrasadas em vista do poder bélico alemão, foram massacradas. Em 6 de outubro de 1939, a Polônia caiu. A operação militar Fall Weiss havia sido um sucesso. 

Esquema da operação Fall Weiss. as tropas polonesas, formadas principalmente por cavalarias soram massacradas pelos alemães. Era o início da Segunda Guerra Mundial.
O mundo assistia atônito a marcha nazista pelas ruas polonesas. Mal o mundo havia se livrado da Primeira Grande Guerra, uma segunda se aproximava. A resistência polonesa entrou em colapso e foram inaugurados os sete meses de “Guerra Falsa” (Drôle de Guerre) entre a França e a Alemanha (03 de setembro de 39 até 10 de maio de 40). Guerra Falsa é como ficou conhecido o período compreendido entre a declaração do estado de guerra da França e Reino Unido à Alemanha Nazista e a invasão por esta última da França, Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo, durante o qual não houve verdadeiros combates armados. As tropas alemãs invadiram a Holanda, Belgica e França e em 17 de julho de 1940, o Comandante francês, Philippe Pétain declarou uma “cidade aberta” e as tropas nazistas tomaram a capital francesa. Um governo colaboracionista francês foi organizado duas semanas depois. Uma mensagem de cessar-fogo foi espalhada. Quarenta mil soldados franceses baixaram as armas em 22 de junho, enquanto uma resistência armada se preparava para lutar.
Nazistas na cidade das luzes: Adolf Hitler posa para foto em frente à Torre Eiffel


O Frances chora pela rendição de seu amado país: O ódio e ressentimento pelo governo nazista fez com que muitos considerassem Petiot um herói, entretanto, mais tarde, se mostrou

O cenário da ocupação nazista era bom para Petiot, que agora planejava imitar e usar os alemães. O novo mundo representava a oportunidade de lucrar mais acima do sofrimento alheio.
Fly-Tox.

Assim como dito por Petiot, ele realmente fez parte de um grupo de resistência, pelo menos um pouco de seus relatos era verdade. Logo após a invasão nazista na França, Petiot passou a fornecer atestados médicos à franceses que seriam mandados para os campos de trabalho. Petiot também cuidou de doentes e feridos que voltavam para da frança para Alemanha. Ele sempre tentava obter alguma informação sobre os futuros movimentos de tropas nazistas e sobre o desenvolvimento bélico nazista. Sua rede de resistência foi apelidada de Fly Tox: Um inseticida muito popular na época. O nome foi escolhido devido ao fato de que informantes eram chamados de moscas. A Fly-Tox espionou a sede da Gestapo em Paris, identificando colaboradores para que eles pudessem ser eliminados por assassinos da Resistência.

Entretanto, alternando com as história verídicas, muitas das batalhas patrióticas de Petiot não passaram de alegações falsas, tentando dar a muito de seus crimes uma cara mais “digna”. Petiot alegou ter criado armas secretas, que mataram nazistas sem deixar rastros. Seus aliados negaram a existência de tais armas e nenhuma evidência delas foi encontrada. Petiot alegou estar trabalhando com um grupo antifascista espanhol em Paris, mas não foi encontrado nenhum grupo espanhol antifascista na cidade. As alegações de bombas de plantio e armadilhas nos arredores da cidade eram tão incríveis, que eram justamente uma longa viagem ao mundo da fantasia de Petiot.

A missão de Petiot no grupo de resistência, após o ano de 1940, era divulgar os pontos e rotas de fugas. Ele aceitava judeus, combatentes da resistência e criminosos baratos – de fato, qualquer um que pudesse pagar o preço de 25000 francos por cabeça, quantia exigida por Petiot. Se a pessoa pagasse, Petiot garantia passagem segura para a América do sul, incluindo a documentação completa necessária para viagens. Em 1941, Marcel Petiot adquiriu a casa na Rue Le Seuer, número 21, que, segundo ele, seria usada como ponto para o caminho de fuga. Isso segundo ele, é claro...

