8 de fev. de 2012

Andrei Chikatilo: O Estripador de Rostov.


Em dezembro de 1978, por volta do natal, Yelena Zakotnova, carinhosamente chamada de Lenochka, 9, foi brutalmente assassinada em Rostov, URSS. Ela havia sido esfaqueada diversas vezes. A polícia tinha um suspeito: Alexander Kravchenko, 25 anos. Ele havia passado 8 anos na prisão e estava em liberdade condicional, após atacar sexualmente e assassinar  uma jovem de 17 anos, em 1970.


Ponte sobre o rio Grushezsky, onde o corpo de Yelena foi encontrado.

Svetlana Gurenkova foi até a polícia testemunhar. Ela afirmou ter visto um sujeito com mais ou menos 40 anos, de óculos de muitos graus e capote preto, oferecendo doces à Lena caso ela aceitasse acompanhá-lo. Lena, que aguardava em um ponto de ônibus, aceitou de imediato. Dois dias mais tarde, Lenochka boiava sem vida no rio Grushezsky.

Yelena Zakotnova.

O diretor da Escola Vocacional 32, em Novoshakhtinsk, foi tomado de uma estranha sensação, ao ver um dos retratos falados do assassino de Yelena. O desenho era igualzinho a um dos professores que lecionava na escola, Andrei Chikatilo. Ele havia chegado a cidade de Shakhty pouco tempo antes, era casado e tinha dois filhos. Chikatilo era graduado em artes liberais, literatura russa, engenharia, marxismo- leninismo.  Ninguém acreditaria que ele seria o assassino, pois ele era um bom pai de família e ativo no partido comunista. O diretor escolar decidiu procurara a polícia, porém os policiais o pediram para que mantivesse isso em sigilo.


No necrotério, o corpo de Yelena Zakotnova.

Próximo do rio Grushezsky, a polícia encontrou vestígios de sangue, nos degraus de um velho barracão localizado em uma viela. A luz interna também estava acesa. O dono da casa era Andrei Romanovich Chikatilo, ele foi chamado para depor imediatamente. A esposa de Chikatilo afirmou que ele passou todo tempo com ela, na residência do casal. Mesmo com todas as evidências que apontavam para a culpa de Chikatilo, a polícia deu pouca importância. Um ativista do partido comunista e pai de família não era capaz de cometer uma brabárie sem tamanho. A polícia concentrou sua atenção em Alexander Kravchenko.

Os policiais tinham pressa em solucionar o caso. Alexander Kravchenko assumiu a culpa na esperança de se livrar da pena de morte. Ele conseguiu ter sua pena comutada para a prisão perpétua, porém a família de Yelena recorreu da sentença e Alexander acabou fuzilado em 1983. O erro da polícia seria fatal.

Crimes em série.

Nos anos de 1981 a 1983, vários corpos de mulheres e crianças foram encontrados próximo à estações de trem e paradas de ônibus em  Rostov. As vítimas foram brutalmente esfaqueadas e algumas tiveram os olhos arrancados. A polícia não fez qualquer ligação entre os crimes. Como muitas vezes acontece, existe uma crença de que serial killers é coisa de americano. 



2 dos corpos encontrados em 1982 em matagais próximos à paradas de trem e ônibus.


Naquela época, não se aceitava de forma alguma a possibilidade da existência de um assassino em série em um país comunista. Mesmo com um perfil de vítima e assinaturas iguais. A primeira suspeita da polícia era de que os crimes tivessem motivações religiosas. As vítimas teriam sido usadas em rituais satânicos, o que explicaria o porquê dos olhos arrancados e das inúmeras facadas. Também havia suspeitas de tráfico de órgãos. Marginais, usuários de drogas e criminosos sexuais eram metodicamente investigados.

A polícia entra em ação.

O  número de corpos encontrados continuava a crescer.  Só no ano de 1984, 10 vítimas já haviam sido feitas. Os corpos, muitas vezes, eram conservados durante o inverno rigoroso, o que atrapalhou a investigação. Ainda com a crença de que Serial killers é coisa de país capitalista, a polícia passou a acreditar que havia mais de um assassino em ação. O fato dos corpos serem localizados em matagais próximos à estações ferroviárias e pontos de ônibus levou a muitos a acreditarem que o(s) assassino(s) faziam uso do transporte soviético na hora de “caçar sua vítimas”.

