Primeiramente, peço que não se deixem levar pelo título da postagem. “Uma breve história” é somente um título fantasia, pois o relato que lerão a seguir não é nada breve. Ao contrário, procurei escrever um texto o mais completo o possível.
Antes de falar sobre canibalismo, precisamos entender o que é o canibalismo. Entende-se como canibalismo a relação em que um indivíduo de determinada espécie ingere (come, devora, deglute, digere, engole, degusta ...) outro da mesma espécie. Ao contrário do que se acredita o canibalismo não é exclusividade da espécie humana, ocorrendo em diversos outro animais, desde insetos até mamíferos, por inúmeros fatores, que podem envolver costumes da vida desses animais ou necessidade. Após o parto de certas espécies de mamíferos, como gatos, por exemplo, é comum a mãe comer a placenta e o cordão umbilical. Isso é algo comum na espécie. Se você aprisionar muitas galinhas em um lugar pequeno demais, elas vão recorrer ao canibalismo, assim como se você deixar uma matilha de cães sem alimentação, presa em um determinado local. Os cães que morrerem servirão de comida para os sobreviventes. Tudo isso é canibalismo.No caso dos seres humanos, o canibalismo recebe o nome clínico de antropofagia, palavra derivada do grego: Antro = Humano, Fagia = Devorar, comer, ingerir; Ou seja: Antropofagia significa o ato de devorar um homem praticado por outro homem (estou me referindo a homem como sendo espécie humana, e não gênero masculino da mesma). Ao praticante de antropofagia, se dar o nome de Antropófago.
Foi Cristovão Colombo quem criou o termo canibal, baseado no nome de uma tribo da qual tomou conhecimento na Hispaniola, os Caraíbas. Colombo e sua tripulação teriam feito contato com os Arauaques, uma tribo pacífica. Segundo esses nativos, todos deveriam tomar cuidado com os vizinhos rivais, os Caraíbas, pois eles costumavam matar e comer os inimigos. Foi de Caraíba que surgiu a palavra Caribe.
Tribo de nativos praticando canibalismo. |
Muito se discute sobre o assunto. Afinal, qual a diferença entre comer carne de boi ou de porco a comer carne de gente? Você deve e está pensando “Ora, bolas! Canibalismo é crime, certo?” Errado. A lei brasileira não prevê crime de canibalismo. Ingerir carne humana não é crime (Isso não só acontece no Brasil, mas em outros países, como a Alemanha e os Estados Unidos, por exemplo). O que diferencia o canibalismo da ingestão de carne de boi ou porco é o mesmo que nos faz virar a cara para o costume asiático de comer cachorro. Evidente que alguém que pratica ato de canibalismo automaticamente praticará um crime. É necessário praticar homicídio ou, no mínimo, destruição de cadáveres (crimes previstos na lei brasileira). Mas o ato da ingestão de carne humana por outro ser humano, mesmo sendo arrepiante só de se pensar, não é crime.
Podemos dividir o canibalismo em três grupos: Dois deles, o canibalismo por necessidade e o canibalismo aprendido, são fenômenos estudados por antropólogos. O terceiro tipo, a antropofagia patológica, foge à antropologia, sendo estudada por psiquiatras forenses. É no terceiro tipo que encontramos criminosos que cometeram canibalismo, como Issei Sagawa, Joachim Kroll, Armin Meiwes, Jeffrey Dahmer e Andrei Chikatilo.
Vamos tratar separadamente dos três tipos mais adiante.
Encontramos referências do canibalismo até mesmo nas mitologias antigas. Sem dúvida a mais famosa delas seja a história de Cronos, o deus do tempo na mitologia grega. Cronos tomou conhecimento, através de uma profecia, de que um de seus filhos tomaria seu lugar, então decidiu tomar uma atitude enérgica: Ele devoraria todos os filhos, logo após o nascimento, e assim o fez. Entretanto, sua mulher, Réia, já estava cansada e decidiu enganar Cronos. Ela escondeu seu filho logo após o nascimento, dando à Cronos uma pedra enrolada em um pano. Cronos engoliu pensando tratar-se de uma criança. O filho sobrevivente de Cronos era Zeus, Deus supremo da mitologia grega. Após tomar conhecimento do destino dos irmãos, Zeus obrigou seu pai a vomitá-los. Ainda na mitologia grega, encontramos a história dos ciclopes. Gigantes de um olho só e vorazes devoradores de homens.
Podemos dividir o canibalismo em três grupos: Dois deles, o canibalismo por necessidade e o canibalismo aprendido, são fenômenos estudados por antropólogos. O terceiro tipo, a antropofagia patológica, foge à antropologia, sendo estudada por psiquiatras forenses. É no terceiro tipo que encontramos criminosos que cometeram canibalismo, como Issei Sagawa, Joachim Kroll, Armin Meiwes, Jeffrey Dahmer e Andrei Chikatilo.
Vamos tratar separadamente dos três tipos mais adiante.
A História do Canibalismo.
O ato de um ser humano devorar outro ser humano é tão antigo quanto a própria civilização,ou até mais antigo. Talvez possa parecer um clichê falar isso. A ideia de pessoas comendo partes de outras pessoas é algo que ocorre desde a formação das sociedades.Encontramos referências do canibalismo até mesmo nas mitologias antigas. Sem dúvida a mais famosa delas seja a história de Cronos, o deus do tempo na mitologia grega. Cronos tomou conhecimento, através de uma profecia, de que um de seus filhos tomaria seu lugar, então decidiu tomar uma atitude enérgica: Ele devoraria todos os filhos, logo após o nascimento, e assim o fez. Entretanto, sua mulher, Réia, já estava cansada e decidiu enganar Cronos. Ela escondeu seu filho logo após o nascimento, dando à Cronos uma pedra enrolada em um pano. Cronos engoliu pensando tratar-se de uma criança. O filho sobrevivente de Cronos era Zeus, Deus supremo da mitologia grega. Após tomar conhecimento do destino dos irmãos, Zeus obrigou seu pai a vomitá-los. Ainda na mitologia grega, encontramos a história dos ciclopes. Gigantes de um olho só e vorazes devoradores de homens.
Cronos devorando um de seus filhos. |
"Saturno devora um de seus filhos", pintura de Francisco Goya. Saturno é a versão romana de Cronos. |
Outro mito envolvendo o canibalismo seria a história de Osíris, deus da agricultura egípcio. Na crença dos egípcios antigos, Osíris teria dado os vegetais e a possibilidade de cultivá-los aos seres humanos para que não houvesse a necessidade de comer a carne dos semelhantes.
Ainda falando de crenças antigas, temos relatos de rituais canibalescos na Índia, onde seguidores da deusa Kali (ou Durga), deusa da destruição, ingeriam carne humana. De acordo com o hinduísmo, Kali era uma assassina violenta com uma insaciável sede de sangue. Durante o século XIX, uma criança era morta quase todos os dias em sacrifício à Kali em um templo da cidade de Calcutá. A razão para todos esses sacrifícios humanos era a de que Kali iria enviar riquezas para os miseráveis, crianças para os casais sem filhos e justiça para os oprimidos e injustiçados em troca de sangue humano. A vítima teria que ser voluntária e ter plena ciência do ato. Se ela não aceitasse, o sacrifício não seria aceito por Kali. Se um casal tivesse um filho, mas desejasse ter mais crianças, eles deveriam sacrificar a primeira criança à Kali, pois ela mandaria mais crianças para substituir a que foi sacrificada. Segundo a enciclopédia britânica, os Binderwurs da Índia central comiam a carne de seus parentes doentes ou velhos, acreditando que o ato era agradável à deusa Kali. O canibalismo também pode ter sido comum entre os seguidores do Shaktismo na Índia. Após a colonização britânica na Índia esses rituais envolvendo sacrifícios humanos, assim como a queima da viúva na fogueira de cremação do marido morto, foram proibidos.
Ainda falando de crenças antigas, temos relatos de rituais canibalescos na Índia, onde seguidores da deusa Kali (ou Durga), deusa da destruição, ingeriam carne humana. De acordo com o hinduísmo, Kali era uma assassina violenta com uma insaciável sede de sangue. Durante o século XIX, uma criança era morta quase todos os dias em sacrifício à Kali em um templo da cidade de Calcutá. A razão para todos esses sacrifícios humanos era a de que Kali iria enviar riquezas para os miseráveis, crianças para os casais sem filhos e justiça para os oprimidos e injustiçados em troca de sangue humano. A vítima teria que ser voluntária e ter plena ciência do ato. Se ela não aceitasse, o sacrifício não seria aceito por Kali. Se um casal tivesse um filho, mas desejasse ter mais crianças, eles deveriam sacrificar a primeira criança à Kali, pois ela mandaria mais crianças para substituir a que foi sacrificada. Segundo a enciclopédia britânica, os Binderwurs da Índia central comiam a carne de seus parentes doentes ou velhos, acreditando que o ato era agradável à deusa Kali. O canibalismo também pode ter sido comum entre os seguidores do Shaktismo na Índia. Após a colonização britânica na Índia esses rituais envolvendo sacrifícios humanos, assim como a queima da viúva na fogueira de cremação do marido morto, foram proibidos.
Kali, deusa da destruição hindu. Muitas pessoas foram sacrificadas em nome de Kali |
Em 1999, ossadas de neandertais com cerca de 100 mil anos foram encontrados em uma caverna próxima ao Rio Rhone, na França, mostravam claros sinais de consumo humano. Os ossos mostraram sinais de terem sido abertos com uma ferramenta rudimentar e suas mandíbulas foram removidas. Seis esqueletos apresentavam abertura nos crânios e os cérebros pareciam ter sido ingeridos. A descoberta dos ossos serviu de base para uma teoria em 2008. Há muito tempo, os estudiosos tentam descobrir como os neandertais desaparecerem misteriosamente, suplantados pelo surgimento dos homo sapiens.
Nos anos 50 e 60, antropólogos que estudavam tribos da Papua Nova Guiné documentaram o surgimento de uma enfermidade espongeforme e degenerativa entre o povo Fore. Essa doença, o kuru, era adquirida através do consumo de cérebros humanos durante rituais funerários. A enfermidade que quase extinguiu o povo Fore no século XX, pode ter sido a causa do desaparecimento dos neandertais milhares de anos antes.
Os povos Huili, habitantes do sul da Papua Nova Guiné, acreditam na lenda dos Baya Horo, gigantes que comiam carne humana e que viviam a muito tempo. Durante a existência de tais gigantes, os humanos eram obrigados a se esconderem em cavernas. Eventualmente, os Baya Horo foram extintos e o homem pôde assumir seu lugar no mundo. As lendas envolvendo gigantes canibais também são compartilhadas por culturas na África, Ásia, Europa e Índia. Em todas elas, o canibal é mostrado como alguém a ser temido.
Como dito anteriormente, a antropologia estuda somente dois dos tipos de canibalismo: O canibalismo por necessidade e o canibalismo aprendido, também chamado de canibalismo costumeiro ou cultural. O canibalismo por sobrevivência é mais perturbador. Imagine só ser forçado à comer carne humana, principalmente sendo de uma pessoa próxima. Geralmente não há nenhum crime, uma vez que na maioria dos casos de canibalismo para sobrevivência, a pessoa que servirá de refeição já se encontra morta e a destruição de cadáveres é feita para garantir a sobrevivência. Sob tais circunstâncias terríveis, a antropofagia parece ser um passo lógico, mas a disposição da sociedade ocidental de perdoar o consumo de carne humana por seus membros na pior das circunstâncias está em profundo contraste com o modo como os ocidentais conhecem o canibalismo. Tirando os casos de canibalismo por sobrevivência, a antropofagia representa torpeza moral.
Em 1846, um grupo de exploradores o partiu de Springfield, Ilions, para San Francisco, Califórnia, uma viagem de cerca de 2.500 milhas. Essa viagem, a Donner Party, entraria para o folclore norte-americano. 89 colonizadores se separaram dos demais, pegando um atalho pelas montanhas de Sierra Nevada. O inverno era rigoroso e logo veio a fome. O grupo se dividiu mais uma vez. Como o tempo não melhorava, toda a comida foi consumida. Os animais no local eram poucos para serem caçados. Não restou outra saída ao não ser o canibalismo. Conforme alguns exploradores foram morrendo, os vivos iam comendo suas carnes.
Em 1838, o escritor estadunidense Edgard Allan Poe, conhecido por suas obras de horror como "Histórias Extraordinárias" e o poema "O Corvo", escreveu um conto intitulado "A narrativa de Ahtur Gordon Pym", onde após um naufrágio, um marinheiro de nome Richard Parker é morto e devorado, após o grupo de sobreviventes do qual fazia parte comer uma tartaruga marinha. Numa inacreditável coincidência, em 1886, quatro homens que navegavam da Inglaterra para a Austrália a bordo de um Iate - O Mignonette - acabaram naufragando, sendo isolados em um bote salva-vidas. Um dos marinheiros, de nome Richard Paker, desesperado pela sede, acabou bebendo água do mar, o que o deixou debilitado. Após comerem uma tartaruga marinha que capturaram, os três outros marinheiros decidiram tirar a vida de Richard. Sua carne serviu de alimento, igualzinho havia ocorrido no conto de Poe.
O canibalismo por sobrevivência foi praticado em larga escala, por populações inteiras, pelo menos em duas ocasiões semelhantes na história mundial. Uma foi no Holodomor, conhecido como “A Grande Fome”, que perdurou de 1932 a 1933. Estima-se que cerca de 6 a 8 milhões de camponeses (pelo menos 5 milhões eram ucranianos), morreram. O Holodomor tinha características de genocídio e ocorreu devido à resistência de alguns camponeses ao processo de coletivização de Stalin. Entretanto, alguns acreditam que o Holodomor ocorreu em conseqüência das radicais mudanças políticas econômicas implementadas durante o processo de industrialização soviética.