Entre os primeiro clientes de Petiot, dois eram cafetões de Paris: Joseph Réocreux e Adriene Estébétéguy, exploravam prostitutas, mas também decidiram lucrar através de assaltos a mão armada usando disfarces de agentes da Gestapo. Procurados pela policia Francesa e por agentes da Gestapo, Joseph Réocreux buscou ajuda nas mãos de Petiot. Marcel Petiot usava nome falso, Dr. Eugène, para atender seus clientes ilícitos. Em setembro de 1942, Réocreux e Petiot se encontraram e combinaram como iam agir. Joseph Réocreux e sua amante, Claudia Chamoux, viajariam na companhia de outro casal – O também cafetão, François Albertine e a prostituta Annette Basset - Joseph Réocreux pagou a taxa cobrada por Petiot e desapareceu no 21 da Rue Le Sueur. Estébétéguy e sua namorada, Gisèle Rossny procuraram os serviçoes de Petiot em março de 1943 e também desapareceram sem deixar rastros. Mais tarde, Petiot se vangloriaria de ter matado três cafetões e suas mulheres, todos, segundo ele, colaboradores do nazismo, divulgando que seus crimes eram parte de seu comportamento patriótico.

Em abril de 1943, oficiais da Gestapo relataram “uma série de boatos acerca de uma organização que realizava travessias ilegais para a Espanha, por meio de passaportes argentinos falsificados”. Os nazistas afirmaram que os fugitivos “viajavam em navios que partiam próximo à fronteira com Portugal”. Na verdade, nenhum dos “clientes” de Petiot deixou Paris com vida. Um agente da Gestapo, tentando descobrir o que estava ocorrendo, chantageou um judeu francês, Yvan Dreyfus, para se aproximar de Petiot, fingindo ser um cliente. Entretanto, Dreyfus desapareceu no final de maio de 1943, sem deixar rastros.

Outras pessoas procuraram os serviços de Petiot, entre elas estava Nelly-Denise Hotin, uma mulher que estava grávida e acabara de casar. Ela desejava um aborto e procurou o Dr. Petiot para o procedimento. Ela nunca mais foi vista, desaparecendo em julho de 1941. Dr. Paul-Léon Braunberger, judeu idoso que desejava fugir com sua esposa, desapareceu misteriosamente da estação do metrô de Paris em junho de 1942. Um mês depois, três judeus alemães pertencentes à mesma família, os Knellers, desaparecerem após visitaram o consultório do Dr. Petiot. Sues restos desmembrados foram “pescados” do Rio Sena em agosto do mesmo ano. Mais três refugiados, a família Wolff, desapareceram após procurarem Marcel Petiot junto com outros seis amigos. Um cafetão, de nome Joseph Piereschi, caiu nas teias de Petiot, fazendo sua “viagem sem volta”, juntamente com sua amante, Joséphine- Aimée Grippay.

Essas fora as vítimas, ou algumas delas, simplesmente porque essas foram as vítimas que a policia conseguiu identificar. Não se pode, entretanto, saber a contagem dos corpos com certeza, uma vez que a a maioria dos corpos estavam desmembrados, queimado ou em avançado estado de decomposição. Moídos e misturados. Algumas partes estavam reduzidas à uma massa, impossível de se dizer a qual parte do corpo pertenciam. Do ria Sena, foram retirados, entre 1942 e 1943, inúmeros restos mortais, incluindo nove cabeças, quatro coxas e vários pedaços mutilados. Entretanto, os agentes da Gestapo não estavam tão preocupados com o fato de judeus serem mortos, mas sim com as fugas de membros da resistência, cafetões e judeus. A policia francesa e os médicos legistas estavam perplexos com a quantidade de cadáveres, ainda por cima, não conseguiam identificar de quem eram os corpos. Os nazistas já tinham conhecimento da Fly-Tox e em maio de 1943, eles estavam prontos para investir contra o grupo de resistência.