O major Mikhail Festisov foi designado para auxiliar nas investigações. Ele e sua “trupe” chegaram a conclusão de que os crimes tinham um só autor. Como grande partes dos crimes ocorreram em Rostov, principalmente em Shakhty, Mikhail montou um esquadrão alí, de mais de 200 homens. Para liderá-lo, foi designado o analista forense Victor Burakov. O caso ganhou o nome de Lesopolosa, ou “Os assassinatos do estripador da floresta.
Mikhail Festisov.

O esquadrão pesquisou, primeiramente, arquivos de hospitais psiquiátricos e manicômios judiciários, pois tinha-se a crença de que o criminoso em questão fosse um doente mentla. As pesquisas, porém, não surtiram efeito positivo, e nada foi encontrado. Os arquivos policiais também foram minuciosamente vasculhados, pois algum criminoso sexual em liberdade poderia está por trás dos crimes. Igualmente nada foi achado.

Victor Burakov.

Apesar das buscas soarem negativas, pessoas com antecedentes criminais e suspeitos tiveram seu sangue coletado. Amostras de esperma, coletadas nos corpos das vítimas, estabeleciam que o tipo sanguíneo do criminoso era AB.

Os investigadores agora paravam caminhoneiros e motoristas que trabalhavam na área dos crimes. Nada. O número de corpos continuava crescendo e a polícia demonstrava sinais de desespero. Victor Burakov decidiu então criar um perfil para o assassino. Muitos psiquiatras não aceitaram a proposta, porém o Dr. Aleksandr Bukhanovsky aceito em criar um perfil.
  • Sofria de distúrbios sexuais;
  •  Planejava seus crimes;
  • Tinha idade entre 25 e 50 anos;
  • Provavelmente sofreu de algum abuso sexual , brutalizava suas vítimas para compensar isso;
  • Calçava sapato número 41 ou maior;
  • Possuía um tipo sanguíneo comum;
  • Media, aproximadamente, 1,67 metro;
  • Sofria de fortes dores de cabeça;
  •  Não fumava;
  • Agia sozinho;
  • Era sádico e sentia-se deprimido até poder matar outra vez;
Aleksandr Bukhanovsky, com poucas informações, criou um pefil simplificado do assassino.
Não havia muitas informações, além do perfil, com as quais se pudesse trabalhar. O assassino não deixava muitas evidências. O partido comunista não deixava a polícia publicar informações e alertar aos moradores sobre o assassino. Milhares de boatos surgiram, como o de que um carro negro seqüestrava crianças em nome do governo. Investigadores e policiais foram espalhados por ruas e estações. Todo cidadão suspeito era vistoriado, mas nada se descobriu.

Policiais em estações.

Burakov decidiu por investigadores e policiais pelas paradas de ônibus e estações ferroviárias de Rostov, conseguindo pessoal extra para auxiliar nessa tarefa. A estação de ônibus de Rostov recebeu atenção especial, pois era o último local onde as ultimas duas vítimas recém encontradas estavam. Aleksandr Zanosovsky recebeu a responsabilidade de vigiar a estação.
No primeiro dia de vigilância, um homem aparentando meia-idade, usando óculos de grau, chamou a atenção de Zanosovsky. O senhor olhava de forma intensa para garotas. Ao abordá-lo, o homem apresentou-se como Andrei Romanov Chikatilo; Aparentava estar nervoso e alegou está em uma viagem de negócios. Chikatilo mostrou ao policial um cartão vermelho, indicando que ele era trabalhador autônomo de uma das divisões da KGB. Zanosovsky devolveu-lhe o cartão e desculpou-se pelo incomodo.

Aleksandr Zanosovsky em uma estação de trem. Ele foi um dos principais responsáveis em vigiar paradas de trens na caça ao estripador.