Em março de 2008, a Ucrânia e outras 19 nações reconheceram o caráter genocida do Holodomor. Uma declaração conjunta na ONU, em 2003, definiu a fome como o resultado das ações cruéis e políticas do regime totalitário que resultaram na morte de milhões de cidadãos soviéticos. Em 2008, foi aprovada uma resolução que reconhece o Holodomor como um crime contra a humanidade.
Existem vários relatos de que, durante o Holodomor, os casos de venda de carne humana eram comuns. Os pais vendiam seus ou matavam filhos, os mais jovens, para garantir o sustento do resto da família. Sequestros também eram comuns e qualquer criança ou adulto sozinho pela rua poderia se tornar um banquete.
Na China, durante o governo totalitário de Mao Tse Tung, também houveram casos de canibalismo. O governo chinês elogiou os bravos e fortes cidadãos que tiveram que sacrificar pessoas para se alimentarem, já o governo soviético puniu sues canibais com a morte.
Talvez o caso de canibalismo por sobrevivência mais famoso tenha ocorrido nos Andes, em 1972. Uma aeronave da Força Aérea do Uruguai, com 45 pessoas a bordo, entre elas cinco tripulantes e um time de rúgbi, se chocou e caiu em uma região remota dos Andes enquanto ia de Montevidéu para Santiago, no Chile. Dezesseis pessoas morreram na hora e,dos 29 sobreviventes, 13 morreram ao longo dos 72 dias que o grupo ficou isolado na montanha. Os sobreviventes tiveram que se alimentar da carne dos mortos até serem finalmente resgatados em dezembro de 1972. O episódio foi levado às telas do cinema em 1993 no filme "Vivos", de Frank Marshall e também virou livro nas mãos de inglês Piers Paul Reed sob o título de "Os sobreviventes - A Tragédia dos Andes". Entretanto, o relato mais completo e fiel ao caso foi um livro lançado em 2012, chamado "A Sociedade da Neve". O livro foi escrito pelos 16 sobreviventes do acidente. Durante anos, eles relutaram em contar sobre o caso, pois foram aconselhados a não tornar públicos os seus relatos de sobrevivência. Nando Parrado e Roberto Canessa, dois membros do grupo que conseguiram atravessar os Andes e pedir ajuda a um montanhista e negaram à guardar segredo.
Houve destruição de cadáveres no incidente da "Tragédia dos Andes"? Sim, houve. Entretanto, o grupo constituiu uma comunidade em extremo estado de necessidade, assim, a ação entendia como criminosa pela sociedade deixa de ser considerada como tal.
No ano de 2006, os 16 sobreviventes do acidente voltaram ao local da tragédia. eles prestaram homenagens aos mortos e agradeceram aos céus e aos amigos que se sacrificaram. O incidente demonstra muito bem como o ser humano pode chegar à medidas extremas em um ambiente onde os recursos para a sobrevivência são escassos. É necessário passar por cima de regras morais para garantir a sobrevivência.
Você já brincou de tirar sorte no palitinho? Pois saiba que muitos caos de canibalismo por necessidade foram resolvidos dessa maneira. Os casos de naufrágios na época das grandes navegações eram tantos que algumas instruções de como proceder em casos da necessidade de optar pelo canibalismo eram dadas. Uma delas seria tirar a sorte pelo palitinho. Eram dispostos um palito pequeno,um médio e um grande. A pessoa que tirasse o palito menor seria morta, a pessoa que tirasse o palito médio seria a assassina, os outros estariam a salvo.
Recorrer ao canibalismo como forma de garantir a própria sobrevivência é o último recurso do acidentado. Como ocorrido em um caso de naufrágio em que 116 dias se passaram sem nenhuma comida, até que os sobreviventes questionaram se iriam ou não optar pelo canibalismo. Antes, qualquer coisa que parecesse digestiva era consumida pelo grupo: Cães, sapatos, couro, cobertores e até mesmo velas foram consumidos primeiro antes de práticas canibalescas.
O canibalismo aprendido, ou costumeiro, é uma prática cultural, totalmente contrário ao canibalismo por necessidade. Nesse caso, o canibalismo faz parte das tradições de um determinado grupo de pessoas. Geralmente, essas práticas canibalescas são ritualizadas sob algum método sancionado ou até mesmo prescrito. Esse tipo de canibalismo é passado de geração em geração, daí o nome: canibalismo aprendido. Sem dúvida, esse o canibalismo aprendido é o que recebe mais enfoque, uma vez que a figura do "homem canibal" que a sociedade tem em mente é a de um selvagem assando um missionário ou conquistador em um profundo caldeirão.
O canibalismo aprendido é subdividido em dois tipos. A diferença entre eles está em quem será comido. Um é um ato de carinho, afeto e respeito. O outro, bom, já não é bem assim...
Endocanibalismo.
Endocanibalismo significa canibalismo interno, e ocorre quando uma pessoa ingere a carne de outra pessoa pertencente ao seu próprio grupo, sendo essa qualidade de membro baseada na família, sociedade, cultura e tribo. O endocanibalismo tem como finalidade a adoração, respeito e luto aos mortos ou, como ocorre geralmente, o desejo de adquiria características de um ente querido. Também pode ocorrer o desejo de que o morto viva através da pessoa que o ingere.
A tribo dos Fores, situada na Papua Nova Guiné, tinham o endocanibalismo como parte dos rituais fúnebres. A sociedade autorizava certas relações para o consumo de carne humana em ritos funerários. Mulheres geralmente comiam os cérebros, mãos e nádegas de homens falecidos, irmãos, cunhados ou maridos. As vulvas de mulheres mortas também seriam ingeridas por irmãs ou cunhadas. Fetos frutos de abortos espontâneos também costumam ser comidos. Hoje em dia as leis para tais rituais são muito mais restritas, embora ainda existam relatos de que ele ainda ocorra em tribos isoladas.
O endocanibalismo pode ocorrer em locais onde o canibalismo não é costumeiro de uma forma geral. Um chefe da tribo Junkun, no oeste da África, come partes dos corações dos antecessores. Esse é somente um ritual para demonstrar seu poder, mantendo seu lugar em destaque em uma sociedade normalizada sobre a qual ele governa. Os Junkuns, porém, não são canibais, sendo essa prática considerada um tabu. O mesmo acontece com os chefes da tribo Rukuba (Nigéria). Eles comeriam carne de crianças mortas pertencentes à tribo para adquirirem poder, entretanto, os Rukubas também não são canibais.
Os Wari, uma tribo amazônica, praticava o endocanibalismo durante ritos fúnebres, assim como os Fores. Entretanto, o significado do ato para eles era completamente diferente. Os wari acreditavam que comendo os mortos, suas almas iriam adquirir a forma de animais, que serviriam de caça para seus decendentes, mantendo assim a alimentação da tribo. Beth Conklin, antropóloga, conviveu com os Wari e observou seus costumes bem de perto. Beth alegou que os Wari tinham uma base para seu endocanibalismo: era uma forma de resolver as mágoas deixadas. Os Wari transformavam seu ambiente na tentativa de se livrarem da memória do falecido e "comer a morte" deles era uma maneira de estender esse processo. Também haveria a idéia de que o corpo humano éum produto de relações sociais e que ele se desenvolveria a partir de uma série de atos de compartilhamento de substância entre as pessoas.
Crânio de uma mulher neandertal apresentando lesões que evidenciam canibalismo. |
Nos anos 50 e 60, antropólogos que estudavam tribos da Papua Nova Guiné documentaram o surgimento de uma enfermidade espongeforme e degenerativa entre o povo Fore. Essa doença, o kuru, era adquirida através do consumo de cérebros humanos durante rituais funerários. A enfermidade que quase extinguiu o povo Fore no século XX, pode ter sido a causa do desaparecimento dos neandertais milhares de anos antes.
Os povos Huili, habitantes do sul da Papua Nova Guiné, acreditam na lenda dos Baya Horo, gigantes que comiam carne humana e que viviam a muito tempo. Durante a existência de tais gigantes, os humanos eram obrigados a se esconderem em cavernas. Eventualmente, os Baya Horo foram extintos e o homem pôde assumir seu lugar no mundo. As lendas envolvendo gigantes canibais também são compartilhadas por culturas na África, Ásia, Europa e Índia. Em todas elas, o canibal é mostrado como alguém a ser temido.
Canibalismo por Contingência (sobrevivência).
Como dito anteriormente, a antropologia estuda somente dois dos tipos de canibalismo: O canibalismo por necessidade e o canibalismo aprendido, também chamado de canibalismo costumeiro ou cultural. O canibalismo por sobrevivência é mais perturbador. Imagine só ser forçado à comer carne humana, principalmente sendo de uma pessoa próxima. Geralmente não há nenhum crime, uma vez que na maioria dos casos de canibalismo para sobrevivência, a pessoa que servirá de refeição já se encontra morta e a destruição de cadáveres é feita para garantir a sobrevivência. Sob tais circunstâncias terríveis, a antropofagia parece ser um passo lógico, mas a disposição da sociedade ocidental de perdoar o consumo de carne humana por seus membros na pior das circunstâncias está em profundo contraste com o modo como os ocidentais conhecem o canibalismo. Tirando os casos de canibalismo por sobrevivência, a antropofagia representa torpeza moral.
Em 1846, um grupo de exploradores o partiu de Springfield, Ilions, para San Francisco, Califórnia, uma viagem de cerca de 2.500 milhas. Essa viagem, a Donner Party, entraria para o folclore norte-americano. 89 colonizadores se separaram dos demais, pegando um atalho pelas montanhas de Sierra Nevada. O inverno era rigoroso e logo veio a fome. O grupo se dividiu mais uma vez. Como o tempo não melhorava, toda a comida foi consumida. Os animais no local eram poucos para serem caçados. Não restou outra saída ao não ser o canibalismo. Conforme alguns exploradores foram morrendo, os vivos iam comendo suas carnes.
Gravura do Donner Party. |
Edgard Allan Poe, autor de diversas obras de horror. |
Fotografia feita durante o Holodomor. |
Em março de 2008, a Ucrânia e outras 19 nações reconheceram o caráter genocida do Holodomor. Uma declaração conjunta na ONU, em 2003, definiu a fome como o resultado das ações cruéis e políticas do regime totalitário que resultaram na morte de milhões de cidadãos soviéticos. Em 2008, foi aprovada uma resolução que reconhece o Holodomor como um crime contra a humanidade.
Existem vários relatos de que, durante o Holodomor, os casos de venda de carne humana eram comuns. Os pais vendiam seus ou matavam filhos, os mais jovens, para garantir o sustento do resto da família. Sequestros também eram comuns e qualquer criança ou adulto sozinho pela rua poderia se tornar um banquete.
Na China, durante o governo totalitário de Mao Tse Tung, também houveram casos de canibalismo. O governo chinês elogiou os bravos e fortes cidadãos que tiveram que sacrificar pessoas para se alimentarem, já o governo soviético puniu sues canibais com a morte.
Talvez o caso de canibalismo por sobrevivência mais famoso tenha ocorrido nos Andes, em 1972. Uma aeronave da Força Aérea do Uruguai, com 45 pessoas a bordo, entre elas cinco tripulantes e um time de rúgbi, se chocou e caiu em uma região remota dos Andes enquanto ia de Montevidéu para Santiago, no Chile. Dezesseis pessoas morreram na hora e,dos 29 sobreviventes, 13 morreram ao longo dos 72 dias que o grupo ficou isolado na montanha. Os sobreviventes tiveram que se alimentar da carne dos mortos até serem finalmente resgatados em dezembro de 1972. O episódio foi levado às telas do cinema em 1993 no filme "Vivos", de Frank Marshall e também virou livro nas mãos de inglês Piers Paul Reed sob o título de "Os sobreviventes - A Tragédia dos Andes". Entretanto, o relato mais completo e fiel ao caso foi um livro lançado em 2012, chamado "A Sociedade da Neve". O livro foi escrito pelos 16 sobreviventes do acidente. Durante anos, eles relutaram em contar sobre o caso, pois foram aconselhados a não tornar públicos os seus relatos de sobrevivência. Nando Parrado e Roberto Canessa, dois membros do grupo que conseguiram atravessar os Andes e pedir ajuda a um montanhista e negaram à guardar segredo.
Fotografia tirada um pouco antes da "Tragédia dos Andes". |
O grupo concordou em contar em detalhes o principal fenômeno ocorrido no acidente: a ingestão de carne humana. A decisão não foi fácil. Um rádio ainda estava funcionando e, no décimo dia após a queda do avião, chegou por ele a noticia de que as buscas foram encerradas. Foi aí que se tomou a decisão de se comer a carne dos mortos. Dois estudantes de medicina do grupo assumiram a difícil tarefa de garantir a nutrição dos sobreviventes. Por saberem da anatomia humana, eles tinham noção de quais partes dos cadáveres deveriam ser cortadas para servirem de alimento. Os gravemente feridos e agonizantes fizeram uma espécie de "pacto de amor e solidariedade "com os vivos. Sabendo que a morte era somente questão de tempo, eles encorajavam os companheiros a servirem-se deles. Isso, porém, com certeza não diminuía a dor e o desespero do ato de canibalismo.
Os sobreviventes são fotografados no dia em que foram resgatados. |
Houve destruição de cadáveres no incidente da "Tragédia dos Andes"? Sim, houve. Entretanto, o grupo constituiu uma comunidade em extremo estado de necessidade, assim, a ação entendia como criminosa pela sociedade deixa de ser considerada como tal.