Petiot anunciava seus serviços ilícitos de forma tão descarada, que não seria preciso muito esforço da Gestapo para prender os membros da Fly-Tox. No inicio de 1943, um informante foi contratado para espionar o grupo de resistência, Charles Beretta era o nome dele. Beretta havia informado nomes para os agentes da Gestapo. Em maio, os nazistas conseguiram prender três membros da resistência: Raoul Fourrier, Edmond Pintard e René-Gustave Nézondet. Eles foram torturados para que confessasse e contasse quem estava no comando da Fly-Tox, identificando Dr. Eugene (nome usado por Petiot). Petiot foi preso e levado para junto com os outros na prisão de Fresnes. Os nazistas reviraram a casa dele, mas por incrível que pareça, eles não descobriram a câmara mortuária na Rue Le Sueur. Nézondet conseguiu liberdade duas semanas depois de preso. Petiot e os outros dois ficariam no cárcere por 8 meses. Eles foram torturados, mas se negaram a trair seus companheiros de resistência.

Na verdade, conforme Petiot contou mais tarde, durante seu julgamento em 1946, o motivo do silencio de Petiot era pura falta de conhecimento. Ele não tinha nomes para oferecer ao seus captores, uma vez que não tinha desempenhado papel significativo no grupo de resistência, como pensavam seus companheiros. Os nazistas ficaram frustrados e irritados e decidiram não perder mais tempo com os três, soltando-os em janeiro de 1944. Ironicamente, os meses de prisão e tortura foram bons para Petiot, pois cobriram suas atividades criminosas por um tempo, mas o tempo do médico estava se esgotando... Em março daquele ano, ocorreria o caso dos sinais de fumaça e toda carnificina realizada na Rue Le Sueuer viria a tona. Petiot desapareceria.

A Fuga. 

Petiot foi bem sucedido em sua fuga principalmente por causa dos amigos que fez e dos inúmeros pacientes aos quais passou confiança. Finalmente os anos de fama serviram para algo bem útil. Petiot mudou de um endereço para o outro de Paris, deixando sua barba crescer e adotando um nome após o outro para esconder sua verdadeira identidade. Seus conhecido davam cobertura. Uma vez, Petiot foi até um ex-paciente seu, Georges Redoute, e convenceu o homem de que a Gestapo estava em seu encalço, pois ele teria matado alemães informantes. Enquanto esteve hospedado na residência de Georges Redoute, Petiot passava o dia dentro de casa, saindo somente durante a noite. Em algumas ocasiões, Petiot trazia armas para casa e dizia ao amigo que se tratava de armas roubadas de tropas nazistas.

A policia parisiense declarou greve em agosto de 1944, tendo a sua Préfecture cercada por tanques e tropas alemães. Patiot adotou o nome de Henri Veleri e se alistou Forças Francesas do Interior (FFI). Seu desempenho foi bom ao ponto dele ser rapidamente promovido para capitão, encarregado de contra-espionagem e de interrogar prisioneiros no distrito de Reuilly, Paris. No mês seguinte, a capital francesa seria libertada dos nazistas, os colaboradores foram expurgados, Petiot (no caso, Valeri) estava no maio da ação.

A máscara de Petiot começou a cair em setembro, após dois soldados da unidade FFI afirmarem ter visto Petiot assaltar o prefeito de Tessancourt, roubando cerca de 12 milhões de francos em dinheiro e vários selos colecionáveis, antes de matar sua vítima na frente de testemunhas. Três jovens afirmaram que viram Petiot na cena do crime. Eles foram logo jogados na cadeia. Um tenente da FFI tentou investigar o caso, mas o capitão “Valeri” o proibiu. Bandidos foram detidos e liberados em seguida. Eles desapareceram assim como o dinheiro roubado.

Três dias após o latrocínio na casa da família, o grupo de Resistência publicou em seu jornal um artigo sobre a fuga de Marcel Petiot. A história vinha sob o título de “Soldado do Raich” e afirmava que Petiot havia vestido a farda nazista para caçar franceses patriotas em torno de Avgnon, em março de 1943. René Floriot, advogado que havia defendido Marcel Petiot durante as acusações de vendas ilegais de narcóticos, em 1942, recebeu uma carta de seu cliente fugitivo. Ele criticou o artigo do jornal, ao qual chamou de “um monte de mentiras sujas”. Embora fosse falsa, a carta de Marcel Petiot convenceu às autoridades de que ele estava em Paris. As pesquisas recomeçaram. O capitão da FFI, “Henri Valeri”, estava entre os convocados para caçar Petiot.