Alguns dias depois, Zanosovsky e seu parceiro de ronda estavam vistoriando a estação ferroviária, quando, novamente, avistaram Chikatilo. Os dois resolveram segui-lo à distância por algum tempo. A espreita durou horas. Chikatilo embarcava e desembarcava de vários ônibus e viajou por todo o distrito para novamente descer na estação ferroviária de Rostov. Durante seu estranho percurso, ele abordou várias mulheres, muitas vezes era rejeitado, mas não desistia delas. Parecia querer conversar com todas as mulheres que encontrava. Pareceu que Chikatilo conseguiu conversar com uma mulher por certo tempo, mas de repente, a mulher começou a gritar histérica. Zanosovsky abordou Chikatilo, que suava frio. Em sua bolsa, foram encontrados um pote de vaselina, uma faca e uma corda. Andrei foi preso por assédio sexual, condenado a 15 dias de detenção. Durante o tempo em que esteve preso, descobriu-se que Chikatilo havia furtado linóleo de bateria de um carro de uma fábrica do estado. Sua detenção foi estendida por meses. Os investigadores puderam analisar o passado de Andrei, e descobriram importantes informações sobre sua vida.

Andrei Romanov Chikatilo.

Andrei Chikatilo nasceu em Yablochnoye, na Republica Socialista Soviética da Ucrânia, em 16 de outubro de 1936. Desde cedo ele acreditava que, durante a segunda guerra, mais especificamente na década de 30, seu irmão Stephen havia sido seqüestrado e devorado por aldeões vizinhos. Mas não existiam registros de nascimento ou de morte de nenhum Stephan Chikatilo.

O pai de Andrei, Roman era soldado russo, que foi capturado como prisioneiro de guerra. Voltou para casa em 1949, tuberculoso e muito doente. Isso causou uma ruína familiar, pois Stalin havia decretado que a maior vergonha para um homem era se entregar ao inimigo. A captura de seu pai foi para Chikatilo motivo de chacota por parte dos colegas. Este fato causou-lhe uma angustia que o acompanhou por toda a vida. Provavelmente foi tentando esquecer o fato, que ele tornou-se ativo do partido comunista.

Andrei Romanov Chikatilo, aos 22 anos de idade.

Chikatilo era muito míope. Sofria de distúrbios sexuais desde sua adolescência, que o deixava periodicamente impotente. Ele sempre acreditou que sua miopia e impotência surgiram assim que ele nasceu. A enurese noturna também lhe era motivo para vergonha.
Foi, por todo o período escolar, um bom aluno. Devorador de livros. Porém era motivo de chacota, por seu jeito afeminado. Conseguiu pouquíssimas amizades e só admitiu que necessitava de óculos após os 20 anos.

Na adolescência, tornou-se um rapaz alto e um tanto imponente. Apesar de sua boa aparência, sua impotência o impedia de ter um bom relacionamento com garotas.  Aos 16 anos editava um jornal de escola e do escritório de informação política, o que lhe dava prestigio. Sua vida social foi cada vez mais enfraquecida, principalmente sua vida amorosa.

Em 1955, entrou na Universidade de Moscou, onde teve um desempenho exemplar. Graduou-se em artes, marxismo-leninismo, engenharia e literatura. Tornando-se em um excelente professor.

Mas Chikatilo casou-se em 1963, com Feodosiya, amiga de sua irmã. Teve dois filhos: Ludmila, nascida em 1965 e Yuri nascido em 1969. Devido à impotência, Chikatilo masturbava-se e inseria o esperma da vagina da mulher com os dedos. Esta técnica de inseminação artificial deu certo. Em 1973, Chikatilo perdeu a mãe, nesse período começou a molestar garotas.
Chikatilo sua esposa e sua filha Ludmila.



Chikatilo, em 1973, com seu filho Yuri, na época com 4 anos de idade.