No ano de 2006, os 16 sobreviventes do acidente voltaram ao local da tragédia. eles prestaram homenagens aos mortos e agradeceram aos céus e aos amigos que se sacrificaram. O incidente demonstra muito bem como o ser humano pode chegar à medidas extremas em um ambiente onde os recursos para a sobrevivência são escassos. É necessário passar por cima de regras morais para garantir a sobrevivência.
Você já brincou de tirar sorte no palitinho? Pois saiba que muitos caos de canibalismo por necessidade foram resolvidos dessa maneira. Os casos de naufrágios na época das grandes navegações eram tantos que algumas instruções de como proceder em casos da necessidade de optar pelo canibalismo eram dadas. Uma delas seria tirar a sorte pelo palitinho. Eram dispostos um palito pequeno,um médio e um grande. A pessoa que tirasse o palito menor seria morta, a pessoa que tirasse o palito médio seria a assassina, os outros estariam a salvo.
Canibalismo praticado durante longas viagens havia se tornado tão rotineiro que haviam até dicas de como proceder. |
Recorrer ao canibalismo como forma de garantir a própria sobrevivência é o último recurso do acidentado. Como ocorrido em um caso de naufrágio em que 116 dias se passaram sem nenhuma comida, até que os sobreviventes questionaram se iriam ou não optar pelo canibalismo. Antes, qualquer coisa que parecesse digestiva era consumida pelo grupo: Cães, sapatos, couro, cobertores e até mesmo velas foram consumidos primeiro antes de práticas canibalescas.
Canibalismo Costumeiro (Aprendido).
O canibalismo aprendido, ou costumeiro, é uma prática cultural, totalmente contrário ao canibalismo por necessidade. Nesse caso, o canibalismo faz parte das tradições de um determinado grupo de pessoas. Geralmente, essas práticas canibalescas são ritualizadas sob algum método sancionado ou até mesmo prescrito. Esse tipo de canibalismo é passado de geração em geração, daí o nome: canibalismo aprendido. Sem dúvida, esse o canibalismo aprendido é o que recebe mais enfoque, uma vez que a figura do "homem canibal" que a sociedade tem em mente é a de um selvagem assando um missionário ou conquistador em um profundo caldeirão.
O canibalismo aprendido é subdividido em dois tipos. A diferença entre eles está em quem será comido. Um é um ato de carinho, afeto e respeito. O outro, bom, já não é bem assim...
Endocanibalismo.
Endocanibalismo significa canibalismo interno, e ocorre quando uma pessoa ingere a carne de outra pessoa pertencente ao seu próprio grupo, sendo essa qualidade de membro baseada na família, sociedade, cultura e tribo. O endocanibalismo tem como finalidade a adoração, respeito e luto aos mortos ou, como ocorre geralmente, o desejo de adquiria características de um ente querido. Também pode ocorrer o desejo de que o morto viva através da pessoa que o ingere.
A tribo dos Fores, situada na Papua Nova Guiné, tinham o endocanibalismo como parte dos rituais fúnebres. A sociedade autorizava certas relações para o consumo de carne humana em ritos funerários. Mulheres geralmente comiam os cérebros, mãos e nádegas de homens falecidos, irmãos, cunhados ou maridos. As vulvas de mulheres mortas também seriam ingeridas por irmãs ou cunhadas. Fetos frutos de abortos espontâneos também costumam ser comidos. Hoje em dia as leis para tais rituais são muito mais restritas, embora ainda existam relatos de que ele ainda ocorra em tribos isoladas.
O endocanibalismo pode ocorrer em locais onde o canibalismo não é costumeiro de uma forma geral. Um chefe da tribo Junkun, no oeste da África, come partes dos corações dos antecessores. Esse é somente um ritual para demonstrar seu poder, mantendo seu lugar em destaque em uma sociedade normalizada sobre a qual ele governa. Os Junkuns, porém, não são canibais, sendo essa prática considerada um tabu. O mesmo acontece com os chefes da tribo Rukuba (Nigéria). Eles comeriam carne de crianças mortas pertencentes à tribo para adquirirem poder, entretanto, os Rukubas também não são canibais.
Os Wari, uma tribo amazônica, praticava o endocanibalismo durante ritos fúnebres, assim como os Fores. Entretanto, o significado do ato para eles era completamente diferente. Os wari acreditavam que comendo os mortos, suas almas iriam adquirir a forma de animais, que serviriam de caça para seus decendentes, mantendo assim a alimentação da tribo. Beth Conklin, antropóloga, conviveu com os Wari e observou seus costumes bem de perto. Beth alegou que os Wari tinham uma base para seu endocanibalismo: era uma forma de resolver as mágoas deixadas. Os Wari transformavam seu ambiente na tentativa de se livrarem da memória do falecido e "comer a morte" deles era uma maneira de estender esse processo. Também haveria a idéia de que o corpo humano éum produto de relações sociais e que ele se desenvolveria a partir de uma série de atos de compartilhamento de substância entre as pessoas.
Beth Conklin entre os índios Wari. |
“Os Waris não comem seus mortos para agarrarem-se a eles. Nem para incorporar qualidades da pessoa morta, tais como sua força, energia vital, coragem ou poder. Assim, não eram motivados pela proteína, agressão ou incorporação. O que era afinal o canibalismo funerário Wari? A respostas para isso se concentram em dois grupos de ideia, idéias sobre o corpo e idéias sobre comida, especialmente a carne. A primeira ideia chave, refere-se a como os Wari pensam do corpo humano como produto de relações sociais. O corpo se desenvolve a partir de uma série de atos de indivíduos que compartilham substâncias corporais de outras pessoas, na concepção, na gestação, na alimentação, no cuidado com as crianças, na puberdade e nas experiências relacionadas ao nascimento, na predação do inimigo e o xamanismo. Assim, cada corpo humano é visto como o produto de relações sociais. Cada corpo físico é um ícone de todas as pessoas cujos produtos de corpo contribuíram a criação da pessoa. Além disso, grande parte da personalidade, da identidade e das emoções de um individuo, estão enraizadas em seu próprio corpo e sangue." Disse Beth Concklin em uma conferência durante o encontro internacional de antropofagia.
O mondo documentario "Nova Guiné, Ilha dos Canibais", de 1975, trás uma cena semelhante ao endocanibalismo (No filme são demonstrados atos de exocanibalismo), onde uma mulher enlutada ingere larvas do cadáver do marido. A cena é bizarra e chocante (o próprio narrador afirma que membros da equipe de filmagens passaram mal),mas não passa de um sinal de respeito aos mortos. Evidente que ingerir larvas de um cadáver não é canibalismo, uma vez que as larvas são somente parasitas, não partes do cadáver. O documentário pode ser visto (completo) no link abaixo (Logo após o texto sobre exocanibalismo. Um aviso importante: Ele contém cenas pesadas de violência (principalmente com animais), sexo e mutilações explicitas, além de outras cenas não muito agradáveis para pessoas que se impressionam facilmente. Assista Nova Guiné, ilha dos canibais aqui.
Exocanibalismo.
Do outro lado do canibalismo aprendido, estão exocanibalismo, que é o canibalismo externo. Esse tipo de prática é o que mais tem a ver com a noção de canibal que a sociedade tem em mente. Essa prática ocorre quando o membro de um determinado grupo ingere um membro de outro grupo, geralmente rival. O exocanibalismo não tem nada a ver com ritos fúnebres, mas sim com humilhação, intimidação de outros grupos, demonstração de poder sobre o derrotado, o desejo de roubar a força vital e qualidades do inimigo ou simplesmente comer.
Quando se tenta obter as qualidades do inimigo, ocorre geralmente e ingestão de partes específicas, como o coração, cérebroou músculos dos braços e pernas.
Os Mianmin, um grupo que reside nas montanhas da Papua Nova Guiné, era conhecido pela prática de exocanibalismo, resultado de disputas com tribos vizinhas. Um antropólogo perguntou por que os Mianmin comiam a carne dos Atbalmins - uma tribo rival que vivia próximo dali - mortos durante os conflitos, a resposta foi que eles tinham "uma carne boa". Para os Mianmins, os Atbalmins faziam parte de seu "jogo".
O mondo documentario "Nova Guiné, Ilha dos Canibais", de 1975, trás uma cena semelhante ao endocanibalismo (No filme são demonstrados atos de exocanibalismo), onde uma mulher enlutada ingere larvas do cadáver do marido. A cena é bizarra e chocante (o próprio narrador afirma que membros da equipe de filmagens passaram mal),mas não passa de um sinal de respeito aos mortos. Evidente que ingerir larvas de um cadáver não é canibalismo, uma vez que as larvas são somente parasitas, não partes do cadáver. O documentário pode ser visto (completo) no link abaixo (Logo após o texto sobre exocanibalismo. Um aviso importante: Ele contém cenas pesadas de violência (principalmente com animais), sexo e mutilações explicitas, além de outras cenas não muito agradáveis para pessoas que se impressionam facilmente. Assista Nova Guiné, ilha dos canibais aqui.
Exocanibalismo.
Do outro lado do canibalismo aprendido, estão exocanibalismo, que é o canibalismo externo. Esse tipo de prática é o que mais tem a ver com a noção de canibal que a sociedade tem em mente. Essa prática ocorre quando o membro de um determinado grupo ingere um membro de outro grupo, geralmente rival. O exocanibalismo não tem nada a ver com ritos fúnebres, mas sim com humilhação, intimidação de outros grupos, demonstração de poder sobre o derrotado, o desejo de roubar a força vital e qualidades do inimigo ou simplesmente comer.
Quando se tenta obter as qualidades do inimigo, ocorre geralmente e ingestão de partes específicas, como o coração, cérebroou músculos dos braços e pernas.
Os Mianmin, um grupo que reside nas montanhas da Papua Nova Guiné, era conhecido pela prática de exocanibalismo, resultado de disputas com tribos vizinhas. Um antropólogo perguntou por que os Mianmin comiam a carne dos Atbalmins - uma tribo rival que vivia próximo dali - mortos durante os conflitos, a resposta foi que eles tinham "uma carne boa". Para os Mianmins, os Atbalmins faziam parte de seu "jogo".
Nativo Mianmin. |
O exocanibalismo também pode manter características místicas e religiosas semelhantes à do endocanibalismo. Os astecas,por exemplo, tinham o costume de sacrificar soldados inimigos capturados e comer suas carnes. Isso seria uma comunhão com os deuses, significando um beneficio para o devorador e o devorado. Segundo as crenças astecas, aquele que mantinha a coragem de seguir até o fim, lutando e se entregando para o banquete do inimigo, teria uma a entrada para a vida eterna garantida. O mesmo acontecia com quem ingeria seu inimigo.
Engana-se,porém, que acha que exocanibalismo é privilégio somente de tribos isoladas da civilização. Existem relatos de ele teria sido praticado em países como a China, onde os militares comiam publicamente a carne dos inimigos executados. Isso durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o mesmo período,um padre norte-americano alegou ter presenciado um nacionalista chinês comendo o coração de um comunista capturado. As culturas dos Iroques e da ilha Fiji (Oceania) ritualizavam atos similares de ódio canibalesco (conhecido como raiva de batalha, quando encontrados em um contexto de guerra). Em ambas as culturas os inimigos capturados estavam sujeitos à tortura, humilhação e morte, sendo partes de seus corpos consumidas. Em 2003, Rebeldes do Congo foram acusados pelas Nações Unidas de assassinarem e comerem pigmeus. Esses rebeldes também foram acusados de promoverem o autocanibalismo forçado, que veremos mais adiante.
Agora, como dito anteriormente, o documentário italiano Nova Guiné, Ilha dos Canibais (Nuova Guinea L’Isola de Cannibali):
As histórias sobre povos canibais na America eram contadas baseadas nos relatos de exploradores e missionários que conquistaram o novo mundo. Entretanto, o antropólogo William Arens gerou controversa em 1979, quando lançou seu livro, “The Man-Eating Myth” (O Mito do Canibalismo). William utilizou uma abordagem diferente do canibalismo usada por etnógrafos até aquele ponto. William Arens apontou que grande parte das evidências de canibalismo costumeiro na América não eram confiáveis. É provável que os exploradores, soldados, patrulheiros e missionários que tiveram contato como os nativos tenham mal interpretado alguns dos seus rituais funerários ou tenham usado de um sentimento de superioridade. No entanto, Arens enfatiza que em nenhum momento ele nega a existência do canibalismo costumeiro na America, o que ele deseja informar é que é mais provável que ele não tenha ocorrido da forma descrita pelos conquistadores e missionários. Ou seja: O canibalismo existiu, mas não com a freqüência assustadora como é descrita.
Arens nunca levantou questionamentos quanto ao canibalismo por sobrevivência ou a antropofagia patológica, pois desses existem documentos e relatos fidedignos que os comprovam. O seu ponto de vista foi somente quanto ao canibalismo costumeiro na America. Ele poderia ter sido, como já dito, uma mal interpretação de rituais fúnebres ou, algo mais plausível ainda, somente uma invenção usada como desculpa para se dominar os nativos. As confusões começam na origem do termo. Como já dito anteriormente, foi Colombo quem criou o termo canibal, inspirado na tribo caraíba, após o encontro com os pacíficos Arauaques. A questão é que Arauaques não era uma tribo, mas uma família de idiomas. Não é somente provável de que os caraíbas não praticavam o canibalismo, como também é provável que eles nunca tenham existido. Evidências arqueológicas encontradas no Caribe sugerem que havia somente um grupo cultural nas ilhas. Colombo usou como prova do canibalismo, presumidamente, a prática funeral de guardar ossos dos parentes mortos em casa. Ele provavelmente viu ossos e corações sendo cozidos e concluiu o pior.