A sorte de Marcel Petiot acabou às 10:15 de 31 de outubro de 1944, quando ele foi reconhecido e preso por agentes da PRB (Ramo de polícia criado durante o governo provisório de Gaulle), enquanto circulava em uma estação de metro de Paris. Petiot estava armado com uma pistola, carregando 31.700 francos em dinheiro e 50 documentos com nomes diferentes. A caçada a Marcel Petiot havia acabado, entretanto, as buscas pela verdade por trás dos homicídios na Rue Le Sueur estavam apenas começando...



Interrogatório.

Dr. Petiot é levado sob custódia. De barba crescida e abatido, bem diferente do médico de família conhecido por muitos em Paris.
Marcel Petiot se defendeu das acusações, declarando total inocência. Segundo ele, os únicos homicídios que cometeu foram realizados em nome do grupo de Resistência, matando “inimigos da França”. Não houveram assassinatos por lucro, segundo ele. De acordo com o relato de Petiot, ele teria tomado conhecimento dos cadáveres na Rue Le Sueur em fevereiro de 1944, após se libertado da prisão nazista. Segundo ele, aquelas pessoas eram informantes e simpatizantes nazistas, que haviam sido mortos por membros da Fly-Tox e jogados no porão do número 22 da Rue le Sueur. Desesperado com a quantidade de cadáveres, Petiot teria pedido ajuda a seu irmão, Maurice, que poderia conseguir grande quantidade de cal virgem para camuflar o mau odor que se desprendia dos cadáveres. 


Marcel Petiot é interrogado. Ele afirmou que os cadáveres encontrados na Rue Le Sueur eram de nazistas e simpatizantes.


Maurice Petiot, ajudou o irmão fornecendo cal virgem para auxiliá-lo a esconder cadáveres no número 22 da Rue le Sueur.

Marcel Petiot foi mandado para a prisão de Santé, onde aguardou julgamento, enquanto as autoridades investigaram suas reivindicações. De modo estranho, para um herói patriótico, nenhuma liderança dos grupos de resistência existentes em Paris apareceu pra defendê-lo, nem ao menos o conheciam como líder de um grupo de resistência. Sua fama e participação eram pequenas em tais grupos e alguns o conheciam como uma fraude completa. Muitos dos pontos existentes nas declarações do médico se mostraram falsos após uma pequena investigação: Alguns grupos de resistência descrito por Petiot não existiam, não houve os inúmeros atentados a bomba, atentados contra nazistas ou teste de armas secretas, na verdade nem estas existiam. Os promotores responsáveis pelo caso finalmente desacreditaram nas histórias de Marcel Petiot, acusando-o de matar 27 vítimas para se apropriar de seus bens, uma quantia estimada em 200 milhões de francos em dinheiro, ouro e jóias, alguns nunca recuperados. 
Petiot, abatido e com barba por fazer, é fotografado na delegacia.

Apos a detenção, Marcel Petiot recebeu um pedaço de pão e um pouco de água, oferecida em uma garrafa de vinho velha.

Mugshot de Marcel Petiot


Julgamento.
Petiot é conduzido ao tribunal.

O julgamento do Dr. Marcel Félix Petiot teve inicio em 18 de março de 1946, no Palácio de Justiça Frances. Estavam presentes três juízes e o júri era formado por sete homens. O advogado René Floriot defendeu Petiot mais uma vez. Os promotores receberam o auxilio de 12 advogados civis, pagos pelas famílias de muitas vítimas de Petiot. Além do advogado de defesa, Petiot contou com outro defensor: Ele próprio. Talvez essa tenha sido uma péssima ideia  Extremamente confiante que seria inocentado, Petiot ágil de forma sarcástica e irônica, brincando e caçoando dos juízes e promotores, apresentando um ar sarcástico ao se dirigir às testemunhas, contando piadas aos advogados. Petiot acusou o advogado da família Khait de ser um “agente duplo” e um “defensor de judeus”, salientou que a vítima José Récreux “era facilmente identificável” e que Joachim Guschinov estava vivo e bem. Quando perguntado por qual motivo Joachim não havia sido localizado pela polícia, Petiot afirmou sorrindo que “a América do Sul era um local muito grande para a policia conseguir encontrá-lo”. 
Marcel Petiot aponta para testemunha, em seu julgamento.
Marcel Petiot toma a palavra em seu julgamento.