Apesar de todo o seu conhecimento, Chikatilo não foi poupado de ridicularização enquanto lecionava em uma escola secundária, em 1970. Ele era tido como estranho, por causa do seu longo pescoço. Ganhou o apelido de ganso. Os alunos não o respeitavam: Fumavam na frente dele e interrompiam a aula para fazer chacotas. Até os outros professores zombavam dele. Com o passar dos anos, Andrei Chikatilo começou a molestar alunas, observando-as durante o banho e também no quarto. Andava sempre com uma faca em punho para um possivel incidente. Suas praticas de Voyeurismo e ataque sexual a uma aluna em um dormitório chegaram ao conhecimento da policia e ele foi forçado a se mudar para Shakhty, em  Rostov em 1974. Sua mulher o perdoou pelos ataques à estudantes.

Em 1978, um pouco antes do crime contra a menina Yelena, Chikatilo adquiriu o barracão próximo ao rio Grushezky.
Barracão comprado por Chikatilo. Policiais encontraram vestígios de sangue nas escadas na época em que Yelena foi assassinada, mas os policiais não o acusaram.

Policiais suspeitam de Chikatilo.

O fato de Chikatilo ter praticado Voyeurismo e atacado estudantes chamou a atenção de policiais chamou a atenção dos policiais. O caso de Yelena também foi lembrado. As amostras de DNA foram colhidas, e o resultado foi sangue do tipo A. A única evidencia que ligava Chikatilo aos crimes era o conteúdo da sua bolsa. Chikatilo foi condenado por roubo, cumprindo três meses de prisão e sendo solto ainda em 1984.


Mugshot de Chikatilo, preso pela primeira vez.


 Em dezembro, Chikatilo estava trabalhando em uma fábrica de locomotivas próximo a Novocherkassk. Seu serviço permitia que ele pudesse viajar com freqüência. Em agosto de 1985, uma jovem de 18 anos com problemas mentais foi assassinada com brutalidade e nas mesmas circunstancias dos crimes anteriores. O assassino voltara à ativa.

Corpo de Irina Luchinkskaya, de 24 anos, a 32ª vítima da série de crimes.

Novo perfil criminal do estripador.

Foi pedido para  Bukhanovsky que ele fizesse outro perfil do criminoso. A investigação facilitou uma análise mais detalhada e precisa:

O E.D. era alguém que tinha pleno controle sobre suas ações, narcisista e arrogante. Como muitos criminosos desse tipo, achava-se mais talentoso  do que realmente era e desmerecido por seus conhecidos. Segundo o psiquiatra, ele não era criativo, mas seguia um plano prévio de ação. Era heterossexual, sádico e necrofilo. Atingia as vítimas com uma pedra na cabeça, surpreendendo-as e evitando qualquer reação, iniciando então o processo de esfaqueá-las inúmeras vezes, que simbolicamente  significavam penetrações sexuais. Masturbava-se. Cegava suas vítimas por várias razões, entre elas impedir que sua imagem permanecesse em seus olhos, crença popular comum. Emasculava meninos para feminizá-los e desfiminava meninas para ter poder sobre elas. Arrancava órgãos sexuais e pubianos. Provavelmente guardava os órgãos extirpados, ou ingeria-os.

Outra hipótese foi levantada: o assassino teria uma estranha relação com o clima, pois antes da maioria dos o marcador do barômetro havia caído. A maioria dos crimes ocorreu em dias úteis, em especial às terças e quintas. A idade do criminoso deveria está entre 40 e 50 anos e ela parava de matar quando se sentia intimidado.

Para se entender a mente do criminoso, um infanticida molestador foi entrevistado pelos investigadores. Anatoly Slivko havia matado 7 meninos e jovens, entre 7 e 17 anos. Ele amarrava e enforcava as vítimas e estava preso em Novocherkassk. Na entrevista, Slivko deixou claro que sua personalidade sádica e pervertida estava ligada a impossibilidade de se ter uma vida sexual sadia e normal.

Vítimas de Anatoly Slivko

Slivko não forneceu muitas pistas diferentes das que o investigadores já tinham. Logo após a entrevista Anatoly Slivko foi fuzilado.

Issa Kostoyev entra no jogo.