Antropólogos que não concordam com William Arens afirmam que as chances de se encontrar um local antigo onde um caso isolado de canibalismo para sobrevivência tenha ocorrido são bastante improváveis, entretanto, isso não significa que ele nunca existiu. Seria semelhante a encontrar um exemplar de uma espécie de ave pré-histórica e presumir que ela é a única de sua espécie. É muito mais provável que os indícios de canibalismo encontrados em parques arqueológicos reforcem a ideia que ele foi difundido entre as sociedades mais primitivas da história.
Por exemplo, no caso do Donner Party, evidências do canibalismo por sobrevivências não podem ser checadas. Em 2006, arqueólogos escavaram sítios em Donner e nenhuma prova do canibalismo praticado pelos viajantes foi encontrada. Apenas evidências de ossos de animais esquartejados para o consumo. Isso significa que não ocorreu canibalismo? Claro que não. É provável que aqueles que consumiram a carne dos companheiros mortos não fizeram isso com tanto entusiasmo como quando devoraram animais, assim, não esquartejaram ou cozinharam os companheiros de forma a deixarem sinais. Esse caso, em especial, é revelador, nos mostrando a importância de uma prova concreta. Sem uma prova concreta do que ocorreu, só nos sobra a suposição.
Existem evidências de que os neandertais praticaram o canibalismo, aliás, essa pode ter sido a causa de seu desaparecimento. Outros locais apresentam provas da antropofagia. Arqueólogos procuram marcas de esquartejamento, fendas ou riscos nos ossos, feitos por objetos pontiagudos, usados para retirar a carne do osso. Marcas de esquartejamentos demonstram que foi um humano quem retirou a carne , uma vez que outros animais não fazem uso de ferramentas assim tão bem. O ato de escaldar é indicio de que um humano cozinhou outro humano. Marcas brilhantes surgem devido ao atrito dos ossos com as paredes internas da panela durante o cozimento. Juntas ou separadas, marcas de cozimento ou de esquartejamento sugerem canibalismo (sugerem, não provam).
Uma prova mais concreta, porém, são os vestígios de carne humana em fezes. Os músculos humanos contém uma proteína chamada mioglobina, que resiste ao cozimento e à ingestão. Se ela estiver presente nas fezes, houve canibalismo. Em 1994, cropólitos (fezes humanas fossilizadas) datados de 1150 D.C., foram encontrados em uma caverna do povo Anasazi, próximos à uma panela com vestígios de tecido humano, ossos com marcas de esquartejamento e ferramentas manchadas de sangue. Apesar de serem evidências muito fortes de um ato canibalesco, pesquisadores as trataram com cautela. Canibalismo é um assunto polêmico e acusar um povo de tê-lo cometido não é muito recomendável.
Afirmar que determinado povo pratica o canibalismo dá a ele uma imagem desumana e isso se tornou uma ferramenta poderosa para explorara povos nativos. Colombo descreveu os Caraíbas como “comedores subumanos de homens”. Ele enfatizou a “superioridade cultural européia”, animalizando os índios. No contexto da colonização, isso justificaria a matança e a possessão de terra e riquezas. Devemos lembra que nessa época, os europeus também praticavam o canibalismo como forma de tratamentos médicos e estéticos. Toda essa repulsa ao canibalismo não passava de hipocrisia.
Edmund Kemper, serial killer que atuou na Califórnia matando colegiais, comeu carne de pelo menos duas vítimas. Quando perguntado pelo motivo que o levou a fazer isso, Kemper afirmou que essa era a melhor forma de “possuí-las”. Desse modo, elas não o rejeitariam. Além da evidente humilhação de ser trato como “carne pura”. Os 4 membros do culto satanista conhecido como “Estripadores de Chicago”, ingeriam a carne dos seios de suas vítimas, após estuprá-las, violentá-las e matá-las. Nesse caso, apesar de haver um motivo ritualístico no crime, o canibalismo também é incluso na categoria de canibalismo patológico.
Albert Fish preferiu comer carne de crianças (ou de pelo menos uma) por pura curiosidade. Ele evoluiu de um molestador de crianças para serial killer, foi preso e executado na cadeira elétrica. Segundo ele, o “lombo” de Grace Budd, sua vítima de 12 anos de idade, era “doce e tenro”. Fish era masoquista e costumava introduzir agulhas entre o ânus e o saco escrotal.
Também foi a curiosidade misturada ao prazer sexual que levou o alemão Armin Mewies a devorar Bernd Brandes, em 2001. Esse caso será tratado mais adiante, quando tratarmos de antropofagia consentida.
O serial killer soviético Andrei Chikatilo, um dos mais prolíficos do mundo com pelo menos 52 assassinatos no currículo, gostava de ingerir genitálias, seios e testículos fervidos de suas vítimas. Seus crimes eram de natureza sexual, entretanto, Andrei sempre atribuiu o canibalismo a um trauma de infância. Quando era pequeno, a mãe de Andrei alegava que seu irmão mais velho havia sido seqüestrado por vizinhos e comido durante uma onda de fome. Não se sabe se a história é verídica, entretanto, esse relato com certeza teve efeitos negativos na vida de Andrei.
Existe pelo menos um caso de canibalismo patológico por vingança. Amargurado pelo assassinato de sua esposa por membros da tribo Crow, o caçador John Johnston promoveu uma vingança implacável nas Montanhas Rochosas do Colorado, matando e devorando o fígado de diversos membros da tribo. Os fígados eram ingeridos crus, e ainda com o calor do corpo das vítimas. Isso era um sinal de desprezo.
Não irei entrar em mais detalhes e citar mais exemplos de antropofagia patológica, pois desejo tratar disso no próximo post. Esse caso de canibalismo merece ser visto de modo separado. Aliás, eu poderia somente analisar esse tipo de canibalismo, uma vez que ele é o que mais tem a ver com o escopo do blog, mas nesse caso o post ficaria incompleto.
Um caso mais à parte é o autocanibalismo. Isso mesmo que você está pensando: O ato de ingerir a própria carne. O autocanibalismo se encaixa geralmente na antropofagia patológica e no canibalismo aprendido, sendo nesse último a colisão entre o endocanibalismo e o exocanibalismo. Alguns estudiosos consideram até mesmo o ato de roer as unhas como uma espécie de autocanibalismo, sendo assim, ele ocorre de forma mais frequente do que achamos. O autocanibalismo pode ser forçado ou não.
Um caso famoso de autocanibalismo forçado ocorreu em 1934, nos Estados Unidos, quando um negro de nome Claude Neal foi capturado e linchado por cerca de 2 mil sulistas brancos. Claude, 23 anos, foi preso por suspeitas no homicídio de Lola Cannidy, 20 anos de idade. Ele foi levado sob custódia e teria confessado o crime em 19 de outubro de 1934. Como o ódio da população do lado de fora só aumentava, o xerife W F Chambliss, do condado de Jackson, ordenou que Claude fosse tranferido para Chipley, Florida, junto com sua mãe e sua tia. Entretanto, por volta das 2 da manhã de 26 de outubro, Claude foi tirado da prisão de Brewton e levado a cerca de 200 milhas ao longo da Highway 231, onde foi torturado por cerca de 12 horas antes de ser morto. Neal teve seu pênis cortado e foi obrigado a comê-lo. Depois teve que comer seus testículos e um dedo. Algumas partes de seu corpo foram mutiladas e guardadas como troféus, sua pele foi arrancada e seu corpo queimado. Até hoje existem dúvidas sobre a culpa de Claude Neal no assassinato de Lola. Linchamentos eram comuns nos Estados Unidos até metade do século passado.
A condessa Elizabeth Báthory, a mais notória serial killer do sexo feminino, também obrigava suas vítimas a praticaram autocanibalismo após cozinharem partes mutiladas de seu corpo.
Um caso muito recente de autocanibalismo não forçado foi revelado em 2011, na Nova Zelândia. Um cidadão (apelidado de Sr. X), após semanas de depressão profunda, teria cortado, cozinhado e comido um de seus dedos. Ele havia planejado cortar mais dois dedos no dia seguinte, mas revelou que sentiu certo alívio, a depressão foi embora e ele não viu mais nenhum motivo para amputar outro dedo.
Como vimos, o canibalismo não é um assunto monolítico, sendo dividido em três grupos. Entretanto, podemos classificá-lo de três outras diferentes formas:
I. Canibalismo não consensual post-mortem.
Nesse caso, o canibalismo não é o motivo principal no assassinato, ou a pessoa ingerida morreu por causas naturais. Um exemplo desse tipo de antropofagia é a ingestão dos cadáveres de prisioneiros de guerra por seus captores, principalmente em tribos isoladas. O endocanibalismo presente em rituais fúnebres também se encaixa nessa categoria. Ou seja, a morte ocorre por outro motivo e o canibalismo é somente uma ação secundária.
De forma semelhante, durante o Renascimento e a época das grandes navegações, pedaços de órgãos e fetos humanos, assim como pílulas feitas de cinzas corporais ou múmias eram apreciados como medicamentos e tratamentos estéticos na Europa e na Ásia. Ainda hoje, tratamentos semelhantes podem ser encontrados na Ásia e na África, onde pedaços humanos são ingeridos para dar vitalidade e aumentar o libido.
Também se encaixa nesse tipo os casos de canibalismo por sobrevivência, como os já vistos anteriormente. Alguns criminosos sexuais não tinham o canibalismo como principal motivo do crime, mas experimentaram carne humana por curiosidade ou para vantagem própria. Alguns acabaram desenvolvendo o gosto pelo canibalismo e migraram para a categoria II do grupo. Exemplos de assassinos que tinham o canibalismo como motivo secundário: Fritz Haarmann, Andrei Chikatilo e Jeffrey Dahmer, que acabou se encaixando na segunda categoria após um tempo.
II. A antropofagia não consensual a partir do abate de um humano vivo.
Ao contrário do que acontece no primeiro grupo, nesse tipo de canibalismo a ingestão de carne humana é o motivo principal do assassinato, ou seja, se mata para comer a vítima. Obviamente, esse tipo de antropofagia é sempre precedido por homicídio e, em caso de canibalismo aprendido, ela se encaixa no exocanibalismo.
Representantes dessa categoria de canibalismo são os rituais punitivos, onde seres humanos são comidos. Em certas tribos, os guerreiros rivais capturados são assassinados e comidos diante de várias pessoas. Isso serve como humilhação e demonstração de poder. Um raro e terrível ritual punitivo era a ingestão de um ser humano ainda vivo. Os chefes de tribos das Ilhas Cooks acreditavam que incorporavam deuses nesses rituais, por isso, punia os adversários, que eram dessecados e comidos aos poucos, ainda conscientes. Os olhos geralmente eram comidos primeiro.
A família de Sawney Bean,durante o reinado de James I, na Escócia, sobreviveu por décadas de carne humana e pertences pessoas de suas vítimas. O clã de assassinos tem sua existência duramente questionada. Muitos historiadores acreditam que Sawney Bean foi a junção de várias histórias antigas envolvendo o canibalismo.
É principalmente nesse tipo de canibalismo que encontramos assassinos em série e criminosos sexuais cujo canibalismo era sua parafilia. Albert Fish, Sasha Spesivtsev, Edmund Kemper, Arthur Shawcross, Issei Sagawa, Jeffrey Dahmer e Joachim Kroll ilustram muito bem esse tipo de antropofagia. Alguns desses casos escabrosos serviram de inspiração para personagens do cinema,como o canibal Hannibal Lecter, de "O Silêncio dos Inocentes".
III. Consumo de carne humana com o consentimento da vítima.
Essa, sem sombra de dúvida, é a categoria mais incompreensível de canibalismo. Ocorre quando a vítima tem pleno conhecimento de que será devorada e concorda plenamente com isso. É um tipo mais raro, observado em casos de canibalismo por sobrevivência,como ocorreu no caso da "Tragédia dos Andes". Os astecas se ofereciam voluntariamente para rituais humanos envolvendo canibalismo. Na China antiga, filhos e filhas obedientes amputavam partes do corpo ou até mesmo retiravam seus órgãos para que seus pais doentes pudessem comê-los. Acreditava-se que erra era uma forma curativa. Tais rituais eram chamados Ko Ku e Kan Ko. O exemplo mais notório foi o da princesa Miao Chuang, que amputou suas duas mãos para que seu pai doente pudesse comê-las. Entretanto, um caso bem recente desse tipo de canibalismo foi ocorrido na Alemanha, no ano de 2001, quando Armin Meiwes, conhecido como "Carniceiro Mestre" (Der Metzgermeister), colocou um pedido na internet procurando por alguém que estivesse disposto à servir de banquete. Algumas pessoas responderam ao pedido, mas desistiram. Entretanto, um cidadão chamado Bernd Jurgen Brandes aceitou a proposta. Os dois se encontraram em março de 2001. Brandes teve o pênis amputado e os dois o comeram. Sangrando muito, Brandes acabou perdendo a consciência. Foi nesse momento que Armin o matou, esfaqueando-lhe o pescoço. Ele então cortou o corpo de Bernd e consumiu quilos de sua carne. Grande parte do processo foi filmada.