Marcel Petiot e seu defensor, René Floriot, no tribunal.

"A França não irá mandar para a guilhotina um homem que deu cabo de 9 agentes alemães... Eu confio em mau País..." 
O juiz pergunto a Marcel Petiot: “Você diz ter inventado uma arma secreta, com a qual você matava alemães a cem metros de distância. Onde está essa tão famosa arma?” Petiot recusou-se a dizer onde elas estavam, pois, segundo ele, haveria risco de que tais informações “fossem usadas contra a França”: “Só vou divulgar detalhes dessa arma quando estiver convencido de que divulgá-los publicamente será de interessa da França”. Ele disse que ofereceu o plano da arma para dois homens, um de nome Thompson e outro chamado Miller, da Embaixada dos EUA em Paris. Petiot descreveu a família Wolff – Uma família de judeus holandeses fugidos da perseguição nazista – Como sendo “alemães disfarçados”, enquanto a vítima Yvan Dreyfus sido um “traidor quatro vezes”. A vítima Kurt Keneller teria tido uma “discussão” com Petiot, entretanto, ele e sua família estavam vivos e teriam retornado à Alemanha. Marcel insistiu que ele estaria se preparando para a próxima futura guerra que iria estourara em breve. Ele esteve com o Dr. Paul-Léon Braunberger por “dez minutos de sua vida”, quando almoçou em um restaurante, entretanto, Petiot não soube explicar porque a roupa de Braunberger foi achada em sua residência, na Rue Le Sueur. Petiot afirmou em seu testemunho que muitos haviam sobrevivido à rota de fuga da Fly-Tox, entretanto, ninguém que teria obtido sucesso ao fugir pelas mãos de Petiot foi encontrado. Petiot alegou que isso aconteceu porque “eles mudaram de nomes muitas vezes”. Quando o juiz ordenou que a sessão fosse suspensa até o dia seguinte, Petiot virou para seu advogado e cochichou: “Eu ainda não estou cansado!” 
A multidão comparece ao julgamento do Dr. Petiot.

Marcel Petiot alegava ter criado uma "arma secreta" que mataria nazistas à vários metros de distância, entretanto, nunca informou onde elas se encontravam.

Fotografias do Julgamento de Marcel Petiot.
Um close no Serial killer: Petiot é fotografado no tribunal.
No tribunal, Petiot fez chacotas e manteve um comportamento sarcástico e irônico o tempo todo. Ele acreditava que não seria condenado, mas foi...

A Sra. Gruchnov, cujo o marido foi vítima de Petiot dá seu depoimento.
Psiquiatra Pr. Gaurion, responsável por um dos exames feitos em Marcel Petiot.

Marcel Petiot parecia não demonstrar muito interesse pelo que acontecia no tribunal. Repreendido pelo desembargador Michel Leser por rabiscar uma mesa no tribunal, ele retrucou: “Eu estou ouvindo tudo, mas isso não me interessa muito”. Tempo depois, Marcel Petiot deitou a cabeça em uma das mãos e dormiu.


Marcel ficou nitidamente entediado com o ar do tribunal. Repreendido enquanto rabiscava uma mesa, ele alegou não ter o menor interesse no que acontecia ao seu redor.