Em 1986, o trabalho dos investigadores andava em passos de tartaruga. Haviam poucas evidências e nenhuma testemunha ocular. O caso foi entregue nas mãos de Issa Kostoyev. Kostoyev era diretor do departamento de crimes violentos de Moscou, ele reorganizou e analisou os trabalhos realizados pelas polícias de Shakhty, Rostov e Novoshakhtinsk. Issa decretou que todos os casos de crime sexual fossem revistos e cautelosamente analisados. O assassino intimidou-se nesse período, e os assassinatos cessaram. Em 1987, porém, o assassino voltou a matar. A vítima foi um menino de 13 anos, seu corpo foi encontrado em uma estação ferroviária de Revda, nos Urais. Em um outro ataque, em julho do mesmo ano, a brutalidade foi tanta que a lâmina da faca do agressor ficou presa dentro da vítima, sendo encontrada pela polícia.

Em 1990, a policia não tinha resolvido o caso e seus esforços se mostravam fracassados. Em janeiro do mesmo ano, nove pessoas haviam sido assassinadas pelo estripador. Agora o assassino vitimou, em sua maioria, meninos.  Corpo do jovem Vadim Tischenko foi encontrado próximo a estação de trem de Leskhoz, em Rostov. Um grande esquema de vigilância começou a ser formado, novamente, policiais a paisana, investigadores e iscas (policiais femininas vestidas com roupas extremamente provocantes) foram espalhados pelas estações ferroviárias e pontos de ônibus de Rostov-on-Don. Alguns policiais faziam uso de óculos especiais para visão noturna. Todos os passageiros que embarcavam era sistematicamente revistados. Começou , assim, a “Operação faixa da floresta”. Um mapa das atividades do assassino foi fornecido aos policiais e pode-se criar um perfil geográfico de suas atividades.


Investigadores investigam o mapa das cenas dos crimes próximo à malha ferroviária soviética. O assassino  buscava suas vítimas em paradas de ônibus e estações de trem.

Outro esquadrão foi designado a identificar quem vendeu a passagem de ônibus que fora encontrada próxima a um corpo de Vadim Tishchenko. Depois de algumas pesquisas, um funcionário da estação de Shakhty reconheceu o garoto. Ele contou a policia que um sujeito alto, bem vestido e de cabelos grisalhos viajou junto com o menino. O homem usava óculos com muitos graus. O atendente disse também que sua filha havia presenciado quando esse mesmo senhor tentou fazer com que um menino o acompanhasse, o menino desesperado, fugiu. A policia foi conversar com a filha do funcionário. Ele confirmou a história, e disse também que o mesmo homem sempre viajava em trens, e quase sempre descia acompanhado de um jovem ou moça.

A polícia começou a investiga intensivamente os relatórios anteriores, e descobriu algo que não deveria passar despercebido: Um relato do sargento Ribakov.

Manchas de sangue e ferimento na mão.

O sargento Igor Ribakov relatava que, certo dia, enquanto fazia plantão em uma estação ferroviária, reparou um homem andando pela plataforma de modo estranho. O sujeito suava em excesso. Ao se aproximar para uma analise, Ribakov reparou que o estranho tinha uma mancha de sangue na face e no lóbulo da orelha, além de um curativo em um dos dedos da mão. Igor pediu os documentos do sujeito: Era Andrei Romanov Chikatilo, engenheiro sênior de uma fábrica de locomotivas em Rostov. O policial ia fazer mais perguntas, mas o trem chegou bem na hora. Chikatilo disse que necessitava pegar esse trem, Igor, sem argumentos para detê-lo, liberou-o. Kostoyev, após tomar conhecimento disso, resolveu investigar todas as passagens desse tal Chikatilo. Ele sabia que teria que correr contra o tempo. Nesse meio tempo, outro cadáver, identificado como sendo de Alyosha Voronka, foi encontrado na cidade de Ilovaisk. Kostoyev logo descobriu que Chikatilo estivera na cidade quando Alyosha foi assassinada. O esquadrão decidiu montar um esquema de vigilância permanente para apanhar Chikatilo em flagrante.

Chikatilo é preso.