V. O medo de se tornar um objeto.
Ser tratado como um simples objeto é a forma mais torturante de abuso. As pessoas sempre estão em busca de empatia e de serem percebidas como uma entidade com emoções, necessidades, prioridades, desejos e preferências. O canibalismo reduz todos, tratando o ser humano em geral como carne pura. Muitos assassinos em série comem suas vítimas para humilhá-las, como Edmund Kemper, por exemplo. Alguns guardam restos de cadáveres como troféus. Os cozinheiros Islanders viam o ato de comer, digerir e defecar seus inimigos como o ápice da humilhação - Tendo ainda absolvido sua força viral no processo. VI. Argumento da natureza.
Outro argumento para fazer do canibalismo um tabu é de que ele não é algo natural. Segundo esse argumento, não é normal animais serem predadores de sua própria espécie. Entretanto, essa é uma alegação falsa, como lemos lá no início do post, visto que o canibalismo alcança grande parte do reino animal. O canibalismo na natureza pode ter diversos fins como controle de população (tipo de canibalismo frequentemente realizado por galinhas, sapos e salamandras), segurança alimentar e busca por proteínas quando estas estão em falta (como no caso de hipopótamos, ursos polares e escorpiões), evitar certas ameaças (como o canibalismo praticado por coelhos, camundongos, ratos e hamsters) e até mesmo por características da própria espécie (como o canibalismo sexual realizado pelas fêmeas da aranha viúva-negra e do louva-a-deus e o canibalismo das aranhas tarântulas). Seres humanos são parte da própria natureza. É totalmente natural ingerirmos carne de outros animais. Nossos atos e delitos são, por definição, naturais. A busca pelo controle da natureza é algo natural. Estabelecer hierarquias, subjugar e classificar nossos inimigos são tendências naturais. Abster-se do canibalismo quando a situação é propicia para a prática é, portanto, algo antinatural. VIII. Argumento do Progresso.
Um silogismo circular envolvendo uma tautologia: "O canibalismo é uma barbárie. Canibais são, portanto, bárbaros. O progresso implica na abolição dessa prática. Porém, há uma falácia nesse argumento. Afinal, o que tornaria o canibalismo simplesmente uma barbárie? Por que tal progresso é algo desejável?
VIII. Argumentos da Ética Religiosa
As grandes religiões monoteístas se silenciam quando se toca na questão do canibalismo. O sacrifício com humanos é denunciado inúmeras vezes no antigo testamento, ainda assim, para cristãos católicos e ortodoxos, existe a delicada e controversa questão da transubstanciação, como já citado acima. Se as hóstias se transformam verdadeiramente no corpo de cristo, conforme a crença, há aí um ato canibalesco. Seria um canibalismo simbólico? Fora isso, as religiões monoteístas, de forma geral, condenam o canibalismo. Talvez toda essa repulsa ao consumo de carne humana seja também motivado por nossas noções do que é considerado alimento ou não. Isso vem de berço. O sentimento de valorização da vida humana e a superioridade desta também podem ser fatores importantes. Na sociedade ocidental, o canibalismo é um tabu.
A vida imita a arte ou a arte imita a vida? Não tardou muito para o assunto canibalismo ir parar nas telas do cinema e na literatura. Em 1719, o inglês Daniel Defoe escreveu sua obra mais famosa, Robinson Crusoé. Nela, um náufrago passa quase trinta anos em uma ilha, onde se defronta com nativos e canibais. Robinson Crusoé se torna companheiro de um nativo, ao qual põe o apelido de sexta-feira. É provável que Robinson Crusoé tenha sido inspirado no caso de Alexander Selkirk, um náufrago escocês que viveu por oito anos em uma ilha do pacífico.
Durante a década de 70, o cinema italiano ganha um novo subgênero: os Cannibal movies. Filmes apelativos e de baixo orçamento mostravam exploradores perdidos no meio da mata e sendo vítimas de terríveis tribos canibais. O primeiro filme do gênero foi l Paese del Sesso Selvaggio, do diretor Umberto Lenzi. Na trama, um fotografo americano, John Bradley, vai até a Tailândia, onde deve tirar fotos da vida selvagem. Chegando ao país, John acaba assassinando um homem e foge do local da briga. Ele aluga um barco, que o leva até o meio da floresta. Seu jovem guia acaba morto e John é capturado por nativos da região. O fotografo tenta fugir diversas vezes, mas não obtêm sucesso. Ele se casa com Maraya, jovem filha do chefe local e acaba engravidando a moça.
As cenas de canibalismo são escassas e ficam por conta apenas dos kuru, uma tribo antropófaga rival. No final, quando finalmente tem a oportunidade de fugir, John acaba escolhendo ficar na aldeia.
Umberto Lenzi provavelmente se inspirou nos documentários mondo e seria seguido por outros cineastas, ganhando respeito entre os amantes de filmes exploitation. Em 1980, porém, um cineasta chamou a atenção com uma película considerada uma das mais cruéis e pesadas do cinema. Seu nome era Ruggero Deodato e seu filme era Cannibal Holocaust.
Cannibal Holocaust mostra a aventura de Harold Monroe, um antropólogo da Universidade de NY, que recebe a difícil missão de ir ao coração da floresta amazônica tentar resgatar quatro jovens cineastas. Acompanhado de Jacko e do jovem Miguel, Harold presencia rituais bizarros e batalhas travadas entre as tribos locais. Ele acaba descobrindo que os 4 jovens foram mortos e devorados. Os índios guardaram as latas com os negativos dos filmes por acreditarem que elas “traziam boa sorte”. Harold decide recuperar os filmes e convence o chefe da aldeia a trocar as latas por seu gravador. Ele é convidado para “jantar” um fígado humano e retorna para Nova York com o material de filmagem dos jovens.
Uma vez em Nova York, Harold decide descobrir o que aqueles rolos de filme traziam. As imagens exibidas mostram os quatro jovens praticando diversos tipos de barbaridade, desde incendiar ocas com pessoas dentro até ferir à bala índios indefesos. No final, Harld Monroe diz a frase: “Eu me pergunto quem são os verdadeiros canibais”.
Cannibal Holocaust causou polêmica na época. Primeiro pelo fato de nenhum dos quatro atores que fizeram cineastas no filme foram vistos novamente. Isso, somado aos efeitos realistas para a época, levou à justiça a prender Ruggero Deodato acusando-o de fazer um Snuff. Os quatro atores esclareceram que estavam vivos e tudo não passou de um mal entendido. A segunda polêmica, a que dura até hoje, foi a violência real e explicita com amimais. Um quati, uma tartaruga, uma serpente, uma cobra, um porco e dois macacos são mortos bem diante das câmeras. A cena da tartaruga é tida como a mais lenta e repugnante. Para a infelicidade dos protetores dos animais, cenas com mortes reais de bichos era algo um tanto “comum” no cinema de baixo orçamento da época. O próprio Deodato mostra um jacaré sendo aberto com uma faca em seu outro filme Last Cannibal World.
Também em 1980, outro italiano levou um canibal ao cinema. Antropophagus, de Joe D'Amato, slasher passado na Grécia, mostrou um grupo de turistas sendo devorado por um insano canibal. O filme, no geral, é tosco. A única cena que se destaca é quando o protagonista come o feto uma das turistas. O feto, na verdade, era um coelho sem pele.
No Brasil, o canibalismo é visto no filme “Como Era Gostoso o Meu Francês, de Nelson Pereira dos Santos. O filme é baseado nos relatos da antropofagia praticada por tupinambás durante a época da colonização. Assista "Como Era Gostoso o meu Francês".
Já em 1977, The Hills Have Eyes, (Quadrilha de Sádicos, no Brasil) traz para as telas o canibalismo patológico. Na trama, a família Carter se perde no deserto e se vê forçada a lutar contra um clã de canibais demente. O filme seria inspirado no caso de Sawney Bean , já citado acima. Antes, porém, em 1974, outro filme entraria para a história como um dos mais violentos. Seu personagem principal serviria de molde para muitos assassinos do cinema. Texas Chainsaw Massacre (O massacre da serra elétrica), contava a história de um grupo de amigos que acaba se tornando vítima de uma família de canibais. O filme foi vendido como biográfico na época, mas tudo não passou de uma jogada de marketing. Texas Chainsaw Massacre, na verdade, foi inspirado em Ed Gein, que nunca matou ninguém com uma serra elétrica.
Sacrifício canibal asteca. |
Engana-se,porém, que acha que exocanibalismo é privilégio somente de tribos isoladas da civilização. Existem relatos de ele teria sido praticado em países como a China, onde os militares comiam publicamente a carne dos inimigos executados. Isso durante a Segunda Guerra Mundial. Durante o mesmo período,um padre norte-americano alegou ter presenciado um nacionalista chinês comendo o coração de um comunista capturado. As culturas dos Iroques e da ilha Fiji (Oceania) ritualizavam atos similares de ódio canibalesco (conhecido como raiva de batalha, quando encontrados em um contexto de guerra). Em ambas as culturas os inimigos capturados estavam sujeitos à tortura, humilhação e morte, sendo partes de seus corpos consumidas. Em 2003, Rebeldes do Congo foram acusados pelas Nações Unidas de assassinarem e comerem pigmeus. Esses rebeldes também foram acusados de promoverem o autocanibalismo forçado, que veremos mais adiante.
Agora, como dito anteriormente, o documentário italiano Nova Guiné, Ilha dos Canibais (Nuova Guinea L’Isola de Cannibali):
O Canibalismo Costumeiro foi um mito?
As histórias sobre povos canibais na America eram contadas baseadas nos relatos de exploradores e missionários que conquistaram o novo mundo. Entretanto, o antropólogo William Arens gerou controversa em 1979, quando lançou seu livro, “The Man-Eating Myth” (O Mito do Canibalismo). William utilizou uma abordagem diferente do canibalismo usada por etnógrafos até aquele ponto. William Arens apontou que grande parte das evidências de canibalismo costumeiro na América não eram confiáveis. É provável que os exploradores, soldados, patrulheiros e missionários que tiveram contato como os nativos tenham mal interpretado alguns dos seus rituais funerários ou tenham usado de um sentimento de superioridade. No entanto, Arens enfatiza que em nenhum momento ele nega a existência do canibalismo costumeiro na America, o que ele deseja informar é que é mais provável que ele não tenha ocorrido da forma descrita pelos conquistadores e missionários. Ou seja: O canibalismo existiu, mas não com a freqüência assustadora como é descrita.
Arens nunca levantou questionamentos quanto ao canibalismo por sobrevivência ou a antropofagia patológica, pois desses existem documentos e relatos fidedignos que os comprovam. O seu ponto de vista foi somente quanto ao canibalismo costumeiro na America. Ele poderia ter sido, como já dito, uma mal interpretação de rituais fúnebres ou, algo mais plausível ainda, somente uma invenção usada como desculpa para se dominar os nativos. As confusões começam na origem do termo. Como já dito anteriormente, foi Colombo quem criou o termo canibal, inspirado na tribo caraíba, após o encontro com os pacíficos Arauaques. A questão é que Arauaques não era uma tribo, mas uma família de idiomas. Não é somente provável de que os caraíbas não praticavam o canibalismo, como também é provável que eles nunca tenham existido. Evidências arqueológicas encontradas no Caribe sugerem que havia somente um grupo cultural nas ilhas. Colombo usou como prova do canibalismo, presumidamente, a prática funeral de guardar ossos dos parentes mortos em casa. Ele provavelmente viu ossos e corações sendo cozidos e concluiu o pior.
Antropólogos que não concordam com William Arens afirmam que as chances de se encontrar um local antigo onde um caso isolado de canibalismo para sobrevivência tenha ocorrido são bastante improváveis, entretanto, isso não significa que ele nunca existiu. Seria semelhante a encontrar um exemplar de uma espécie de ave pré-histórica e presumir que ela é a única de sua espécie. É muito mais provável que os indícios de canibalismo encontrados em parques arqueológicos reforcem a ideia que ele foi difundido entre as sociedades mais primitivas da história.
Por exemplo, no caso do Donner Party, evidências do canibalismo por sobrevivências não podem ser checadas. Em 2006, arqueólogos escavaram sítios em Donner e nenhuma prova do canibalismo praticado pelos viajantes foi encontrada. Apenas evidências de ossos de animais esquartejados para o consumo. Isso significa que não ocorreu canibalismo? Claro que não. É provável que aqueles que consumiram a carne dos companheiros mortos não fizeram isso com tanto entusiasmo como quando devoraram animais, assim, não esquartejaram ou cozinharam os companheiros de forma a deixarem sinais. Esse caso, em especial, é revelador, nos mostrando a importância de uma prova concreta. Sem uma prova concreta do que ocorreu, só nos sobra a suposição.
Existem evidências de que os neandertais praticaram o canibalismo, aliás, essa pode ter sido a causa de seu desaparecimento. Outros locais apresentam provas da antropofagia. Arqueólogos procuram marcas de esquartejamento, fendas ou riscos nos ossos, feitos por objetos pontiagudos, usados para retirar a carne do osso. Marcas de esquartejamentos demonstram que foi um humano quem retirou a carne , uma vez que outros animais não fazem uso de ferramentas assim tão bem. O ato de escaldar é indicio de que um humano cozinhou outro humano. Marcas brilhantes surgem devido ao atrito dos ossos com as paredes internas da panela durante o cozimento. Juntas ou separadas, marcas de cozimento ou de esquartejamento sugerem canibalismo (sugerem, não provam).
Uma prova mais concreta, porém, são os vestígios de carne humana em fezes. Os músculos humanos contém uma proteína chamada mioglobina, que resiste ao cozimento e à ingestão. Se ela estiver presente nas fezes, houve canibalismo. Em 1994, cropólitos (fezes humanas fossilizadas) datados de 1150 D.C., foram encontrados em uma caverna do povo Anasazi, próximos à uma panela com vestígios de tecido humano, ossos com marcas de esquartejamento e ferramentas manchadas de sangue. Apesar de serem evidências muito fortes de um ato canibalesco, pesquisadores as trataram com cautela. Canibalismo é um assunto polêmico e acusar um povo de tê-lo cometido não é muito recomendável.