Marcel Petiot dorme em pleno tribunal. Petiot acreditava firmemente que não seria condenado, devido sua alegação de "matar em nome do país"
No segundo dia do julgamento, dois jurados foram flagrados por repórteres, discutindo com o Juiz Leser em privado, referindo-se a Petiot como um “demônio” e um “assassino terrível”. O advogado de defesa, ao saber da história, procurou alegar nulidade no caso, mas a proposta foi recusada pelo tribunal de recurso e o julgamento recomeçou após a substituição dos jurados envolvidos na ofensa. No quinto dia de julgamento, os juízes e jurados visitaram o número 21 da Rue Le Sueur, acompanhados de Marcel Petiot. Eles atravessaram a multidão de curiosos e policiais. Petiot brincou: “É um baile muito peculiar, você não acha?”
Investigação: Marcel Petiot é levado até a Rue le Sueur, onde identificaria possíveis partes de corpo e recostituiria alguns crimes.

Mutidão se aglomera em frente ao tribunal onde Petiot era julgado.


Marcel manteve sua alegação de ter cometido crimes em nome da França até o fim, admitindo ter assassinado 19 das pelo menos 27 vítimas encontradas na Rue Le Sueur, que seriam todos “alemães e seus colaboradores”. Petiot confessou: “Matei aquelas pessoas, mas vocês irão me absolver. Depois eu irei confessar mais crimes, pelos quais vocês também irão me absolver. A França não será capaz de mandar para a guilhotina um homem que deu cabo de nove agentes alemães. Eu confio em mau país!” Petiot admitiu ter matado, entre 1940 e 1945, cerca de 63 inimigos da França (19 estavam ali na Rue Le Sueur). As 44 vítimas que Petiot alegou ter matado jamais foram identificadas e nem achadas. Acredita-se que Petiot possa ter matado entre 65 e 100 vítimas (pois um total de 86 corpos seriam retirados do Sena entre 1941 e 1943), mas ele estava sendo condenado apenas por 27 mortes (só pelas vítimas que foram identificadas) entre outros crimes, somando 135 acusações. No tribunal foram empilhadas as 49 malas, maletas e valises pertencentes às vítimas de Petiot. Elas cobriram quase toda a parede atrás do réu. 
Floriot toma a palavra no tribunal.
Cenas do julgamento de Marcel Petiot




Petiot é fotografado próximo às malas das vítimas.
As malas das vítimas, empilhadas em uma das paredes do tribunal.

Na verdade, Petiot já havia dito mais o que o suficiente para sua condenação. Todos do júri sabiam que as vítimas dele não eram agentes alemães. René Floriot pintou a imagem de Petiot como um herói da resistência e foi ovacionado pela platéia de pé. Mas os juízes e o júri tinham uma imagem bem diferente de Marcel Petiot. Após a deliberação do júri, que durou três horas, o júri condenou, por unanimidade, o acusado de todos os crimes, exceto pelo assassinato de Nelly-Denise Hotin, sendo considerado culpado em 26 acusações de homicídio doloso premeditado, além das outras acusações de roubo e fraude. Petiot recebeu a pena capital. Após ouvir a sua sentença, Petiot assinou um apelo contra ela, que seu advogado disse que seria apresentada dentro de três dias. Floriot recorreu da condenação, por dois motivos: Primeiro por que ele havia alegado a nulidade do julgamento, uma vez que o juiz Leser e dois jurados declararam a crença na culpa de Petiot antes do julgamento acabar. Em segundo lugar, Floriot acusou Marguerite Braunberger e sua empregada, que testemunharam no tribunal, de Perjuro. Elas teriam mentido sobre a história de que o Dr. Braunberger em vez de está escondido na America do Sul. O recurso de Floriot também foi rejeitado pelo tribunal e o juiz manteve a sentença de morte. O advogado que representava a família das vítimas levantou a questão de qual valor deveria ser concedidos para elas, por indenizações aos furtos de Petiot. 


Dr. Albert Paul toma a palavra no julgamento. Paul testemunhou, mais tarde, a execução do "Carniceiro de Paris.

O depoimento de uma testemunha.
Professor Griffon, toxicologista responsável pelos exames nas vítimas da Rue Le Sueur.
Promotores e advogados do julgamento de Petiot.
Georgette Petiot e o advogado René Floriot, defensor de Marcel, conversam no tribunal.