Em 10 de novembro de 1990, Andrei Chikatilo procurou um hospital para tirar raios-x, pois seu dedo doía muito. Ele descobriu seu dedo estava quebrado, como resultado de uma mordida.
Em 20 de novembro, Chikatilo decidiu sair para comprar uma cerveja. No caminho, Chikatilo abordou um garoto, mas a mãe deste veio e Chikatilo afastou-se. Mais a frente, Andrei abordou outro menino, mas também se afastou quando a mãe dele chegou. Foi nesse momento que três homens, vestindo jaquetas, aproximaram-se de Chikatilo e se apresentaram como policiais. Chikatilo foi levado preso para averiguações, no escritório de Mikhail Fetisov, principal chefe de todos os esquadrões inteirados no caso. Chikatilo afirmou que os policiais estavam cometendo um erro, e que ele já havia sido preso anos antes pelo mesmo motivo.

Mugshot de Chikatilo na sua segunda prisão.

Interrogatório.

Chikatilo negou todos os crimes dos quais foi acusado. Na pasta que carregava, os investigadores encontraram um pote de vaselina, uma corda e várias facas. Não foi difícil encontrar outras evidências. Uma busca na casa de Chikatilo revelou outras 29 facas, um machado e um sapato, que combinava com a pegada deixada próxima a um dos corpos. Mesmo assim Chikatilo continuava a negar. Os policiais o deixaram em prisão preventiva, e decidiram usar a tática do falso colega: Um preso que quer colaborar com a justiça ou um agente policial disfarçado é posto na mesma cela do preso do qual se que a confissão. O falso preso começa a contar sobre seu caso, reclamando da vida e da atuação da policia. O preso real, mas à vontade, acaba confessando seus crimes.

Chikatilo admitiu para o “companheiro de cela” que era impotente e que isso o fazia ter “fraquezas sexuais”, mas nada de mais revelador. Com pressa em se elucidar o caso, Victor Burakov resolveu usar outra tática para obter a confissão de Chikatilo. Era difícil pra polícia admitir que Chikatilo fosse o estripador de Rostov, que a tanto tempo, mais de 10 anos, brincava com a polícia russa.

Kostoyev tentou usar a velha história da doença mental, dizendo que, se Chikatilo confessasse os crimes ele seria diagnosticado como portador de doença mental, sendo livre da pena d morte e mandado para tratamento psiquiátrico. Nada de Chikatilo confessar. Kostoyev confrontou o suspeito com as provas circunstanciais, mesmo assim Andrei nada falou.
Victor Burakov decidiu então chamar  Bukhanovsky para conversar com Andrei, apesar de essa tática ser contestada,  Bukhanovsky aceitou e Kostoyev , sem alternativa, também foi a favor.

Bukhanosvsky entrou na sala onde Chikatilo estava. Ele leu todo o perfil que havia criado algum tempo antes. Chikatilo ficou impressionado com os detalhes, no fim, acabou admitindo: Esse sou eu. Ao sair da sala,  Bukhanovsky  disse: “ele está pronto para confessar”.

A policia tinha conhecimento de 36 crimes. Porém Chikatilo contou detalhes de 53, assumindo a autoria de todos. As vítimas eram 21 meninos, 14 meninas e 18 jovens mulheres. Ele se lembrava de todos os detalhes dos crimes, locais, datas e até a roupa que as vítimas usavam. Também descreveu seus métodos de assassinatos, como o sangue o excitava e como abordava as vítimas.

Modus Operandi de Chikatilo.

Chikatilo abordava mulheres elogiando-as por sua beleza e convidando-as para segui-lo ( ele nunca forçava ninguém a acompanhá-lo), com propostas de sexo por dinheiro. Às vezes passava o dia todo “caçando” suas vítimas, embarcando e desembarcando de trens e ônibus. A abordagem com crianças era diferente: Chikatilo oferecia doces para que as crianças o seguissem.


Mata fechada, nas imediações de estações e pontos de ônibus, era pra onde Chikatilo atraia suas vítimas.