Mas por que mentir sobre o canibalismo?
Afirmar que determinado povo pratica o canibalismo dá a ele uma imagem desumana e isso se tornou uma ferramenta poderosa para explorara povos nativos. Colombo descreveu os Caraíbas como “comedores subumanos de homens”. Ele enfatizou a “superioridade cultural européia”, animalizando os índios. No contexto da colonização, isso justificaria a matança e a possessão de terra e riquezas. Devemos lembra que nessa época, os europeus também praticavam o canibalismo como forma de tratamentos médicos e estéticos. Toda essa repulsa ao canibalismo não passava de hipocrisia.
Gravura mostra o alemão Hans Staden presenciando uma cerimônia canibalesca praticada por tupinambás. |
Tomar à força as terras de canibais é como construir uma casa no campo, habitat natural de diversas espécies de animais. Quando um animal invade a casa, seu morador pode matá-lo alegando legítima defesa, embora seja o humano o invasor. Os europeus chegaram aos montes, tomando os “novos mundos” como seus lares, escravizando e matando os “canibais”. Culturas tidas como canibais enfrentaram massacres que quase as levaram a total extinção em lugares como a Austrália, América do Norte, ilhas do Pacífico e na África.
Um exemplo perfeito de que como o canibalismo poderia ser usado como pretexto para invasões foi o suposto martírio do Bispo Pero Sardinha e de sua comitiva de cerca de 90 pessoas em 1556. Sardinha foi vítima de um naufrágio na região de Olinda e acabou nas mãos de índios Caetés. Ele e seus companheiros teriam sido mortos e devorados pelos índios. Os relatos são de alegados sobreviventes, que conseguiram fugir. Essa é a versão ensinada na escola, entretanto, muitos historiadores a rejeitam. Não existe evidência de que os caetés praticavam antropofagia, portanto, acredita-se que os tupinambás mataram e comeram Sardinha e sua comitiva. Essa versão também é rebatida por outros historiadores, que afirma que Sardinha morreu afogado, após o naufrágio. A história do canibalismo teria sido inventada para a colônia ter um motivo para colonizar os “terríveis” índios.
Um exemplo perfeito de que como o canibalismo poderia ser usado como pretexto para invasões foi o suposto martírio do Bispo Pero Sardinha e de sua comitiva de cerca de 90 pessoas em 1556. Sardinha foi vítima de um naufrágio na região de Olinda e acabou nas mãos de índios Caetés. Ele e seus companheiros teriam sido mortos e devorados pelos índios. Os relatos são de alegados sobreviventes, que conseguiram fugir. Essa é a versão ensinada na escola, entretanto, muitos historiadores a rejeitam. Não existe evidência de que os caetés praticavam antropofagia, portanto, acredita-se que os tupinambás mataram e comeram Sardinha e sua comitiva. Essa versão também é rebatida por outros historiadores, que afirma que Sardinha morreu afogado, após o naufrágio. A história do canibalismo teria sido inventada para a colônia ter um motivo para colonizar os “terríveis” índios.
O martírio do Bispo Sardinha. |
Índios cortam o corpo de um inimigo para o banquete. |
O canibalismo gera um senso de exclusão, explicando por que uma cultura não é como outra cultura e não é evoluída. Os cidadãos romanos acreditavam que os irlandeses praticavam atos canibalescos. Mais recentemente, no século XVII, escoceses pagãos eram acusados de canibalismo pelos europeus cristãos. Usar o canibalismo como uma ferramenta de exclusão e discriminação é algo atual. Um caso recente ocorreu em 2001, quando fotografias de um homem asiático (possivelmente um taiwanês) ingerindo diversos fetos humanos circularam pela rede mundial de computadores. As fotografias vinham acompanhadas da legenda "uma nova iguaria asiática". Evidente que as fotos eram falsas. Elas faziam parte de uma exposição artística. Foram necessários vários anos para se esclarecer a história, aliás,ainda hoje existam pessoas que acham tratar-se de um fato. A foto do "comedor de feto" foi levada à sério por muitos ocidentais, que se sentiram ultrajados.
Fotografias do "comedor de fetos". As fotos correram o mundo e chocaram muita gente, entretanto, não passava de montagens. |
Ainda mais recente ocorreu durante a transmissão do programa Test Rabbits, um TV Show holandês. Em 21 de dezembro de 2011, dois apresentadores participaram de um quadro onde um comeria um fragmento da carne do outro. Os pedaços de carne foram retirados cirurgicamente do abdômen e das nádegas de Dennis Storm e Valerio Zeno. Tudo foi preparado por um chefe de cozinha ao vivo. Entretanto, após uma longa discussão e bastante controversa sobre o assunto, toda a história se mostrou falsa. Na verdade, o quadro bizarro serviu para alertar sobre a doação de órgãos. Você pode ler mais sobre o caso no site E-Farsas.
Dennis e Valerio com seus "pedaços de carne". |
A sociedade britânica é, provavelmente, tradicionalmente a mais preocupada com o canibalismo. Entretanto, a ideia de que o canibalismo é praticado por outros grupos culturais parece ser pancultural. Quando os espanhóis dominaram a América, os astecas acreditaram que eles seriam canibais. O mesmo pensamento tinham os negros africanos quando viam um negro ser “engordado” para servir de escravo. Os africanos pensavam que ele serviria de alimento.
O terceiro tipo de canibalismo é estudado por psiquiatras e psicólogos do mundo todo. É o tipo com o qual a sociedade ocidental está mais familiarizada, apesar de ser o mais repugnante e abominável de todos. A antropofagia patológica envolve homicídio, muitas vezes o homicídio sexual e é causada por transtornos mentais, transtornos de personalidade, sadismo, parafilias ou, acredite, pura curiosidade.
O canibalismo sexual é uma parafilia onde a pessoa sente-se sexualmente excitada com a ideia de devorar carne humana. Felizmente, essa parafilia é rara. Mais rara ainda, é a versão “passiva” dessa parafilia, a Vorarefilia, onde o individuo tem prazer sexual na ideia ou pensamento de ser comido vivo por outro humano ou até mesmo um animal.
A ingestão de carne humana por assassinos tem vários motivos diferentes, alguns assemelham-se aos rituais vistos no canibalismo costumeiro. Jeffrey Dahmer, por exemplo, quando perguntado pelo jornalista Stone Phillips o motivo da prática do canibalismo, ele afirmou que ingerir a carne de algumas vítimas fez com que parecesse que elas viveriam eternamente através dele, e isso deu prazer sexual.
Antropofagia Patológica.
O terceiro tipo de canibalismo é estudado por psiquiatras e psicólogos do mundo todo. É o tipo com o qual a sociedade ocidental está mais familiarizada, apesar de ser o mais repugnante e abominável de todos. A antropofagia patológica envolve homicídio, muitas vezes o homicídio sexual e é causada por transtornos mentais, transtornos de personalidade, sadismo, parafilias ou, acredite, pura curiosidade.
O canibalismo sexual é uma parafilia onde a pessoa sente-se sexualmente excitada com a ideia de devorar carne humana. Felizmente, essa parafilia é rara. Mais rara ainda, é a versão “passiva” dessa parafilia, a Vorarefilia, onde o individuo tem prazer sexual na ideia ou pensamento de ser comido vivo por outro humano ou até mesmo um animal.
A ingestão de carne humana por assassinos tem vários motivos diferentes, alguns assemelham-se aos rituais vistos no canibalismo costumeiro. Jeffrey Dahmer, por exemplo, quando perguntado pelo jornalista Stone Phillips o motivo da prática do canibalismo, ele afirmou que ingerir a carne de algumas vítimas fez com que parecesse que elas viveriam eternamente através dele, e isso deu prazer sexual.
Edmund Kemper, serial killer que atuou na Califórnia matando colegiais, comeu carne de pelo menos duas vítimas. Quando perguntado pelo motivo que o levou a fazer isso, Kemper afirmou que essa era a melhor forma de “possuí-las”. Desse modo, elas não o rejeitariam. Além da evidente humilhação de ser trato como “carne pura”. Os 4 membros do culto satanista conhecido como “Estripadores de Chicago”, ingeriam a carne dos seios de suas vítimas, após estuprá-las, violentá-las e matá-las. Nesse caso, apesar de haver um motivo ritualístico no crime, o canibalismo também é incluso na categoria de canibalismo patológico.
Albert Fish preferiu comer carne de crianças (ou de pelo menos uma) por pura curiosidade. Ele evoluiu de um molestador de crianças para serial killer, foi preso e executado na cadeira elétrica. Segundo ele, o “lombo” de Grace Budd, sua vítima de 12 anos de idade, era “doce e tenro”. Fish era masoquista e costumava introduzir agulhas entre o ânus e o saco escrotal.
Também foi a curiosidade misturada ao prazer sexual que levou o alemão Armin Mewies a devorar Bernd Brandes, em 2001. Esse caso será tratado mais adiante, quando tratarmos de antropofagia consentida.
O serial killer soviético Andrei Chikatilo, um dos mais prolíficos do mundo com pelo menos 52 assassinatos no currículo, gostava de ingerir genitálias, seios e testículos fervidos de suas vítimas. Seus crimes eram de natureza sexual, entretanto, Andrei sempre atribuiu o canibalismo a um trauma de infância. Quando era pequeno, a mãe de Andrei alegava que seu irmão mais velho havia sido seqüestrado por vizinhos e comido durante uma onda de fome. Não se sabe se a história é verídica, entretanto, esse relato com certeza teve efeitos negativos na vida de Andrei.
Existe pelo menos um caso de canibalismo patológico por vingança. Amargurado pelo assassinato de sua esposa por membros da tribo Crow, o caçador John Johnston promoveu uma vingança implacável nas Montanhas Rochosas do Colorado, matando e devorando o fígado de diversos membros da tribo. Os fígados eram ingeridos crus, e ainda com o calor do corpo das vítimas. Isso era um sinal de desprezo.
Não irei entrar em mais detalhes e citar mais exemplos de antropofagia patológica, pois desejo tratar disso no próximo post. Esse caso de canibalismo merece ser visto de modo separado. Aliás, eu poderia somente analisar esse tipo de canibalismo, uma vez que ele é o que mais tem a ver com o escopo do blog, mas nesse caso o post ficaria incompleto.
Um caso à parte: Autocanibalismo.
Um caso mais à parte é o autocanibalismo. Isso mesmo que você está pensando: O ato de ingerir a própria carne. O autocanibalismo se encaixa geralmente na antropofagia patológica e no canibalismo aprendido, sendo nesse último a colisão entre o endocanibalismo e o exocanibalismo. Alguns estudiosos consideram até mesmo o ato de roer as unhas como uma espécie de autocanibalismo, sendo assim, ele ocorre de forma mais frequente do que achamos. O autocanibalismo pode ser forçado ou não.
Um caso famoso de autocanibalismo forçado ocorreu em 1934, nos Estados Unidos, quando um negro de nome Claude Neal foi capturado e linchado por cerca de 2 mil sulistas brancos. Claude, 23 anos, foi preso por suspeitas no homicídio de Lola Cannidy, 20 anos de idade. Ele foi levado sob custódia e teria confessado o crime em 19 de outubro de 1934. Como o ódio da população do lado de fora só aumentava, o xerife W F Chambliss, do condado de Jackson, ordenou que Claude fosse tranferido para Chipley, Florida, junto com sua mãe e sua tia. Entretanto, por volta das 2 da manhã de 26 de outubro, Claude foi tirado da prisão de Brewton e levado a cerca de 200 milhas ao longo da Highway 231, onde foi torturado por cerca de 12 horas antes de ser morto. Neal teve seu pênis cortado e foi obrigado a comê-lo. Depois teve que comer seus testículos e um dedo. Algumas partes de seu corpo foram mutiladas e guardadas como troféus, sua pele foi arrancada e seu corpo queimado. Até hoje existem dúvidas sobre a culpa de Claude Neal no assassinato de Lola. Linchamentos eram comuns nos Estados Unidos até metade do século passado.
A condessa Elizabeth Báthory, a mais notória serial killer do sexo feminino, também obrigava suas vítimas a praticaram autocanibalismo após cozinharem partes mutiladas de seu corpo.
Um caso muito recente de autocanibalismo não forçado foi revelado em 2011, na Nova Zelândia. Um cidadão (apelidado de Sr. X), após semanas de depressão profunda, teria cortado, cozinhado e comido um de seus dedos. Ele havia planejado cortar mais dois dedos no dia seguinte, mas revelou que sentiu certo alívio, a depressão foi embora e ele não viu mais nenhum motivo para amputar outro dedo.
Canibalismo consensual ou não consensual.
Como vimos, o canibalismo não é um assunto monolítico, sendo dividido em três grupos. Entretanto, podemos classificá-lo de três outras diferentes formas:
I. Canibalismo não consensual post-mortem.
Nesse caso, o canibalismo não é o motivo principal no assassinato, ou a pessoa ingerida morreu por causas naturais. Um exemplo desse tipo de antropofagia é a ingestão dos cadáveres de prisioneiros de guerra por seus captores, principalmente em tribos isoladas. O endocanibalismo presente em rituais fúnebres também se encaixa nessa categoria. Ou seja, a morte ocorre por outro motivo e o canibalismo é somente uma ação secundária.