Petiot foi mandado novamente para a prisão de Sante, onde foi algemado pelos braços e acorrentado nos pés. Os guardas encontraram uma ampola escondida no bolso do uniforme carcerário de Marcel. Eles pensaram se tratar de cianeto, destinado para o suicídio, mas o conteúdo se mostrou ser um sedativo, que Petiot havia levado para a prisão de forma irregular. Petiot mantinha a calma e sorria. Ele perguntou aos guardas “Quando vão me assassinar?” Como é de costume, perguntaram se Marcel Petiot gostaria de conversar com um padre, ao qual ele recusou, preferindo, segundo ele, “tomar suas coisas com ele”.

A execução de Petiot havia sido marcada para o dia em que seu ultimo recurso foi rejeitado, entretanto, a guilhotina não estava em bom estado e falhou ao ser testada, na manhã daquele dia, sendo a execução adiada. No dia 25 de maio, às 03:30, uma guilhotina pequena, portátil foi entregue a prisão. Ela foi montada e testada, a menos de uma hora da execução. Petiot recusou o copo de rum, que era tradicionalmente oferecido aos prisioneiros no corredor da morte. Ele aceitou, porém, um cigarrinho, que fumou com prazer. Petiot concordou em falar com o capelão da prisão a pedido de sua mulher. Ele declarou que “Não era um homem religioso e que sua consciência estava limpa”. 



Guilhotina portátil com a qual Petiot foi executado. Ele tinha 46 anos.

Os rituais de encerramento foram rapidamente concluídos. Petiot assinou o registro e teve suas mãos atadas para trás. Um corte foi feito em sua gola e a parte de trás de seu cabelo foi raspada. Ele se aproximou da guilhotina com calma. O Dr. Albert Paul, que estava entre as testemunhas da acusação, observou: Petiot andava com facilidade, sem hesitação, como se estivesse entrando em seu escritório para uma consulta de rotina”. Petiot foi levado até o patíbulo e pôs sua cabeça na tábua da guilhotina. Suas últimas palavras foram dirigidas às testemunhas de execução: “Cavalheiros, peço-lhes que não olhem, pois isso não será bonito”. A lâmina desceu às 5:05 horas da madrugada. De acordo com as testemunhas, Marcel Petiot estava sorrindo quando a lâmina atravessou seu pescoço e foi assim que sua cabeça caiu na cesta, sorrindo.
A cabeça de Marcel Petiot.

Petiot era uma figura um tanto fascinantes, desde seus delírios até o fato de ter enganado terça parte da França. Ninguém podia imaginar que aquele médico tão benevolente e devotado ao povo escondia segredos tão macabros, como assassinato, por exemplo. Mas como ele agia? Já sabemos que suas vítimas eram, em sua maioria, judeus que desejavam fugir nos nazistas, mas que métodos ele usou?

Restos mortais são retirados da casa de Petiot na Rue le Sueur.

“Marcel Petiot atendia a pobres gratuitamente e arriscava a sua vida para auxiliar os perseguidos a deixarem o país. Apesar de suas várias internações em sanatórios e de sua conhecida cleptomania, Petiot era um bom sujeito...” Assim pensavam os cidadãos parisienses. Até mesmo o advogado de Petiot foi aplaudido de pé quando afirmou que Petiot era apenas um herói da resistência. David King, em seu livro, Morte na Cidade da Luz, afirma que “os cidadãos parisienses se recusaram a acreditar que Petiot era capaz de tal barbárie”. Extensas investigações foram realizadas, para se tentar encontrar pelo menos uma pessoa que Petiot havia ajudado a fugir, mas ninguém foi encontrado.

Petiot contou a verdade quando afirmou ter feito parte de um grupo de resistência? Em partes. No inicio da ocupação alemã, Petiot realmente se coligou a um grupo, porém sua participação foi praticamente inútil. Muitos dos grupos de resistência citados por Petiot não existiam. A rede de travessias ilegais, Fly Tox, como se soube, nunca auxiliou ninguém. Petiot aproveitou os horrores da guerra para lucra com isso.