Andrei Chikatilo levava suas vítimas a locais de mata fechada, geralmente nas cercanias de estações de trem ou paradas de ônibus. No mato, o cidadão pacato se transformava em um monstro, um verdadeiro “lobo enlouquecido” como ele mesmo se definia. Ele golpeava as vítimas com uma pedra, amarrava-as e arrancava a língua à dentadas, para que elas não gritassem.  Depois arrancava os olhos com uma faca, para que as vítimas não vissem sua performance sexual. Isso se tornou sua assinatura. Provocava ferimentos profundos nas vítimas ainda vivas, dando em média entre 40 e 50 facadas. Muitas vezes arrancava os órgãos sexuais das vítimas usando arma branca ou a boca. Desmembrava-as ainda vivas e desfiminava mulheres e emasculava meninos. Enchia a barriga das vítimas com terra, para depois destrinchá-las. Fervia e comia testículos e mamilos extirpados; arrancava também nariz e dedos. A maioria de suas vítimas estava viva quando foram mutiladas.

Corpo de uma vítima de Chikatilo, até hoje não identificado.

Vítima  de Chikatilo eviscerada. Chikatilo eviscerava as vítimas, arrancava seus olhos, tudo por sua "paz de espirito".

Outra vítima de Chikatilo, decapitada e sem as pernas.
Outra vítima estripada de Chikatilo.

Chikatilo dizia que ver o sangue lhe fazia ter orgasmos. Os gritos o sangue e a agonia o relaxavam e lhe davam prazer.

A primeira vítima de Chikatilo foi Yelena. Um homem foi fuzilado em seu lugar, e esse erro custou a vida de mais de várias pessoas. Larisa Tkachenko, 17 anos, foi a segunda vítima. Ele cabulava aula quando foi seduzida por Chikatilo. Os dois foram até um bosque, Chikatilo falhou em sua performance sexual e Larisa começou a rir. Com ódio, Chikatilo estrangulou-a, roeu a garganta os braços e os seios. Arrancou os mamilos com os dentes e empalou a jovem. Abandonou o corpo tranquilamente.

Corpo de Larisa Tkachenko, abandonado nu em um matagal.

Corpo de Larisa Tkachenko no necrotério.


Reconstituição.


Chikatilo foi levado para fazer reconstituições com um manequim, explicando todos os métodos para atacar, amarra, esfaquear e abusar de suas vítimas, mutilar e matar. As vítimas eram atacadas com tanta brutalidade, que autoridades do Uzbequistão, ao acharem o corpo de uma vítima em um trigal, acreditaram que a mesma tinha sido atropelada por uma colheitadeira. Em alguns casos, acreditou-se que os corpos eram femininos, mas depois descobriu-se que eram meninos emasculados.



Chikatilo reconstitue os crimes fazendo uso de um manequim.



Chikatilo no instituto Serbsky.

Em 1991, Andrei Chikatilo foi enviado ao Instituto Serbsky, em Moscou, para uma avaliação neurológica e psiquiátrica. Foram constatados danos cerebrais graves que interferiam no controle urinário e na ejaculação. Apesar disso, o psiquiatra Andrei Tkachenko o considerou mentalmente são, em 18 de outubro, seis dias que Chikatilo ser enviado para Serbsky.
Muito desse laudo pode ser considerado controverso. Talvez sob a pressão e a repercussão da brutalidade dos crimes, Andrei tenha sido pressionado.  Os motivos que levaram Chikatilo à cometer crimes brutais eram todos sexuais. Ele estava como que “indignado” com a impossibilidade de ter uma vida sexual normal. Ele só conseguia ereção vendo o sangue das vítimas.

Julgamento.

O julgamento de Andrei Chikatilo começou em 14 de abril de 1992. Chamou a atenção de todo o país. Estando presentes parentes das vítimas e a imprensa. Chikatilo foi mantido em uma jaula de metais para segurança própria, e apareceu com os cabelos raspados. Nas prisões os presos têm a cabeça raspada para evitar a proliferação de piolhos. Em um momento, um parente de Lyudmila Alekseyeva, vítima de Chikatilo, acertou-o na cabeça com um objeto. A policia tentou prender o sujeito, mas os parentes das outras vítimas intervieram, e começou uma intensa confusão no tribunal. Os detalhes de cada assassinato foram discutidos, o que levou a muitos parentes das vítimas a chorarem.
Chikatilo é posto dentro de uma jaula no meio do tribunal. Essa era uma técnica para proteger sua vida de linchamento.