De forma semelhante, durante o Renascimento e a época das grandes navegações, pedaços de órgãos e fetos humanos, assim como pílulas feitas de cinzas corporais ou múmias eram apreciados como medicamentos e tratamentos estéticos na Europa e na Ásia. Ainda hoje, tratamentos semelhantes podem ser encontrados na Ásia e na África, onde pedaços humanos são ingeridos para dar vitalidade e aumentar o libido.
Também se encaixa nesse tipo os casos de canibalismo por sobrevivência, como os já vistos anteriormente. Alguns criminosos sexuais não tinham o canibalismo como principal motivo do crime, mas experimentaram carne humana por curiosidade ou para vantagem própria. Alguns acabaram desenvolvendo o gosto pelo canibalismo e migraram para a categoria II do grupo. Exemplos de assassinos que tinham o canibalismo como motivo secundário: Fritz Haarmann, Andrei Chikatilo e Jeffrey Dahmer, que acabou se encaixando na segunda categoria após um tempo.
II. A antropofagia não consensual a partir do abate de um humano vivo.
Ao contrário do que acontece no primeiro grupo, nesse tipo de canibalismo a ingestão de carne humana é o motivo principal do assassinato, ou seja, se mata para comer a vítima. Obviamente, esse tipo de antropofagia é sempre precedido por homicídio e, em caso de canibalismo aprendido, ela se encaixa no exocanibalismo.
Representantes dessa categoria de canibalismo são os rituais punitivos, onde seres humanos são comidos. Em certas tribos, os guerreiros rivais capturados são assassinados e comidos diante de várias pessoas. Isso serve como humilhação e demonstração de poder. Um raro e terrível ritual punitivo era a ingestão de um ser humano ainda vivo. Os chefes de tribos das Ilhas Cooks acreditavam que incorporavam deuses nesses rituais, por isso, punia os adversários, que eram dessecados e comidos aos poucos, ainda conscientes. Os olhos geralmente eram comidos primeiro.
A família de Sawney Bean,durante o reinado de James I, na Escócia, sobreviveu por décadas de carne humana e pertences pessoas de suas vítimas. O clã de assassinos tem sua existência duramente questionada. Muitos historiadores acreditam que Sawney Bean foi a junção de várias histórias antigas envolvendo o canibalismo.
O terrível clã de Sawney Bean. |
É principalmente nesse tipo de canibalismo que encontramos assassinos em série e criminosos sexuais cujo canibalismo era sua parafilia. Albert Fish, Sasha Spesivtsev, Edmund Kemper, Arthur Shawcross, Issei Sagawa, Jeffrey Dahmer e Joachim Kroll ilustram muito bem esse tipo de antropofagia. Alguns desses casos escabrosos serviram de inspiração para personagens do cinema,como o canibal Hannibal Lecter, de "O Silêncio dos Inocentes".
III. Consumo de carne humana com o consentimento da vítima.
Essa, sem sombra de dúvida, é a categoria mais incompreensível de canibalismo. Ocorre quando a vítima tem pleno conhecimento de que será devorada e concorda plenamente com isso. É um tipo mais raro, observado em casos de canibalismo por sobrevivência,como ocorreu no caso da "Tragédia dos Andes". Os astecas se ofereciam voluntariamente para rituais humanos envolvendo canibalismo. Na China antiga, filhos e filhas obedientes amputavam partes do corpo ou até mesmo retiravam seus órgãos para que seus pais doentes pudessem comê-los. Acreditava-se que erra era uma forma curativa. Tais rituais eram chamados Ko Ku e Kan Ko. O exemplo mais notório foi o da princesa Miao Chuang, que amputou suas duas mãos para que seu pai doente pudesse comê-las. Entretanto, um caso bem recente desse tipo de canibalismo foi ocorrido na Alemanha, no ano de 2001, quando Armin Meiwes, conhecido como "Carniceiro Mestre" (Der Metzgermeister), colocou um pedido na internet procurando por alguém que estivesse disposto à servir de banquete. Algumas pessoas responderam ao pedido, mas desistiram. Entretanto, um cidadão chamado Bernd Jurgen Brandes aceitou a proposta. Os dois se encontraram em março de 2001. Brandes teve o pênis amputado e os dois o comeram. Sangrando muito, Brandes acabou perdendo a consciência. Foi nesse momento que Armin o matou, esfaqueando-lhe o pescoço. Ele então cortou o corpo de Bernd e consumiu quilos de sua carne. Grande parte do processo foi filmada.
Armin Meiwes acabou condenado por homicídio doloso, embora sua culpa seja uma questão controversa. Meiwes já havia colocado outro anuncio procurando por outra vítimas, mas foi preso antes. |
Cena do vídeo gravado por Armin Meiwes. |
Bernd Brandes provavelmente sofria de vorarefilia. Meiwes foi preso, mas aí começaram as dificuldades no caso: Se o assassinato foi cometido com o total consentimento da vítima, haveria aí um crime? O canibalismo não consensual é precedido de um crime, entretanto, existem sérias dúvidas sobre o canibalismo consensual. Apesar de eticamente e esteticamente reprovável, como vimos anteriormente, o canibalismo por si só não é crime. Então seria Armin Meiwes inocente?
O canibalismo consensual é um desafio à medicina e à ética. Ele expõe que a repulsa pelo ato de comer carne humana não passa de um mero tabu. Por exemplo: É totalmente aceitável e até mesmo incentivada a doação de órgãos para se salvar vidas. Mas por que a idéia do canibalismo consensual para, por exemplo, amenizar o problema da fome onde os recursos são escassos nos causa tanta repulsa? Onde as pesquisas envolvendo células tronco de fetos abortados é moralmente superior ao canibalismo consensual?
Inúmeras e complexas questões éticas estão envoltas na prática do canibalismo consensual. Se o canibalismo voluntário é apenas uma forma de auto-destruição, por que tratá-lo de modo diferente ao pacto de suicídio? O caso de canibalismo consensual é diferente do abuso de drogas, pois nesse segundo há custos sociais, já no caso de um canibal e sua "comida" ninguém seria prejudicado, então por que o estado quer impedir que ele ocorra? Se temos liberdade de fazer o que queremos com nossos corpos, inclusive doar nossos órgãos para pesquisas científicas após a morte, por que não podemos nos prontificar a doar nossas carnes para matar a fome dos necessitados?
Vemos em todas as suas variantes o canibalismo como algo abominável. No entanto, toda essa repulsa é curiosa. As exigências onerosas de sobrevivência deveriam nos encorajar à prática do canibalismo em vez de torná-lo um tabu. Carne de gente é uma rica fonte de proteínas e tem gosto semelhante à carne de porco. Em muitas ocasiões na história, sociedades passadas precisaram fazer uso intensivo dos recursos de proteína. Se o canibalismo, em certas circunstâncias, aumenta as chances de sobrevivência, por que ele é tão abominado pela sociedade ocidental? Existem pelo menos oito argumentos para isso.
I. A santidade da vida humana.
Historicamente, o canibalismo é precedido, seguido, ou precipitou um ato de homicídio, tortura ou privação extrema. Habitualmente entrou em confronto com o principio da "Santidade da vida". Mesmo quando praticado por pura necessidade, o canibalismo tende a degradar e desvalorizar a vida humana, levando seus praticantes à uma situação anti-ética e contra valores morais.
II. O "Após a morte".
O corpo humano é considerado pela maioria das religiões e algumas vertentes filosóficas como sendo a moradia para a alma, a centelha divina que anima a todos nós. O vilipendio post-mortem desse "santuário" traria riscos e obstáculos para a travessia para a vida eterna, a imortalidade, as reencarnações e etc. Por razões semelhantes à essa, até nos dias de hoje, judeus ortodoxos se recusam a submeter sues mortos à necropsias ou colheitas para doações de órgãos. As já citadas tribos das ilhas Fiji e Cook comem seus inimigos para dificultar o acesso deles com a vida eterna. III. Lembranças repreensivas.
O canibalismo é também um lembrete assustador de nossas humildes origens animais. Na visão de um canibal, o ser humano não é superior nem melhor do que um boi ou uma ovelha. O canibalismo nos põe de frente com a irreversibilidade da morte e sua finalidade. Certamente, não nós é agradável pensar em nosso cadáver sendo mutilado, eviscerado, desmembrado, cozido,comido e nossos ossos espalhados, sendo lambidos e ruídos por outras pessoas. IV. Motivos médicos.
Em raras ocasiões,o canibalismo resulta em doenças no sistema nervoso causadas por príons,como o kuru. O tabu do canibalismo encontra um grande apoio em relatórios médicos sobre as conseqüências da ingestão de carne humana. A ingestão de cérebros humanos pôde ter sido a causada extinção dos Neandertais. A maior questão sobre isso é se não é a falta de conhecimento sobre as partes do corpo humano que causam esses malefícios?
O canibalismo consensual é um desafio à medicina e à ética. Ele expõe que a repulsa pelo ato de comer carne humana não passa de um mero tabu. Por exemplo: É totalmente aceitável e até mesmo incentivada a doação de órgãos para se salvar vidas. Mas por que a idéia do canibalismo consensual para, por exemplo, amenizar o problema da fome onde os recursos são escassos nos causa tanta repulsa? Onde as pesquisas envolvendo células tronco de fetos abortados é moralmente superior ao canibalismo consensual?
Inúmeras e complexas questões éticas estão envoltas na prática do canibalismo consensual. Se o canibalismo voluntário é apenas uma forma de auto-destruição, por que tratá-lo de modo diferente ao pacto de suicídio? O caso de canibalismo consensual é diferente do abuso de drogas, pois nesse segundo há custos sociais, já no caso de um canibal e sua "comida" ninguém seria prejudicado, então por que o estado quer impedir que ele ocorra? Se temos liberdade de fazer o que queremos com nossos corpos, inclusive doar nossos órgãos para pesquisas científicas após a morte, por que não podemos nos prontificar a doar nossas carnes para matar a fome dos necessitados?
Vemos em todas as suas variantes o canibalismo como algo abominável. No entanto, toda essa repulsa é curiosa. As exigências onerosas de sobrevivência deveriam nos encorajar à prática do canibalismo em vez de torná-lo um tabu. Carne de gente é uma rica fonte de proteínas e tem gosto semelhante à carne de porco. Em muitas ocasiões na história, sociedades passadas precisaram fazer uso intensivo dos recursos de proteína. Se o canibalismo, em certas circunstâncias, aumenta as chances de sobrevivência, por que ele é tão abominado pela sociedade ocidental? Existem pelo menos oito argumentos para isso.
Por que consideramos o canibalismo algo abominável?
I. A santidade da vida humana.
Historicamente, o canibalismo é precedido, seguido, ou precipitou um ato de homicídio, tortura ou privação extrema. Habitualmente entrou em confronto com o principio da "Santidade da vida". Mesmo quando praticado por pura necessidade, o canibalismo tende a degradar e desvalorizar a vida humana, levando seus praticantes à uma situação anti-ética e contra valores morais.
II. O "Após a morte".
O corpo humano é considerado pela maioria das religiões e algumas vertentes filosóficas como sendo a moradia para a alma, a centelha divina que anima a todos nós. O vilipendio post-mortem desse "santuário" traria riscos e obstáculos para a travessia para a vida eterna, a imortalidade, as reencarnações e etc. Por razões semelhantes à essa, até nos dias de hoje, judeus ortodoxos se recusam a submeter sues mortos à necropsias ou colheitas para doações de órgãos. As já citadas tribos das ilhas Fiji e Cook comem seus inimigos para dificultar o acesso deles com a vida eterna. III. Lembranças repreensivas.
O canibalismo é também um lembrete assustador de nossas humildes origens animais. Na visão de um canibal, o ser humano não é superior nem melhor do que um boi ou uma ovelha. O canibalismo nos põe de frente com a irreversibilidade da morte e sua finalidade. Certamente, não nós é agradável pensar em nosso cadáver sendo mutilado, eviscerado, desmembrado, cozido,comido e nossos ossos espalhados, sendo lambidos e ruídos por outras pessoas. IV. Motivos médicos.
Em raras ocasiões,o canibalismo resulta em doenças no sistema nervoso causadas por príons,como o kuru. O tabu do canibalismo encontra um grande apoio em relatórios médicos sobre as conseqüências da ingestão de carne humana. A ingestão de cérebros humanos pôde ter sido a causada extinção dos Neandertais. A maior questão sobre isso é se não é a falta de conhecimento sobre as partes do corpo humano que causam esses malefícios?
Vítimas de kuru na Papua Nova Guiné. |
V. O medo de se tornar um objeto.
Ser tratado como um simples objeto é a forma mais torturante de abuso. As pessoas sempre estão em busca de empatia e de serem percebidas como uma entidade com emoções, necessidades, prioridades, desejos e preferências. O canibalismo reduz todos, tratando o ser humano em geral como carne pura. Muitos assassinos em série comem suas vítimas para humilhá-las, como Edmund Kemper, por exemplo. Alguns guardam restos de cadáveres como troféus. Os cozinheiros Islanders viam o ato de comer, digerir e defecar seus inimigos como o ápice da humilhação - Tendo ainda absolvido sua força viral no processo. VI. Argumento da natureza.