Modus Operandi. 

Marcel Petiot atraia suas vítimas oferecendo uma viagem segura para Portugal, de lá, partindo para a America do Sul, principalmente para a Argentina. Ficava combinado que o cliente pagaria 25000 francos pela travessia e levaria seus pertences para o número 22 da Rue Le Sueur. O “refugiado” deveria trazer seus pertences em bagagens (a maior quantidade de pertences que conseguisse). Uma vez na casa da Rue Le Sueur, Petiot conversava com a vítima, informando como seria feita a travessia. Primeiramente, as vítimas eram levadas a escrever cartas para seus parente e amigos, informando que iriam para a América, pois segundo Petiot, qualquer outra tentativa de comunicação seria perigosa. Depois Petiot informava que o cliente precisava receber algumas “vacinas”, para se evitar o contágio de doenças durante a viagem. Petiot levava a vítima até uma cabine octogonal, cuja porta tinha um olho mágico. Ele injetava um líquido no braço de seu “cliente” e o deixava “em isolamento”. Na verdade, o líquido injetado era veneno (Algumas fontes indicam que foi usado cianeto, enquanto outras afirmam que a estricnina foi usada). Petiot observava o suplicio da vítima, sendo atormentada por dores, espasmos e convulsões, através do olho mágico. 



Tormento assistido: Olho mágico pelo qual Petiot assistia o tormento das vítimas.
Algumas vítimas teriam sido algemadas e gazeadas com Zyklon-B, o mesmo gás usado por nazistas para exterminar piolhos e, durante a “Solução Final”, usado para exterminar judeus em massa nos campos de concentração. 


Documento de identidade de Marcel Petiot.

Petiot chegou a ir até a casa de algumas vítimas para pegar móveis. Ele dizia aos vizinhos que era necessário e que fazia parte do plano. No inicio da série de assassinatos, Petiot jogou os cadáveres das vítimas no rio Sena, ou descartou cadáveres em sacos plásticos, deixando-os para o recolhimento de lixo urbano. Um relatório policial posterior à descoberta de partes de um cadáver em um caminhão descrevia as coisas macabras encontradas em um caminhão. Haviam duas cabeças humanas sem pele, dois pés humanos sem unhas e sem alguns dedos, pele de duas pernas e três escalpos, um louro avermelhado, um quase preto e o terceiro grisalho.
Peritos retiram o que restou de cadáveres do número 22 da Rue Le Sueur.

Petiot não era um louco, apesar de ter certo desequilíbrio mental. Ele era totalmente responsável por seus atos, lembrando que nem todo mundo que tem algum desequilíbrio mental tem o raciocínio afetado, assim aconteceu com Petiot.


O caso dos Kneller.

Um ponto que chamou a atenção no caso foi o assassinato dos Kneller, em que Margareth Kneller e seu filho René, sete anos de idade, se refugiaram na casa de um vizinho, antes de se encontrarem com Petiot. O caso é que Petiot havia sido médico da família por anos antes dos Kneller o procurarem com a intenção de deixarem o país. Sem dúvida, Margareth foi a vitima que mais confiou em Petiot. No mesmo dia em que Margareth buscou o auxilio de Petiot, o médico apareceu na casa da família, pegando alguns móveis. Os cadáveres desmembrados de Margareth e René foram pescados do Sena dois meses depois do assassinato.
Margareth e René Kenller, vítimas do Carniceiro.

Petiot havia recrutado dois rapazes para se aproximar de potenciais vítimas. Eles acreditavam que o médico apenas era membro da resistência, ajudando pessoas que desejavam se livrar do nazismo.

Petiot virou um filme, em 1990. Docteur Petiot trouxe Michel Serrault no papel principal.

Terminamos aqui os relatos sobre a vida do “Carniceiro de Paris”, “Vampiro de Rue Le Sueur”, “Barba Azul Francês, enfim, Marcel André Henri Feliz Petiot, o maior inimigo dos judeus na França... depois dos Nazistas, é claro.

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