Andrei Chikatilo era defendido por Marat Khabibulin. Khabibulin tentou trazer psiquiatras como testemunhas de defesa, alegando assim a insanidade do réu, mas o pedido foi negado. Os únicos psiquiatras eram os da promotoria. Em várias ocasiões o juiz Leonid Akubzhanov ridicularizou Chikatilo, que em dado momento, desabafou perguntando se o juiz era um juiz ou um coveiro. Chikatilo interrompeu o julgamento diversas vezes dançando, pulando, gritando ou se exibindo. Chikatilo tirou a confissão de seis de seus assassinatos.

Foi concedido o direito de falar a Chikatilo. Ele narrou seus crimes e sua vida com detalhes. Muito de sua natureza psicótica foi exposto. Houveram gritos, choros e desmaios por todo tribunal. Chikatilo definiu a si mesmo como uma alma atormentada e enlouquecida pelo fato de ser impotente. Ele chegou à mostra a genitália, à qual se referiu como “coisinha inútil”.

A defesa de Chikatilo acusou os testes psiquiátricos de falha e afirmou que Chikatilo havia confessado os crimes sob tortura e coesão, mas nada adiantou. O mais provável aconteceu. Em 15 de outubro de 1992, o juiz leu a sentença: Chikatilo era culpado de todos os 52 crimes, sendo condenado à morte por fuzilamento. O corpo de Laura Sarkisyan, 15 anos, outra vítima de Chikatilo, nunca foi encontrado, e Chikatilo foi absolvido desse crime.


Chikatilo abaixou as calças e disse:" Olhe para esta coisa inútil. O que você pensa que eu poderia fazer com isso?... Não sou homossexual... Tenho leite em meus peitos; eu vou dar a luz!"

Ao ouvir a sentença, Chikatilo surtou e acusou o juiz de trapaça. Disse também: “Quero que meu cérebro seja desmontado pedaço por pedaço e examinado, para que não haja outros como eu”.

O advogado de defesa de Chikatilo tentou entrou com um recurso para reabrir o caso, alegando que as análises psiquiátricas foram falhas, ele queria uma analise mais profunda para que Chikatilo não fosse morto sendo insano, mas o pedido foi negado em 1993.
Em 4 de janeiro de 1994, O presidente Boris Nikolayevich Yeltsin rejeitou o pedido de clemência para Chikatilo. Em 14 de fevereiro de 1994, Chikatilo deixou sua cela, na prisão de Novocherkassk e foi levado até uma sala à prova de som. Chikatilo foi executado com um único tiro na cabeça. A vida do Estripador de Rostov acabava ali.

Depois de todo o caso, muitos parentes de Andrei retiraram o nome Chikatilo se suas identidades. Seu filho Yuri foi condenado, em 1996, por extorsão e em 1998 por roubo, sendo liberado em 2004. Ele virou dono de uma empresa de engenharia. Eles nunca acreditaram, na época, que Andrei fosse o assassino. Tanto Yuri quanto Ludmila foram diagnosticados como portadores de esquizofrenia.

Talvez o caso de Chikatilo seja o mais ilustrativo, de que os interesses pessoais e a ideologia de um país não devem interferir nos trabalhos policiais. Se desde o inicio os crimes fossem associados, muitas vidas teriam sido poupadas. Chikatilo é, hoje, considerado um dos mais prolíficos assassinos em série do mundo. Seus crimes viraram filmes: Cidadão X, 1995 e Evil enko, 2004. O livro 44 Child também é inspirado no caso.


Cartaz do filme "Elvil Enko" com Malcom McDowell, baseado na história de Chikatilo.

Cena do filme cidadão X.


Um comentário:

  1. Esse monstro deveria ter ficado preso para o resto da vida.Filho de uma égua.

    ResponderExcluir