Outro argumento para fazer do canibalismo um tabu é de que ele não é algo natural. Segundo esse argumento, não é normal animais serem predadores de sua própria espécie. Entretanto, essa é uma alegação falsa, como lemos lá no início do post, visto que o canibalismo alcança grande parte do reino animal. O canibalismo na natureza pode ter diversos fins como controle de população (tipo de canibalismo frequentemente realizado por galinhas, sapos e salamandras), segurança alimentar e busca por proteínas quando estas estão em falta (como no caso de hipopótamos, ursos polares e escorpiões), evitar certas ameaças (como o canibalismo praticado por coelhos, camundongos, ratos e hamsters) e até mesmo por características da própria espécie (como o canibalismo sexual realizado pelas fêmeas da aranha viúva-negra e do louva-a-deus e o canibalismo das aranhas tarântulas). Seres humanos são parte da própria natureza. É totalmente natural ingerirmos carne de outros animais. Nossos atos e delitos são, por definição, naturais. A busca pelo controle da natureza é algo natural. Estabelecer hierarquias, subjugar e classificar nossos inimigos são tendências naturais. Abster-se do canibalismo quando a situação é propicia para a prática é, portanto, algo antinatural. VIII. Argumento do Progresso.
Um silogismo circular envolvendo uma tautologia: "O canibalismo é uma barbárie. Canibais são, portanto, bárbaros. O progresso implica na abolição dessa prática. Porém, há uma falácia nesse argumento. Afinal, o que tornaria o canibalismo simplesmente uma barbárie? Por que tal progresso é algo desejável?
VIII. Argumentos da Ética Religiosa
As grandes religiões monoteístas se silenciam quando se toca na questão do canibalismo. O sacrifício com humanos é denunciado inúmeras vezes no antigo testamento, ainda assim, para cristãos católicos e ortodoxos, existe a delicada e controversa questão da transubstanciação, como já citado acima. Se as hóstias se transformam verdadeiramente no corpo de cristo, conforme a crença, há aí um ato canibalesco. Seria um canibalismo simbólico? Fora isso, as religiões monoteístas, de forma geral, condenam o canibalismo. Talvez toda essa repulsa ao consumo de carne humana seja também motivado por nossas noções do que é considerado alimento ou não. Isso vem de berço. O sentimento de valorização da vida humana e a superioridade desta também podem ser fatores importantes. Na sociedade ocidental, o canibalismo é um tabu.
O Canibalismo na cultura popular.
Durante a década de 70, o cinema italiano ganha um novo subgênero: os Cannibal movies. Filmes apelativos e de baixo orçamento mostravam exploradores perdidos no meio da mata e sendo vítimas de terríveis tribos canibais. O primeiro filme do gênero foi l Paese del Sesso Selvaggio, do diretor Umberto Lenzi. Na trama, um fotografo americano, John Bradley, vai até a Tailândia, onde deve tirar fotos da vida selvagem. Chegando ao país, John acaba assassinando um homem e foge do local da briga. Ele aluga um barco, que o leva até o meio da floresta. Seu jovem guia acaba morto e John é capturado por nativos da região. O fotografo tenta fugir diversas vezes, mas não obtêm sucesso. Ele se casa com Maraya, jovem filha do chefe local e acaba engravidando a moça.
Filmes italianos sobre o canibalismo aprendido. |
As cenas de canibalismo são escassas e ficam por conta apenas dos kuru, uma tribo antropófaga rival. No final, quando finalmente tem a oportunidade de fugir, John acaba escolhendo ficar na aldeia.
Umberto Lenzi provavelmente se inspirou nos documentários mondo e seria seguido por outros cineastas, ganhando respeito entre os amantes de filmes exploitation. Em 1980, porém, um cineasta chamou a atenção com uma película considerada uma das mais cruéis e pesadas do cinema. Seu nome era Ruggero Deodato e seu filme era Cannibal Holocaust.
Cannibal Holocaust mostra a aventura de Harold Monroe, um antropólogo da Universidade de NY, que recebe a difícil missão de ir ao coração da floresta amazônica tentar resgatar quatro jovens cineastas. Acompanhado de Jacko e do jovem Miguel, Harold presencia rituais bizarros e batalhas travadas entre as tribos locais. Ele acaba descobrindo que os 4 jovens foram mortos e devorados. Os índios guardaram as latas com os negativos dos filmes por acreditarem que elas “traziam boa sorte”. Harold decide recuperar os filmes e convence o chefe da aldeia a trocar as latas por seu gravador. Ele é convidado para “jantar” um fígado humano e retorna para Nova York com o material de filmagem dos jovens.
Uma vez em Nova York, Harold decide descobrir o que aqueles rolos de filme traziam. As imagens exibidas mostram os quatro jovens praticando diversos tipos de barbaridade, desde incendiar ocas com pessoas dentro até ferir à bala índios indefesos. No final, Harld Monroe diz a frase: “Eu me pergunto quem são os verdadeiros canibais”.
Cannibal Holocaust causou polêmica na época. Primeiro pelo fato de nenhum dos quatro atores que fizeram cineastas no filme foram vistos novamente. Isso, somado aos efeitos realistas para a época, levou à justiça a prender Ruggero Deodato acusando-o de fazer um Snuff. Os quatro atores esclareceram que estavam vivos e tudo não passou de um mal entendido. A segunda polêmica, a que dura até hoje, foi a violência real e explicita com amimais. Um quati, uma tartaruga, uma serpente, uma cobra, um porco e dois macacos são mortos bem diante das câmeras. A cena da tartaruga é tida como a mais lenta e repugnante. Para a infelicidade dos protetores dos animais, cenas com mortes reais de bichos era algo um tanto “comum” no cinema de baixo orçamento da época. O próprio Deodato mostra um jacaré sendo aberto com uma faca em seu outro filme Last Cannibal World.
Também em 1980, outro italiano levou um canibal ao cinema. Antropophagus, de Joe D'Amato, slasher passado na Grécia, mostrou um grupo de turistas sendo devorado por um insano canibal. O filme, no geral, é tosco. A única cena que se destaca é quando o protagonista come o feto uma das turistas. O feto, na verdade, era um coelho sem pele.
No Brasil, o canibalismo é visto no filme “Como Era Gostoso o Meu Francês, de Nelson Pereira dos Santos. O filme é baseado nos relatos da antropofagia praticada por tupinambás durante a época da colonização. Assista "Como Era Gostoso o meu Francês".
Já em 1977, The Hills Have Eyes, (Quadrilha de Sádicos, no Brasil) traz para as telas o canibalismo patológico. Na trama, a família Carter se perde no deserto e se vê forçada a lutar contra um clã de canibais demente. O filme seria inspirado no caso de Sawney Bean , já citado acima. Antes, porém, em 1974, outro filme entraria para a história como um dos mais violentos. Seu personagem principal serviria de molde para muitos assassinos do cinema. Texas Chainsaw Massacre (O massacre da serra elétrica), contava a história de um grupo de amigos que acaba se tornando vítima de uma família de canibais. O filme foi vendido como biográfico na época, mas tudo não passou de uma jogada de marketing. Texas Chainsaw Massacre, na verdade, foi inspirado em Ed Gein, que nunca matou ninguém com uma serra elétrica.
Leatherface, o "Cara de couro", personagem principal de Texas Chainsaw Massacre. |
Por sua violência crua e explicita (envolvendo inclusive um deficiente físico) Texas Chainsaw foi banido em alguns países, mas acabou ganhando uma legião de fãs e hoje é tido como Cult.
Só para ressaltar: O filme é fictício. Não houve nenhuma família de canibais no Texas (pelo menos, não que tenha inspirado o filme). Muitas vezes ainda encontro pessoas que acreditam que tudo aquilo mostrado nas telas aconteceu, o que é mentira. Texas Chainsaw Massacre acabou ganhando seguimento e remakes (o que, na minha humilde opinião, é algo inútil).
Mas os canibais da ficção não acabam por aí. Em 1986, chega aos cinemas Manhunter, um filme inspirado no livro de Thomas Harris, Dragão Vermelho. O filme marca a primeira aparição do psiquiatra/psicopata e canibal Hannibal Lecter (Brian Cox). O filme mostra os esforços de agentes do FBI na captura de um serial killer conhecido como “Fada do Dente”. Manhunter, no entanto, não agradou muito e hoje muita gente nem sabe que ele existe.
Em 1991, enquanto o canibal Jeffrey Dahmer fazia quase uma vítima por semana, chegou aos cinemas “O Silêncio dos Inocentes”, também baseado em um livro de Harris. Dessa vez, Hannibal, interpretado por Antony Hopkins, ficaria marcado para sempre e ganharia mais dois filmes só para ele: Hannibal, em 2001 e Hannibal Rising, de 2007, que conta a história do canibal desde sua juventude. Além de “Dragão Vermelho”, uma refilmagem de Manhunter.
“O Silêncio dos Inocentes” mostra os esforços do FBI na captura de um criminosos conhecido como Buffalo Bill. A agente do FBI Clarice Starling, interpretada por Jodie, recebe a missão de conversar com Hannibal Lecter, na tentativa de prender Bill. Bill sequestra a filha de uma senadora e com isso toda a policia é pressionada. A assinatura do assassino é um tanto estranha: deixar casulos nas gargantas das vítimas. Hannibal consegue fugir após um plano perfeito.
O Silêncio dos Inocentes é considerado um dos melhores filmes da década de 90, ganhando cinco categorias do Oscar. Em 2001, Clarice Starling volta às telas. Dessa vez na pele de Julianne Moore em Hannibal.
Só para ressaltar: O filme é fictício. Não houve nenhuma família de canibais no Texas (pelo menos, não que tenha inspirado o filme). Muitas vezes ainda encontro pessoas que acreditam que tudo aquilo mostrado nas telas aconteceu, o que é mentira. Texas Chainsaw Massacre acabou ganhando seguimento e remakes (o que, na minha humilde opinião, é algo inútil).
Mas os canibais da ficção não acabam por aí. Em 1986, chega aos cinemas Manhunter, um filme inspirado no livro de Thomas Harris, Dragão Vermelho. O filme marca a primeira aparição do psiquiatra/psicopata e canibal Hannibal Lecter (Brian Cox). O filme mostra os esforços de agentes do FBI na captura de um serial killer conhecido como “Fada do Dente”. Manhunter, no entanto, não agradou muito e hoje muita gente nem sabe que ele existe.
Em 1991, enquanto o canibal Jeffrey Dahmer fazia quase uma vítima por semana, chegou aos cinemas “O Silêncio dos Inocentes”, também baseado em um livro de Harris. Dessa vez, Hannibal, interpretado por Antony Hopkins, ficaria marcado para sempre e ganharia mais dois filmes só para ele: Hannibal, em 2001 e Hannibal Rising, de 2007, que conta a história do canibal desde sua juventude. Além de “Dragão Vermelho”, uma refilmagem de Manhunter.
“O Silêncio dos Inocentes” mostra os esforços do FBI na captura de um criminosos conhecido como Buffalo Bill. A agente do FBI Clarice Starling, interpretada por Jodie, recebe a missão de conversar com Hannibal Lecter, na tentativa de prender Bill. Bill sequestra a filha de uma senadora e com isso toda a policia é pressionada. A assinatura do assassino é um tanto estranha: deixar casulos nas gargantas das vítimas. Hannibal consegue fugir após um plano perfeito.
Anthony Hopkins no papeu de Hannibal Lecter, um psicopata canibal. |
O canibalismo nos causa arrepios, mas para algumas
sociedades ele é demonstração de amor ou valentia. Muitas vezes foi um passo
decisivo para a sobrevivência. Talvez ele tenha ocorrido em uma frequência menor
do que pensamos, mas casos como os de Armin Meiwes e de Jeffrey Dahmer nos
mostra que a antropofagia não é algo do passado, ocorrendo até mesmo nos dias
de hoje. O canibalismo não é crime, mas é um tabu. Sendo tabu, não há
necessidade de explicá-lo, é somente considerado imoral, proibido e pronto.
Possível imagem de canibalismo praticado na Tailândia. |
Chocante! Esclarecedor! Assustador!!!
ResponderExcluirAayla
Muito bom!
ResponderExcluirmaravilhoso. Você poderia explicar o que acontece em mentes criminosas não ? antes e depois de serem presos , o estudo sobre eles ... ou coisas do gênero seria magnifico ... e também os tratamentos em mentes psicóticas , como o do filme laranja mecânica se realmente a um modo ...
ResponderExcluirVou falar espero que seja produto da minha imaginacao. maisja. vi clone e pessoas iguais sera tomara. deus que so seja coisa da minha. cabeca mais parecia real. ja pensou eles produzirem clone e matarei a gente. para. comer e colocar outro igual no lugar deus se acontece isto mostre qseu poder e venha nos ajudar por isso. falo. essa. Vida temos que viver a lei de moises respeitando o amor. de cristo
ResponderExcluirvc é mt burro qpp
Excluire voce e outro burro seu lixo de gente
ExcluirParabéns cara...
Excluirme ajudou muito em um trabalho de escola :)
Que matéria simplesmente pefeita, adorei. Principalmente a parte que fala do Dahmer, haha.
ResponderExcluirChocante cara *o* , que isso ?
ResponderExcluirO texto é muito bom , Parabéns .
Sua forma de explicação é muito boa. Parabens!
ResponderExcluirBelissima forma de explanação do assunto. Acaso o autor seria canibal?rsrs. Parabens.
ResponderExcluirgugu do céu o que é isso !!!
ResponderExcluirSuper informativo o texto! Muito esclarecedor!!!
ResponderExcluirNo final tem "O canibalismo não é crime". Pode explicar melhor? Pois aqui, no Brasil, é sim.
ResponderExcluirDocumentário super interessante. Completíssimo ( apenas com ausência de vídeos ). Muito bem explicado!! Parabenizo a todos aos Q estudaram para fazerem esta magnífica matéria. Peço que não parem por ai, pois vcs são ótimos no Q fazem. Continuem a postar essas coisas. Aprendi muito com isso. Parabéns ... My name Coke
ResponderExcluirQueria provar uma perereca assada no fuba com molho ingles
ResponderExcluir